Um busto em homenagem a Stuart Angel foi inaugurado, nesta sexta-feira (28), em frente ao campus da Praia Vermelha da UFRJ, onde cursava economia antes de ter sido perseguido, torturado e morto, se tornando mais uma das inúmeras vítimas da ditadura militar no Brasil. A estátua, feita pelo escultor Edgar Duvivier, fica exatamente no cruzamento da já existente ciclovia ‘Stuart Edgar Angel Jones’, e voltada para a Universidade Federal do Rio de Janeiro, com um semblante sorridente, como se o homenageado ainda tivesse esperanças de voltar para terminar o curso que foi impedido de concluir. A observação feita pela jornalista Hildegard Angel, irmã de Stuart.
“O Stuart não chegou a concluir a graduação em economia, pois foi impedido pelos militares, que comandavam a instituição na época. O fato dele estar virado para o campus da universidade, com um semblante sorridente, dá a impressão de que ele tinha esperanças de poder voltar para concluir o curso”, observou Hildegard.
O escultor, Edgar Duvivier, classificou o convite para esculpir o busto de Stuart como um grande desafio, principalmente pelo fato de não o ter conhecido pessoalmente. Segundo Duvivier, todo o processo foi feito a partir de fotografias e observando trejeitos de familiares.
“Eu não conheci pessoalmente o Stuart, mas no Brasil, todo mundo, por mais desinformado que seja, já ouviu falar na trágica história dele. Eu conheço a Hildegard, irmã dele, e a gente fez a estátua baseada em fotografias e trejeitos de familiares, como sempre é feito de pessoas que já morreram. Estou satisfeito com o resultado, muitos amigos dele que estão aqui elogiaram, e falaram que está muito parecido. Fiquei muito contente de ter sido convidado para fazer esse projeto. O Stuart é um exemplo de luta, de idealismo, e isso é muito importante”, comentou o escultor.
O amigo de infância de Stuart, Zezé Barros, lamentou o trágico destino do amigo, e enalteceu a memória dele, frisando que se sente muito orgulhoso de ter feito parte da vida de um herói nacional. Além disso, Zezé comentou sobre o cuidado que Stuart tinha para que os amigos não sofressem as mesmas perseguições sofridas por ele.
“Nós nos conhecemos aos 13 anos, em Ipanema, bairro em que moramos a vida inteira. O Stuart foi perseguido, junto com a esposa, que acabou assassinada com um tiro na cabeça. Eu não sei até hoje como pode ter sido feito o absurdo que aconteceu com ele. Ele sofreu e foi torturado de maneira absurda pelos militares que estavam no poder, machucando nosso país. Quando ele nos encontrava, ele sempre pedia que caso nós nos cruzássemos pelas ruas, que nós não o cumprimentássemos, pois ele certamente estava sendo vigiado e isso poderia ser perigoso para nós, amigos dele. Ele dizia que estava lutando por um país melhor, que queria derrubar a ditadura e transformar o Brasil em um país democrata. Ele é um herói brasileiro e eu fico muito honrado de ter sido amigo dele”, contou Zezé.
Para encerrar, Hildegard Angel comentou que a inauguração do busto em homenagem ao irmão é uma maneira de consolar o coração de todos os brasileiros que lutam e torcem, diariamente, por um país melhor.
“Um herói nacional extrapola qualquer partidarismo, ele representa a fibra do povo brasileiro, a defesa dos princípios constitucionais de uma nação. Os jovens se rebelaram contra a tirania de um momento, que foi rompida por um estado de exceção, e eles deram a vida para restabelecer a normalidade democrática do país, por mais que queiram dizer diferente. A estátua ajuda a consolar o coração, não só da família, mas sim de todos os brasileiros. Eu não individualizo o Stuart. Um herói não tem família, sua família é o país, e isso se encaixa no caso do Stuart, um verdadeiro herói nacional, que deu a sua vida pela luta em prol do nosso país”.