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Professora radicada na Inglaterra cria curso de inglês gratuito no Alemão

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Radicada há cinco anos na Inglaterra, a professora e jornalista Claudia Bellizzi nunca esteve distante da realidade brasileira. Acompanha diariamente as notícias do Brasil e dedica especial atenção aos problemas sociais que afligem o País. Um documentário da rede BBC sobre a indústria do turismo no Rio de Janeiro, exibido durante as Olimpíadas de 2016, despertou seu desejo de desenvolver um projeto social na área de educação. 

O programa atestava que muitos jovens dessas comunidades não têm a chance de pleitear algumas ofertas de emprego por não terem domínio da língua inglesa. A situação retratada no documentário mexeu diretamente com ela, jornalista com mestrado em Educação pela Universidade de Chichester, na Inglaterra. Naquele momento, Claudia - que mora em Liverpool - decidiu que cri aria um curso de inglês com aulas gratuitas para moradores dessas comunidades.

Assim nasceu o projeto The English Club – Curso de Inglês Gratuito no Alemão que será lançado oficialmente dia 20 de fevereiro, no Morro do Alemão, na zona norte do Rio de Janeiro, data em que começam as aulas do semestre. A empreitada abraçada por Claudia Bellizzi tem como objetivo ajudar a reduzir a desigualdade social que atinge essas pessoas e abrir portas no mercado de trabalho no Brasil e no Exterior. Inicialmente serão apenas três turmas: duas para crianças de 5 a 10 anos e outra para adultos. As crianças terão uma aula por semana de 60 minutos, enquanto os adultos terão 90 minutos de aula semanal. O curso do primeiro semestre será ministrado de fevereiro a julho, período em que Claudia também avaliará os primeiros resultados do projeto. A intenção da professora é, além de abrir novas possibilidades para essas pessoas, mostrar que iniciativas como estas podem contribuir para mudar a história de vida dos moradores dessas comunidades.

Todos os custos do curso serão arcados por Claudia Bellizzi nesta primeira etapa do projeto. O material didático é todo importado, a maior parte foi comprada na Inglaterra, e o restante no Rio de Janeiro, numa livraria especializada em livros didáticos de línguas estrangeiras. Os alunos terão os livros disponíveis no curso. O material será usado em sala de aula com a orientação da professora, além de outros ítens de apoio.

Claudia Bellizzi limitou, neste primeiro momento, o curso a três turmas porque os recursos que dispunha, todos oriundos de suas economias, não permitiam um grande aporte para que o curso pudesse abranger um número maior de crianças e adultos. Sua intenção futuramente é conquistar parcerias na iniciativa privada para dar continuidade ao projeto de maneira mais ampla. O primeiro semestre contará apenas com uma professora. Todas as pessoas envolvidas na iniciativa são moradores do Alemão ou tem contato direto com a comunidade através de algum projeto social.

É Claudia Bellizzi quem fala sobre sua proposta. “Desde que me mudei para a Inglaterra, passei a ter uma visão ainda mais crítica sobre os problemas sociais do Brasil. A vontade de contribuir de alguma maneira, mesmo de longe, era grande”, diz. “Fiquei triste ao ver naquele documentário quantas pessoas perdiam oportunidades de crescer profissionalmente por não serem fluentes em inglês. Ao ver aquelas imagens pensei na hora: é isso que quero fazer! Vou dar um jeito de oferecer aulas de inglês gratuitas e de qualidade para os moradores de alguma comunidade”. 

A escolha do Alemão para ser o ponto de partida do curso aconteceu naturalmente depois que Cláudia começou a seguir o ativista Renê Silva nas redes sociais. Através dos posts de Renê, a professora começou a acompanhar o trabalho feito por ele na Ong A Voz das Comunidades e começou a conviver, mesmo que à distância, com o cotidiano violento daquela comunidade. “Eu me sensibilizava com as dificuldades vivida por eles, ficava feliz com cada conquista. Na hora de me decidir por uma comunidade para receber o projeto, o Alemão foi uma escolha natural”, explica. 

Claudia Bellizzi conta que o contato com Renê Silva foi a porta de entrada para que ela conhecesse outros moradores também engajados em causas sociais do Alemão. Muitos desses ativistas se identificaram com a proposta e estão apoiando o projeto. Alguns, inclusive, se ofereceram para fazer trabalho voluntário. A professora explica que o curso para adultos será focado em aulas de conversação. A língua inglesa será trabalhada nos contextos em que ela realmente é utilizada pelas pessoas em lojas, restaurantes, trabalho ou em ambientes sociais. Será usado material variado como vídeos curtos, textos, áudios, música, internet, além de exercícios tradicionais de gramática. 

As aulas com as crianças terão um viés mais lúdico. De acordo com Claudia Bellizzi, pesquisas recentes mostram que os alunos nessa faixa etária – entre 5 a 10 anos - aprendem melhor quando estão se divertindo. A metodologia incluirá jogos e brincadeiras educativas e atividades de sensibilização aos sons da língua inglesa. “No primeiro dia de aula as crianças vão receber um estojo com lápis, canetas, borracha, régua e apontador e também um caderno de exercícios.  Em sala de aula, a professora vai utilizar livros ilustrados, todos importados, e concebidos especialmente para o ensino de crianças. Ao longo do semestre acontecerão atividades especiais, como aulas culturais, ocasião em que os alunos irão aprender sobre tradições de países da língua inglesa, adianta.

A escolha da estudante Nathália Nascimento, que cursa Letras na UFRJ, para ser a professora do curso foi feita dentro do conceito que norteou o projeto desde o início: dar vez a pessoas que tenham laços com a comunidade. “A Nathalia tem raízes na comunidade, tem enorme carinho pelo Alemão”.

A capacitação de Nathália para seguir o conceito pedagógico do curso idealizado por Cláudia Bellizzi está sendo feita semanalmente através de aulas por Skype. “Cada reunião é remunerada e discutimos assuntos relacionados à metodologia de ensino e ao material a ser utilizado em sala de aula”.   As aulas serão ministradas em um espaço da Igreja Batista Filha de Sião. “O meu projeto não tem qualquer conotação política ou religiosa. Tivemos a proposta para ocupar uma sala que estava disponível e recebemos com gratidão essa oferta”, explica.

Para Claudia, o fato de estar na Inglaterra enquanto as aulas estiverem em curso não será um entrave para o sucesso do projeto. “Hoje em dia as mídias sociais ajudam muito a acompanhar projetos à distância. Todas as questões práticas são resolvidas por Skype. A internet mudou esse conceito, podemos dar andamento a projetos como esse mesmo estando em outro País”.

Quando não estiver no Brasil, Cláudia Bellizzi será representada pela estudante de jornalismo Daiene Mendes, que está diretamente ligada ao conceito do projeto desde o início. “Vi na Daiene a pessoa ideal para me representar, além de ser muito preparada, ela é totalmente envolvida com a realidade e os problemas dos moradores”, afirma.