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Em depoimento a Moro, Cabral admite ter recebido caixa 2, mas nega outros crimes

Ex-governador afirmou que não recebeu vantagem indevida da Andrade Gutierrez no Comperj

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O ex-governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, negou ter recebido propina da Andrade Gutierrez no contrato para construção do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj). Ele foi ouvido nesta quinta-feira (27) pelo juiz Sérgio Moro, da 13ª Vara Federal de Curitiba, na condição de réu do processo a que responde no âmbito da Operação Lava Jato.

No início da audiência, os advogados informaram a Moro que Cabral responderia apenas às perguntas formuladas pela defesa. O juiz reconheceu o direito ao silêncio do réu, mas comunicou que faria os questionamentos e deixaria ao próprio ex-governador a decisão de se calar ou responder.

Moro perguntou, então, se o peemedebista recebeu vantagem indevida da Andrade Gutierrez na contratação para construção do Comperj. “Não é verdade”, respondeu Cabral, que foi imediatamente orientado pelos advogados a se ater ao plano inicial. O réu, então, silenciou durante o restante dos questionamentos do juiz e dos procuradores do Ministério Público Federal (MPF).

Aos próprios advogados, Sérgio Cabral ressaltou que não recebeu propina da Andrade Gutierrez. Ele também afirmou que mantinha apenas “relações institucionais” com os executivos da empresa.

A defesa passou, então, a perguntar sobre as demais acusações feitas na denúncia, como os crimes de evasão de divisas e lavagem de dinheiro. Cabral disse que os itens de luxo comprados por ele e pela mulher, Adriana Ancelmo, foram pagos com recursos próprios e que, em determinados casos, esse dinheiro era proveniente de caixa 2. De acordo com o governador, o dinheiro era de sobras de campanhas eleitorais, que ele usava para fins pessoais.

"As compras eram feitas por mim, com recursos meus e sob minha responsabilidade. Havia alguns produtos que ela poderia escolher o produto. Alguma coisa para a casa, algum vestido que eu havia comprado para ela. Agora, são recursos meus. Recursos próprios meus e recursos... Eu vejo aqui, doutor Moro, que vossa Excelência tem ouvido aqui muitas observações a respeito de caixa 2, de sobra de campanha. Isso é fato. Isso aí é um fato real na vida nacional e eu reconheço esse erro. São recursos próprios e recursos de sobras de campanha, de caixa 2. Foi com esses recursos, nada a ver com a minha mulher e muito menos com essa questão dessa acusação de Comperj", disse.

O ex-governador admitiu, no entanto, ter recebido caixa 2 para financiar a própria campanha eleitoral ao governo do Rio de Janeiro. “Não posso negar que houve, em função de eu ter sido um político sempre com desempenho eleitoral muito forte no estado. O financiamento acontecia, e estes fatos são reais”, afirmou.

Durante o depoimento, o ex-governador tentou ainda isentar a mulher, Adriana Ancelmo, de qualquer participação nas irregularidades. "Minha mulher não conhece nenhum desses personagens que são citados, executivos da Petrobras, etc. São responsabilidades minhas, diretas. Minha mulher não tem responsabilidade sobre esses gastos. Não tem ligação nenhuma com as pessoas que estão aí. Me sinto indignado com o nome dela vinculado a esses fatos", afirmou.

Adriana Ancelmo

Moro perguntou se Adriana Ancelmo, que também prestou depoimento nesta quinta-feira, lembrava sobre uma compra de móveis, por mais de R$ 56 mil, realizada em 2010, que foi paga por meio de vários depósitos em dinheiro, alguns feitos no mesmo dia, mas em valores sempre inferiores a R$ 10 mil.

"Me recordo e fiz as escolhas de todos esses mobiliários aí sim, que eram inclusive para um home office que o Sérgio estava montando em casa. Eu fiz efetivamente essas escolhas. A regra era que a arquiteta me acompanhava. Nós íamos a algumas lojas, víamos seleções e opções, ela avaliava em relação a espaços e como nós ao final definíamos o que seria comprado e, automaticamente, esses orçamentos eram encaminhados à Sônia Batista, secretária do Sérgio, para que ela providenciasse o pagamento por instrução do próprio Sérgio", declarou.

Sobre a compra de mais de R$ 57 mil em vestidos, no início de 2014, Adriana disse que foi um presente do ex-governador e que os valores foram pagos por ele.

"Pelo que eu li da denúncia, obviamente, o que se diz é numa tentativa de fazer uma estruturação de pagamento com o objetivo de fugir de um controle. Isso não é, de forma alguma, senão jamais teria permitido que qualquer nota, ou que qualquer compra. Jamais iria realizar uma compra dessa se imaginasse que havia essa intenção", disse Adriana Ancelmo.

Moro questionou ainda compras de terno por Sérgio Cabral no montante de R$ 280 mil e perguntou a Adriana se os valores eram compatíveis com o patrimônio e renda do ex-governador. "Nosso relacionamento era de absoluta confiança. Eu em momento nenhum questionei ele porque ele estava trazendo uma pessoa para medir um terno para ele e ele adquirir esse terno. Eu não sabia sequer o preço de um terno da Ermenegildo Zegna. Nunca o questionei em relação a isso", afirmou.

A ex-primeira-dama acrescentou que as despesas da casa eram todos encaminhados ao escritório de Cabral. "Tudo aquilo que fosse pertinente à casa, aos filhos e à família eu, na condição de mulher acabo tendo essa atribuição também, fazia esse trabalho, de escolha de mobiliário, de reformas, de troca de armários, enfim, do que fosse necessário. Eu fazia isso, e encaminhava ao escritório para que eles definissem dentro do escopo, sempre dentro do escopo do que era encaminhado pela loja", explicou.

Calicute

Sérgio Cabral está preso desde a 37ª fase da Operação Lava Jato, chamada de Calicute, que foi deflagrada em novembro do ano passado. Ele atualmente está preso no Complexo Penitenciário de Gericinó, em Bangu, na zona oeste do Rio. O ex-governador fluminense foi transportado para Curitiba em um avião da Polícia Federal (PF) na manhã de hoje. Outros quatro réus desta ação penal foram ouvidos por Moro — inclusive a esposa dele, Adriana Ancelmo.

Com Agência Brasil