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Após morte de adolescente, moradores do Alemão fazem protesto pela paz

Jovem foi baleado durante tiroteio e não resistiu ao ferimento

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No início da tarde desta terça-feira (25), os moradores do Conjunto de Favelas do Alemão realizaram um protesto para pedir paz. Com bandeiras brancas e gritos de paz, os manifestantes se reuniram na região da Grota, e resolveram protestar após a morte do jovem, Paulo Henrique de Oliveira, de 13 anos, baleado após um tiroteio na comunidade na última segunda-feira (24).

Durante o protesto, o grupo gritava palavras de ordem pedindo por paz: “Estamos protestando pelos nosso direitos. Há cinco dias viveram uma guerra onde morreram pessoas inocentes. Não vamos ficar calados, nós iremos protestar”, diziam os moradores em coro.

Desde fevereiro, a Polícia Militar vem fazendo o uso de quatro casas da comunidade como bases militares que abrigam homens da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) Nova Brasília. No último dia 23, o Núcleo de Defesa dos Direitos Humanos (Nudedh) da Defensoria Pública do Rio entregou à secretaria estadual de Segurança e ao comando geral da Polícia Militar uma recomendação da desocupação imediata dos imóveis.

Através de nota, a Defensoria Pública do Rio de Janeiro informou que irá dar início ao processo de desocupação ainda nesta terça-feira. A decisão foi tomada durante uma reunião entre moradores do complexo, policiais militares e autoridades públicas.

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Veja a nota da Defensoria Pública

Com o auditório lotado e com a presença massiva de moradores do Complexo do Alemão, de policiais militares e de autoridades públicas, o subcoordenador de Polícia Pacificadora, tenente-coronel Marcos Borges, garantiu que os policiais deixarão as casas ocupadas no local há três meses até o fim do dia desta terça-feira (25). A audiência pública: Casas Invadidas, Vidas Violadas e Outros Abusos Policiais no Complexo do Alemão, foi realizada nesta segunda-feira (24), no auditório da Fundação Escola Superior da Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro (Fesudeperj). Enquanto acontecia a audiência, moradores receberam denúncias de que mais casas estavam sendo ocupadas, durante mais um dia de operação que deixou um policial baleado e que matou Paulo Henrique, de 13 anos.

Desde fevereiro, casas são usadas como base militar por homens da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) Nova Brasília. O Núcleo de Defesa dos Direitos Humanos (Nudedh) da Defensoria Pública do Rio entregou, no dia 23 de fevereiro, uma recomendação à Secretaria Estadual de Segurança e ao Comando Geral da Polícia Militar do Estado, para que fosse determinada a imediata desocupação das quatro casas, que fosse expedida uma ordem a toda corporação da PM e aos comandantes das UPPs determinando a expressa proibição de invasão de casas, estejam elas ocupadas ou não, e que as quatro famílias fossem indenizadas por danos morais e materiais.

Caso as providências informadas não sejam atendidas, a Defensoria estuda as medidas administrativas e judiciais cabíveis, podendo levar, inclusive, o fato à Comissão Interamericana de Direitos Humanos. Vale ressaltar o Art 5 da Constituição Brasileira, que fala sobre a inviolabilidade do lar: “XI - a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem consentimento do morador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o dia, por determinação judicial”.

Para o defensor público-geral, André Castro, a audiência pública organizada conjuntamente com vários movimentos e instituições é fundamental para que se possa chegar a  uma solução sobre a desocupação das casas invadidas junto às autoridades. É inaceitável que violações tão graves de direitos humanos aconteçam com tanta naturalidade com grupos de pessoas tão vulneráveis e, muitas vezes, abandonados pelo poder público. A guerra às drogas, que coloca diariamente milhares de trabalhadores no fogo cruzado, vitimando vidas de moradores, policiais, crianças, trabalhadores e jovens diariamente, não tem vencedores.Temos um policial morto a cada dois dias e três pessoas mortas por dia só no estado do Rio. De um lado, o abandono dos policiais, agravado com a crise financeira do Estado. Do outro, moradores que pedem respeito, o direito à vida e o direito de ir e vir. É extremamente necessário discutir segurança pública através de um conjunto de ações e com a participação de todos nos espaços públicos.

No dia 21 de abril, feriado de Tiradentes, o Complexo do Alemão viveu mais operações policiais que tiveram início às seis horas da manhã. O fim de semana seguiu em guerra, deixando mais duas pessoas mortas: Gustavo, que  saía às seis horas da manhã para ir trabalhar na padaria e Bruno, que era do exército e e estava em casa de folga com a esposa.

A Audiência Pública também foi organizada pelas Comissões de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa (Alerj) e da Câmara Municipal e movimentos sociais que atuam no Complexo do Alemão, como o Coletivo Papo Reto e Juntos pelo Complexo. Representantes do Ministério Público, da Secretaria Estadual de Segurança Pública, da Secretaria de Saúde e da Secretaria de Direitos Humanos também compareceram.Relembre a atuação da Defensoria no caso.

Nos dias 21 e 22 de fevereiro, o Núcleo de Defesa dos Direitos Humanos (Nudedh) recebeu três moradores que estão com suas casas ocupadas. Eles denunciaram a situação de suas casas e informaram que há outras casas na Favela da Alvorada que também estão sendo atingidas. Além das denúncias, o Nudedh também recebeu fotos e vídeos de moradores que foram enviados para o aplicativo Defezap.

Desde o dia 2 de fevereiro, quando cerca de 2 mil estudantes foram impedidos de sair de casa no primeiro dia de aula, o Complexo do Alemão vive uma guerra sem trégua, com intensos tiroteios e confrontos. No dia 15 de fevereiro, o ouvidor-geral da Defensoria, Pedro Strozenberg, acompanhou, junto com representantes da Comissão de Direitos Humanos da Alerj, da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), do Coletivo Papo Reto e da Associação de Moradores, uma vistoria em quatro casas ocupadas, organizada por moradores. Os policiais militares iniciaram as ocupações há três meses, sem qualquer ordem ou mandado judicial.

O argumento usado pelos policiais foi o de que as casas foram invadidas porque estavam vazias, embora o fato delas estarem desocupadas momentaneamente não descaracterize a posse do imóvel. Foi verificado no dia 15, porém, que havia moradores nas casas e que os cadeados dos portões foram quebrados. Moradores que tiveram suas casas invadidas pediram abrigo a outros parentes.