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Projeto de construção de torres no Flamengo mobiliza moradores do bairro

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Os moradores do Flamengo, na Zona Sul, poderão ter de engolir um projeto megalômano capaz de causar sérios impactos ambientais ao bairro. Sem que houvesse nenhuma consulta popular, a secretaria municipal de Urbanismo e Infraestrutura aprovou, tão logo foi comprado pela Sig Engenharia em leilão, realizado em janeiro de 2017, um terreno em “L” com 5.900 metros quadrados, localizado entre as ruas Machado de Assis e Dois de Dezembro,  Com os R$ 77 milhões arrecadados, o estado pretendia quitar suas dívidas com os servidores públicos. A área é vizinha ao já saturado Largo do Machado. O projeto, conforme os moradores, prevê a construção de seis blocos de 21 andares, com 487 apartamentos residenciais e 70 lojas comerciais. 

A extensa área, capaz de abrigar cinco piscinas olímpicas, reúne dois terrenos. O maior trecho, em frente à Machado de Assis, era a antiga garagem de bondes, onde funcionava a usina de carvão para alimentar a então futura extensão para a Zona Sul. O uso do espaço foi sucedido pelas garagens da Companhia de Transportes Coletivos (CTC) e da Companhia de Desenvolvimento Rodoviário e Terminais (Coderte). Depois passou aos domínios do Metrô, quando virou um terreno baldio. A área foi ocupada por casebres, demolidos antes que saísse a licença para este fim, em 30 de janeiro de 2017, como informa o engenheiro Rubens Cieslak, antigo morador da Machado de Assis. “Não somos contra os prédios, mas contra a altura deles e ao adensamento. Criamos uma comissão técnica de engenheiros para acompanhamento, porque não houve nenhuma transparência nessa história toda”, denuncia Cieslak.  

A situação do terreno da Dois de Dezembro, ocupado por um cortiço, também era confusa, envolvendo um advogado que teria adquirido a área por uso capião após pagamento das dívidas de IPTU e desaparecido. O corretor Eduardo Tiago, que perderia a vista de sua janela para o Pão de Açúcar se a obra for adiante, tenta mobilizar os moradores contra a iniciativa. “Minha rua tem um sério problema com esgoto, quando chove os bueiros transbordam, apesar das duas obras já feitas pela Cedae, Também sofremos com o abastecimento de água precário e, além disso, as torres vão cortar toda a circulação de ar”, argumenta.

Apesar de fazer fronteira com a sede tombada do Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB), o diretor do Instituto Estadual do Patrimônio Cultural (Inepac), Marcus Monteiro, disse que a aprovação do projeto pelo órgão foi anterior à sua gestão. “O impacto foi reduzido com um afastamento entre o projeto e a IAB”, resumiu, e atribuiu autorização final à prefeitura. A secretaria municipal de Urbanismo e Infraestrutura, por sua vez, informou que o projeto atende a legislação municipal, “não havendo impedimentos para o licenciamento”. O projeto aprovado, entretanto, seria diferente do previsto pelos moradores: envolveria dois blocos, um com 16 pavimentos e outro com 14, e 12 unidades por andar, além de um pavimento de lojas e outros dois subterrâneos de garagem. 

 Já o trecho de frente para a Dois de Dezembro é colado à sede da Oi Futuro Flamengo, que também estaria pleiteando tombamento para se preservar, porém a empresa não quis se manifestar, A Sig Engenharia informou que será providenciada pelos empreendedores toda infraestrutura necessária, Alegou que se o prédio fosse mais baixo, teria que ocupar mais área de terreno e minimizou a altura das torres: “afinal, cidades com os melhores IDHs do mundo têm seus arranha-céus.” 

O arquiteto e urbanista Adir Ben Kaus estranha a forma como o Estado e o município lidam com um bem público: “Um projeto com essas dimensões deveria ser acompanhado por uma audiência pública”, defende.