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Não há previsão de chuva para o Rio e risco de falta de água aumenta

Especialista diz que o estado vive uma situação vulnerável

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Não há previsão de chuvas para o Rio de Janeiro nos próximos dias. O Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) informou uma massa de ar quente está estacionada sobre o estado – como também na região Sudeste, parte do Nordeste e Centro-Oeste –, o que impede a formação de chuvas. O Inmet explicou que as temperaturas estão acima das esperadas.

“Nós estamos com uma situação de bloqueio, ou seja, uma massa de ar quente e seco está se tornando cada vez mais estável e está impedindo a aproximação de frentes frias na nossa região”, explicou a meteorologista Marlene Leal. “Como ela também está atingindo o Centro-Oeste, toda a nebulosidade que vai da Amazônia em direção ao Centro-Oeste, Sul e Sudeste, não consegue chegar sobre a região Sudeste. Chega à região Sul, intensifica as frentes frias que chegam até lá e ai acaba se deslocando para o oceano”.

O risco de falta d’água no estado do Rio é real e vivemos uma situação “vulnerável”, como explicou o professor do Departamento e do Programa de Pós-Graduação em Geografia da UFF e autor do livro “Fenômeno da Desertificação”, Flávio Rodrigues do Nascimento. “A primeira coisa que temos que levar em consideração é que do ponto vista ambiental nós estamos vivendo uma situação de extremos. Se fizer calor vai fazer muito calor, se for frio, muito frio, se for chuva, muita chuva, e se for seca, muita seca”, explicou Flávio.

O professor disse que o Rio de Janeiro possui uma característica particular, que é a presença de um rio federal. O Rio Paraíba do Sul pertence também aos estados de São Paulo e Minas Gerais. Por conta disso, suas águas podem ser requisitadas por qualquer um desses três estados. Flávio explicou que com a situação preocupante de São Paulo e o nível de seus reservatórios há uma disputa pelos recursos hídricos do rio.

Para o professor universitário o estado do Rio não possui segurança hídrica. Essa agravante, aliada à falta de chuvas, à partilha do Rio Paraíba e ao desperdício, podem colocar o estado em uma situação complicada.

A Companhia Estadual de Águas e Esgotos, a Cedae, informou através de comunicado que “não existe risco de racionamento de água no Rio de Janeiro. Na região metropolitana Oeste temos o Grande Rio, composto pelo município do Rio de Janeiro e os municípios da Baixada Fluminense. Estes recebem água fundamentalmente do sistema Guandu, que faz parte do complexo integrado Paraíba do Sul-Guandu”. A companhia ainda afirmou que “nesta região, estamos abastecendo dentro dos padrões normais de quantidade e qualidade, não havendo nenhum risco iminente de desabastecimento”.

O professor apontou que a possibilidade de não haver água no estado, apesar da situação vulnerável, é baixa. No entanto, explicou que com o aumento da temperatura há também o aumento do consumo de água.  “A Cedae diz que não vai faltar água, ou seja, não vai haver falta de água no sistema. No entanto, vai haver um desvio para as áreas com maior concentração de renda”, disse. Em seu comunicado, a Cedae afirmou que “na região metropolitana o abastecimento só foi afetado em algumas áreas da Baixada, com a estiagem reduzindo os níveis das três represas em Nova Iguaçu, que compõem o Sistema Posse e reduzindo a pressão da água em alguns bairros”.

O autor do livro “Fenômeno da Desertificação” informou que o estado do Ceará é um dos melhores em gerência dos recursos hídricos. “O estado do Ceará passa por uma seca há 4 anos, mas ainda assim tem 90% dos níveis dos seus reservatórios e água garantida até 2040. Quando se há vontade política é possível resolver os problemas, mesmo com a falta de chuva”, explicou. Para o professor Flávio "o Estado precisa investir em limpeza de rios, saneamento básico e reconstrução das matas ciliares, na recuperação de rios e bacias. É preciso trabalhar com investimento em dinheiro e políticas públicas para a recuperação desses rios e reservatórios, já que  a demanda é crescente” explicou.

A meteorologista Marlene Leal afirmou que "a situação do ano passado é a mesma da deste ano. A massa que está estacionada sobre o estado é de proporções normais, no entanto é bem estável e forte", e disse que a temperatura em Realengo foi 4,6 graus a mais do que o esperado. O mesmo aconteceu em Copacabana, que registrou 4,4 graus a mais, e a Vila Militar, 4,5 graus acima da previsão.

Ao final de seu comunicado, a Cedae informou estar com uma campanha pública para a conscientização da população para um consumo menor de água, “demonstrando que a atitude deve fazer parte do esforço conjunto a fim de que todos sejam beneficiados pelo uso adequado da água, sem desperdício e sem exageros“.