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Moradores da Rocinha estão há uma semana sem água

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Os moradores da favela da Rocinha estão sem água há cerca de uma semana. De acordo com um dos presidentes da associação de moradores, José Martins de Oliveira, a parte baixa da comunidade está sem água desde o dia 24 de fevereiro, tendo voltado durante dois dias e sendo cortada novamente. “São cerca de duas mil famílias sem água”, disse o líder comunitário.

Um dos maiores problemas da falta d’água na comunidade é, além das necessidades básicas dos moradores, as dificuldades em manter os negócios funcionando. De acordo com Verônica de Andrade, funcionária da Creche Saci Sabe Tudo, se a água não voltar até esta quarta-feira (4), as aulas terão de ser paralisadas. “A situação está terrível, inclusive na semana passada nós ficamos dois dias sem termos aulas. O que a gente fica falando com as crianças é para trazer água de casa, usar o banheiro só uma vez. Os pais têm que trabalhar, a gente tem um compromisso com eles. Eles vão ficar aonde? Em casa eles também não têm água”, contou. De acordo com Verônica são 80 crianças, entre particular e comunitário atendidas pela creche.

O proprietário do restaurante Trapia, Antonio de Paiva Lima contou que já teve que pedir um caminhão-pipa para manter as atividades no local. “Na última semana ficamos três dias sem água, voltou na sexta e sábado e ontem, mas a noite acabou de novo. O que o pessoal tem comentado é  que as obras do metrô furaram a tubulação, a Cedae viria consertar, mas até agora não veio. Para nós trabalharmos na cozinha usamos água mineral, mas para encher a cisterna tivemos que pedir um caminhão”, disse o proprietário. O banheiro do restaurante possui um aviso na parede de que estão sem água. Segundo Antônio, os funcionários têm limpado o local quando vêem que há poucos clientes no local.

Estabelecimentos como o Salão de Beleza Fashion também tem enfrentado problemas com a falta d’água. De acordo com a funcionária Marcela Nascimento o salão tem enfrentado uma baixa na quantidade de clientes por causa do problema com o abastecimento. “Tem sido bastante difícil, não só para a gente, mas como para todo mundo aqui na rua. A gente ta se virando como pode, tem dias que não da para trabalhar na parte de cabelo por conta da falta da água. [O movimento está diminuindo] com certeza. A gente está economizando o máximo que a gente pode, o pouco de água que a gente usa para lavar um cabelo, usamos também para lavar um banheiro. A gente reutiliza a água”, disse Marcela.

Um dos líderes comunitários, José Martins de Oliveira, não concorda com a atitude do governo de implantar um teleférico para turistas e não investir no saneamento básico para a população. “Saneamento básico é vida”, disse Martins. “Água é vida. A construção de um teleférico, além da manutenção que também é muitíssimo cara, tem um preço muito elevado. Nós não temos falta de água aqui na comunidade há trinta anos”, contou.

A dona Maria do Carmo contou que apesar de trabalhar praticamente o dia inteiro, quando chega em casa não tem água para cozinhar ou tomar banho. “Eu me viro indo na casa da minha filha e lá eu tomo banho”, disse.

A redação do JB entrou em contato com a Cedae para saber o motivo da falta d’água para os moradores e quando será resolvido o problema. A assessoria de imprensa respondeu através de nota que o problema foi causado por uma perfuração em um cano. "O problema foi causado por vazamento em tubulação atingida por acidente por máquinas a serviço das obras do Metrô, no canteiro de obras próximo à Rocinha. Foi necessário retirar de carga a tubulação para fazer o reparo, que foi concluído no fim da semana passada, mas o abastecimento em locais elevados, como a Rocinha, pode levar até 48 horas para se normalizar. Quando o abastecimento estava se normalizando houve um arriamento de comporta (usada para regular o fluxo de água) na tubulação, às 22 horas de ontem, e o problema foi solucionado durante a madrugada. Desde as 5 horas de hoje o abastecimento foi retomado e deve se normalizar ao longo do dia."

*Do Programa de Estágio do JB