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Após travarem trânsito, trabalhadores do Comperj protestam em frente à Petrobras

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Após fecharem os dois sentidos da Ponte Rio-Niterói por mais de duas horas e depois interditarem algumas vias do Centro do Rio, os funcionários do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj) fizeram uma manifestação em frente ao prédio da Petrobras, na Avenida Chile, na tarde desta terça-feira (10). Os trabalhadores reivindicam o pagamento do salário, atrasado há três meses. Segundo os líderes sindicais presentes à manifestação, a Petrobras afirmou já ter repassado o dinheiro para a Alumini – empresa que faz parte do Comperj – e que, portanto, o pagamento deveria ser feito pela empreiteira terceirizada. Os trabalhadores informaram que pretendem atrapalhar o Carnaval caso o pagamento dos salários atrasados não seja liberado. De acordo com os manifestantes, cerca de 600 pessoas participaram dos protestos desta terça.

Sobre as negociações com a Petrobras, o soldador Hailton Schuenck informou que os trabalhadores têm ido ao Centro do Rio desde o início de janeiro para se reunir com os porta-vozes da Petrobras, mas sem sucesso. “Nós já fomos chamados para duas reuniões com a parte administrativa da empresa e eles apenas jogaram a gente para a Justiça. Fomos chamados também duas vezes para o Ministério do Trabalho. Eles deram o prazo de oito dias para que a Petrobras e a Alumini nos paguem. Mas eles tiveram o direito de recorrer. Essa reunião aqui hoje é para que a Petrobras não recorra”, disse Hailton. Caso a empresa recorra na Justiça os trabalhadores estimam que só irão receber os seus salários daqui a três meses.

“Eu gostaria de falar que aqui só tem trabalhador, todos somos profissionais qualificados. Estamos há três meses sem receber”, explicou a soldadora Cássia Gonçalves Moreira. “Até agora a gente fica aqui, fala, mas ninguém nos escuta. Eu espero que o governo brasileiro tome uma atitude e nos pague”. A soldadora explicou que não pode procurar outro emprego porque sua carteira de trabalho está presa com a empreiteira. “Eles afirmam que nós não estamos desempregados. Mas como eu não estou desempregada se eu não recebo há três meses, não tenho plano de saúde, vale-refeição, nada?”, disse Cássia. Ela ainda informou que para driblar a dificuldade do momento tem feito empadinhas para vender na rua e conseguir o dinheiro para sustentar a sua família. 

O soldador Hailton Schuenck explicou que a empresa cortou o pagamento em dezembro e com isso o plano de saúde e o vale-refeição dos trabalhadores. “Estamos nessa luta desde o dia 5 de janeiro, estamos sem salário, cesta básica há três meses. Esse [o protesto que parou a ponte Rio-Niterói] foi a única forma que encontramos para fazer as pessoas olharem para a gente. Somos 2500 trabalhadores, estamos todos sem nada, conta atrasada, eu mesmo estou devendo três prestações da minha casa. Eu tive que correr atrás dos meus familiares para me ajudar”.

Em um carro de som parado na Avenida Chile líderes sindicais pegavam o microfone para informar aos trabalhadores e aos pedestres os planos para os próximos protestos.O soldador Hailton Schuenck informou que se os salários não forem liberados até sexta-feira (13) os três mil trabalhadores lesados irão se reunir durante o Carnaval e atrapalhar os desfiles. "Alguns de nós foram despejados porque não têm como pagar o aluguel. Nós estamos nessa luta porque estamos pagando uma conta que não é nossa", disse. "Eu sou soldador, eu trabalhei lá até sair sangue do meu olho para agora não receber o meu dinheiro? Deus me livre ter que ficar comendo quentinha na rua como temos que fazer agora. Eu sou trabalhador e não mereço passar por isso", disse o soldador. 

O ex-candidato a governador do Rio de Janeiro Tarcísio Motta esteve na manifestação dos trabalhadores. “A gente vem como trabalhador e como figura pública para dar todo o apoio para esses trabalhadores. A luta é deles, nós não iremos interferir, os caminhos a serem escolhidos serão deles”, disse. Ele informou que alguns políticos estão montando uma frente parlamentar ampla com participantes de diversos partidos em apoio aos trabalhadores do Comperj com o objetivo de pressionar o poder público a resolver o problema dos trabalhadores. “A luta e a vitória serão construídas nas ruas pelos trabalhadores, mas cabe aos parlamentares aumentarem a pressão sobre a Petrobras para que ela assuma parte das questões que hoje estão sendo postas contra as empresas terceirizadas”.

Protesto fechou Ponte Rio-Niterói

Os funcionários do Comperj fecharam a ponte Rio-Niterói no final da manhã desta terça-feira (10). De acordo com a CCR, concessionária que administra a ponte, cerca de 150 pessoas participaram da manifestação. No entanto, a Secretaria de Transportes informou que 300 trabalhadores pararam a via. A manifestação começou por volta de 11h30. A Polícia Rodoviária Federal esteve no local, mas não houve confrontos. A ponte foi completamente liberada às 13h57. 

A CCR Ponte informou que dois ônibus pararam no Vão Central – a parte mais alta da Ponte que permite a entrada de navios na Baía de Guanabara – e os manifestantes desceram. O sentido Rio foi o primeiro lado a ser fechado pelos manifestantes. Em seguida, o sentido Niterói também foi paralisado. O trânsito ficou completamente parado e um grande congestionamento se formou.

Depois do protesto na Ponte, os manifestantes seguiram para a Avenida Brasil, onde fecharam a pista lateral em direção ao Centro. Eles caminharam até a Avenida Francisco Bicalho, que também foi fechada ao trânsito. Depois de liberar a Avenida Francisco Bicalho, o grupo seguiu pela pista central da Avenida Presidente Vargas, sentido Candelária, e depois pela Avenida Passos em direção à Avenida Chile, onde fica o prédio da Petrobras. Lá, os manifestantes fizeram um protesto na calçada, sem interdições de vias.

A Secretaria de Estado de Transportes determinou reforço imediato no serviço de barcas, trens e ônibus intermunicipais para atender à população em razão da manifestação que interrompeu o fluxo de veículos na Ponte Rio-Niterói. A medida foi mantida até a normalização do tráfego na ponte e nos acessos ao Centro da cidade. 

Por conta dos impactos na Linha Vermelha e Avenida Brasil, os trens da SuperVia eram uma opção para os passageiros que saíam do Centro para a Zona Oeste. As barcas operaram com frota total para a travessia entre o Rio e Niterói e, além disso, a Fetranspor implantou reforço nas linhas de ônibus intermunicipais que partem de Niterói para São Gonçalo, Itaboraí e Maricá. 

Comperj

O Comperj é um dos atingidos nos escândalos de corrupção que envolvem empreiteiras e a Petrobras. Houve uma redução no ritmo de obras do complexo e salários pararam de ser pagos, o que causou a demissão de 469 trabalhadores entre novembro e dezembro do ano passado. Os trabalhadores demitidos não receberam metade das verbas rescisórias, estimadas em R$ 2,9 milhões. Outros 2.500 empregados não receberam os salários de dezembro.

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*Do Programa de Estágio do JB