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Moradores da Favela de Manguinhos fazem ato contra a violência policial

Na semana passada, operação policial resultou na morte de menino de 13 anos

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Um ato contra a violência provocada pelo estado reuniu nesta terça-feira (14) moradores da Favela de Manguinhos e funcionários em greve da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Na semana passada, uma operação policial na comunidade resultou na morte do menino negro Cristian Andrade, de 13 anos, baleado durante uma ação para prender suspeitos da morte de um policial militar.

A manifestação ocorreu no pátio da Escola Nacional de Saúde Pública, vinculada à Fiocruz. A escola fica próxima ao local onde sempre acontecem confrontos entre facções rivais em Manguinhos. Durante o ato, mães de jovens assassinados na região, moradores da comunidade e funcionários da fundação cobraram da Fiocruz um protagonismo na luta por melhores condições de vida na comunidade.

“Eu não sei o que a Fiocruz poder fazer, mas sei o que minha favela precisa”, afirmou Ana Paula Gomes de Oliveira, mãe de Jonathan de Oliveira, jovem morto com um tiro nas costas, aos 19 anos, durante ação da polícia há um ano.

Após a morte do filho, Ana disse que procurou tratamento psicológico para a filha mais nova na Fiocruz, onde um posto de saúde atende aos moradores de Manguinhos, mas não conseguiu vaga. “Estive aqui diversas vezes, dividida entre minha dor, meu luto e minha filha de 10 anos, que era muito apegada ao irmão, precisando de tratamento psicológico e não consegui nada”.

Durante o ato, que teve a participação do presidente da Fiocruz, Paulo Gadelha, foi anunciada a instalação, até o fim deste ano, de um Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas (Caps). O centro será construído pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) em parceria com a prefeitura. A unidade é uma das reivindicações dos moradores da favela e dos movimentos sociais que atuam na região.

“Vamos investir recursos da Fiocruz para que isso aconteça”, disse Gadelha. “Sabemos que o Caps não vai resolver o problema maior, porque o que gera a necessidade do atendimento psicossocial, de atendimento ao alcoolismo e a outras drogas, não é [a falta de] atenção à saúde, mas as razões que levam as pessoas a essa situação”, acrescentou. No dia da operação que resultou na morte de Cristian, Gadelha ligou para o secretário de Segurança Pública, José Mariano Beltrame, pedindo para que suspendesse a ação policial na favela por causa da comoção na comunidade.

Representando o Fórum Social de Manguinhos, entidade formada por moradores e funcionários da Fiocruz, que atua na garantia dos direitos das famílias da comunidade, Maria Paula Bonatto, disse que as ações sociais na favela, como o atendimento médico, devem ser ampliadas. Ela pediu  que a Fiocruz atue de forma institucional para garantir outros direitos no local.

“Na nossa concepção de saúde, o que acontece hoje em Manguinhos está atacando a saúde das pessoas. Nós podemos melhorar a assistência médica, que é uma reclamação da população local, mas há um sistema amplo, estrutural, que não oferece saneamento básico, está depenando as escolas, não tem moradia, é vítima da violência policial e do racismo institucional”,  disse Maria Paula.

Greve na Fiocruz

Perguntado sobre a continuidade da greve dos funcionários da fundação, que dura dois meses, o presidente da Fiocruz disse que as conversas estão avançadas com os ministérios da Saúde e do Planejamento. Gadelha acredita que o governo terá uma proposta para a próxima assembleia da categoria, na próxima quinta-feira (17).