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Apesar de aumento, dados da violência do ISP estão fora da realidade

Segundo ISP, letalidade violenta registrou um aumento de 55,3% no primeiro semestre

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Na última semana, o Instituto de Segurança Pública (ISP) divulgou um balanço sobre a letalidade violenta (soma de homicídio doloso, homicídio decorrente de intervenção policial, roubo seguido de morte e lesão corporal seguida de morte), no Rio de Janeiro. Segundo os dados apresentados pelo ISP, foi registrado um aumento de 55,3% no primeiro semestre de 2015 em comparação com o mesmo período do ano passado. Apesar de assustador, os números ainda estão aquém da real situação da segurança pública no Rio de Janeiro.

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Na última quinta-feira (26), a ONG Rio de Paz divulgou em sua página no Facebook dados de mortes violentas no estado do Rio de Janeiro pelo período entre janeiro e outubro de 2015. De acordo com o balanço, foi registrado um total de 4.206 mortes violentas. Além de 5.072 tentativas de homicídio. Segundo esses dados, o estado do Rio de Janeiro possui uma média de 420 mortes violentas por mês.

Em conversa com Jornal do Brasil, o presidente da ONG Rio de Paz, Antônio Carlos Costa, comentou que apesar de serem irreais, os dados divulgados pelo ISP são assustadores.

“Esses dados estão muito aquém da realidade, só mesmo uma pesquisa de rua, onde você sai questionando várias pessoas, é capaz de revelar, ainda que sem total precisão, um resultado mais próximo da realidade. Se pararmos para pensar, assaltos são os números menos preocupantes. Já tentou imaginar a quantidade de gente que desaparece e que não existe nenhum registro desse desaparecimento nas delegacias? Esses dados do ISP, apesar de serem assustadores ainda não correspondem com a realidade, que é muito pior”, lamentou Antônio.

>> Letalidade violenta aumenta 55,3% no primeiro semestre, segundo balanço do ISP

Muitas pessoas ao serem vítimas de violência até procuram uma delegacia, mas em muitas vezes, o próprio policial desencoraja a vítima de registrar queixa, alegando que a pessoa, dificilmente, teria seus pertences recuperados, como foi o caso do fisioterapeuta Thiago Alvarez.

“Fui vítima de um assalto em Botafogo. O bandido colocou uma arma na minha cabeça e começou a me ameaçar, falar que eu estava dependendo da boa vontade dele para continuar a viver. Na hora eu estava com apenas R$ 40 na minha carteira, mas ele me obrigou a ir até uma agência bancária e realizar saques. Ele entrou no banco comigo, com a arma escondida, pois sabia das câmeras de segurança. Me fez tirar R$1000 da conta, e me fez entregar o dinheiro longe da agência. Depois de entregar o dinheiro, ele ainda me agrediu. A primeira coisa que eu fiz foi ir até uma delegacia registrar queixa, mas o delegado estava no horário de almoço e a pessoa que estava lá disse que estava muito ocupado. Me falou que eu teria uma dor de cabeça enorme e que não iria conseguir nenhum dos meus bens de volta. Me desencorajou de todas as maneiras. Nessa hora minha namorada chegou e me fez desistir de registrar a queixa”, comentou o fisioterapeuta.

“Não sei o que isso pode gerar de problemas para os policiais (fazer o registro) mas acho que pode ter algo relacionado com a mancha criminal na área deles. No final das contas tive um prejuízo de quase R$3 mil com dinheiro e aparelho eletrônicos. Fora todo o trauma e constrangimento”, completou Thiago.

Na última semana, o JB publicou uma reportagem na qual contou os momentos de pavor vividos por uma família do bairro do Cosme Velho, na Zona Sul, que teve sua residência invadida pelos mesmos bandidos duas vezes em um intervalo de dois meses. Na ocasião, os policiais chegaram a ver os bandidos fugindo pela Floresta da Tijuca, que faz divisa com o quintal da família, mas alegaram que não era procedimento padrão realizar perseguição em florestas.

>> Dois assaltos em dois meses aterrorizam família moradora do Cosme Velho

Antes de ir embora, os bandidos ainda ameaçaram a família, mandando deixar mais dinheiro em casa para quando eles voltassem para buscar.

Para a ONG Rio de Paz, as causas dessas violências são múltiplas e elas se retroalimentam, sendo que a solução para o problema é sistêmica. A ONG lista como causas dessa onda de violência a desigualdade social, a proximidade entre as diferenças de classes, a cultura de consumo, a guerra às drogas (combater ao invés de prevenir), um estado fraco feito de instituições que não funcionam, e a falta de envolvimento da sociedade.