Alunos da Uerj divulgaram vídeos do confronto com a polícia nas redes sociais. Nas imagens é possível ver jatos de alta pressão de água para dispersar os manifestantes na frente da universidade. Uma aluna de geografia da Uerj, identificada somente como Amanda, aparece na filmagem contando o que presenciou.
"A polícia estava com um forte aparato, mais de seis carros, o Bope e o Choque, porque na favela o tratamento é diferente. Eles adentraram a universidade quando viram o nosso ato, deram tiro para o alto, tiros de verdade, a Uerj impediu a gente de entrar, a universidade que acolhe a gente como estudante, fechou as portas quando deram tiro pro alto. Tinham crianças e um amigo nosso que faz geografia foi pego, apanhou e sabe-se lá o que foi feito com ele. Nossas informações são essas e eles não queriam soltar. Tudo isso para nós sairmos da universidade", contou a estudante.
De acordo com a aluna de nutrição Lara Vieira, também da Uerj, muitos alunos estavam tendo aula no momento do confronto, então acabaram ficando presos dentro da universidade. Segundo ela, os seguranças não permitiram a entrada dos manifestantes porque estava carregando pedras e bombas. "A polícia foi até o local, mas ainda assim não pudemos sair. Depois de umas duas horas pediram que evacuássemos a Uerj porque ia haver algum tipo de negociação. Só aí que conseguimos sair pelos portões laterais." Lara ainda contou que viu duas pessoas desmaiadas sendo carregadas e que não tem notícias de pessoas dentro da universidade que foram machucadas. "Nós tivemos que esperar o confronto terminar para podermos descer, porque eu estava no 11º andar", finalizou.
Segundo o vídeo, a porta da reitoria da universidade foi quebrada recentemente e uma crítica que aconteceu era que o espaço era democrático e que atos como esse não deveriam acontecer. "Não existe democracia dentro dessa universidade", afirmou a estudante. "Um reitor que fica atrás de uma porta blindada e se recusa a falar com a gente, não é democrático", disparou.
Um outro ponto tocado pela aluna é que os estudantes ficaram presos dentro da universidade enquanto jogavam água, "depois entrando em confronto e falando que quem começou foram os alunos."
Nos vídeos do confronto, é possível ver diversos alunos na frente de uma das portas da Uerj sendo impedidos de entrarem por jatos de água. Clique aqui para ver o vídeo do momento que os alunos quebram a porta de vidro para entrar na universidade. Em um outro caso, uma aluno publicou em seu Facebook um vídeo do momento que estava filmando de dentro o confronto e é empurrada por uma funcionária para frente do jato de água.
>> Veja aqui o vídeo da estudante sendo empurrada pela funcionária.
Entenda o caso
Moradores da Favela do Metrô, próximo ao Morro da Mangueira, na Zona Norte do Rio, interditaram a Avenida Radial Oeste, por volta das 18h de quinta-feira (28), em protesto contra a remoção de moradias. O trânsito na região ficou complicado e a lentidão se estendeu por toda a Radial Oeste desde a Praça da Bandeira. Alunos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), que fica nas proximidades, aderiram ao protesto. Policiais militares foram chamados para conter o tumulto e chegaram a entrar na instituição, lançando bombas de gás lacrimogêneo e spray de pimenta.
As primeiras construções começaram a ser derrubadas no início da tarde, com a ajuda de tratores da prefeitura, com objetivo de reurbanizar o local, próximo ao Estádio Mario Filho, o Maracanã, onde ocorrerá a cerimônia de abertura das Olimpíadas no ano que vem.
As demolições revoltaram os moradores, trabalhadores e comerciantes que vivem ou atuam no local, onde existem dezenas de pequenas oficinas mecânicas e lojas de autopeças. Eles diziam que a prefeitura descumpriu acordo de primeiro construir no terreno um polo automotivo, em substituição às antigas oficinas, e só depois demolir os imóveis. Também um grande galpão de reciclagem foi posto abaixo, deixando várias pessoas desempregadas e prejudicando o trabalho de dezenas de catadores, que vendiam os materiais recolhidos nas ruas.
No início da noite, estudantes da Uerj foram dar apoio aos moradores e comerciantes, ajudando a bloquear a Avenida Radial Oeste, uma das principais vias de ligação entre o centro e a zona norte, o que motivou a reação da Tropa de Choque da Polícia Militar (PM), que perseguiu os alunos até o campus da universidade, que fica próximo à Favela do Metrô-Mangeuira. Ao tentarem entrar no prédio, os estudantes encontraram as portas fechadas, o que gerou desespero no grupo, dando inicio a um confronto com os seguranças da universidade, que os repeliram com jatos de água.
A estudante de jornalismo Hara Flaeschen disse que os colegas que estavam com ela ficaram aterrorizados ao serem imprensados pelos policiais militares impedidos de entrar no campus. “Nós fomos dar apoio aos moradores da comunidade e fechamos a Radial Oeste, em um ato pacífico, e de repente a Tropa de Choque veio correndo em nossa direção, jogando bombas de gás. Vários moradores também vieram fugindo e fomos nos refugiar na Uerj. Aí os seguranças fecharam as portas, o que gerou um confronto por causa do nosso desespero”.