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Crise na Uerj: universidade adianta recesso devido a déficit de R$ 23 milhões

Medida foi anunciada pelo reitor através de uma nota divulgada no site oficial da universidade

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Na manhã desta quinta-feira (18), professores, pesquisadores e alunos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) foram pegos de surpresa com os portões da instituição fechados. Em grande crise financeira que afeta até mesmo o setor de limpeza da Uerj, o reitor, Ricardo Vieiralves de Casto, antecipou para esta quinta-feira o recesso de fim de ano, que inicialmente estava previsto para a próxima segunda-feira (22). Em nota divulgada no site da universidade, o reitor explica que o motivo é um déficit orçamentário que chega a R $23 milhões.

O recesso previsto para a próxima segunda-feira foi mantido apenas para os setores administrativos, responsáveis por funções imprescindíveis para o funcionamento da Uerj. Segundo a nota divulgada pelo reitor, a universidade só irá retomar suas atividades quando a situação estiver normalizada, o que significa um futuro incerto para a tradicional universidade.

Em conversa com o Jornal do Brasil, a professora do departamento de sociologia do instituto de ciências sociais, primeira secretária da associação dos docentes da Uerj, Lia Rocha, disse ter sido pega de surpresa com a medida adotada pelo reitor.

“Na verdade nada foi passado para nós professores, fomos pegos totalmente de surpresa. Para se ter uma ideia, ficamos sabendo através da nota divulgada pelo reitor no site da universidade. Ontem eu dei aula até as 18h30, fui embora normalmente para casa, imaginando a aula que daria no dia seguinte, mas, não vou dar mais essa aula”, comentou a professora antes de continuar – “Esse rombo no orçamento explica muita coisa, explica todos esses problemas recentes que a nossa universidade está enfrentando. A Uerj não tem autonomia orçamentária, e R$ 23 milhões é muito dinheiro. Segundo o reitor, o governo do estado argumenta não ter dinheiro para fazer o repasse de verbas devido ”, lamentou Lia.

Ainda de acordo com a professora, no último dia 10, a Alerj manteve o veto do governador Luiz Fernando Pezão à emenda do deputado Comte Bittencourt à LDO que destinava 6% da receita corrente líquida do estado para as universidades estaduais.

“No último dia 10 teve a votação do aumento de 6% nos orçamentos das universidades públicas, mas precisávamos do voto de metade mais um dos parlamentares, o que daria 36 votos, infelizmente conseguimos 29. Os outros, que votaram contra, coincidentemente fazem parte da bancada aliada ao governo. Mas o que mais chamou a atenção é que somente os professores, alunos e pesquisadores foram ao local, nenhum representante da mesa administrativa da universidade foi visto, o que é no mínimo estranho”, - disse Lia Rocha.

Lia ainda se mostrou preocupada com o futuro dos alunos e também da universidade.

“O que mais assusta, é que segundo o reitor, o recesso só volta quando a situação se regularizar, mas isso não tem prazo para acontecer. Estávamos prestes a conseguir colocar o calendário em dia no período 2015.1. Temos um atraso no calendário devido à resquícios da greve de 2012 somado com a parada que durou um mês durante a Copa do Mundo. Agora ninguém sabe quando vamos conseguir organizar tudo”, finalizou a professora.

A aluna Camila Freitas, 24, disse que a medida adotada pelo reitor pode até beneficiar os cofres da faculdade, mas coloca em risco pessoas que assim como ela estão em fim de curso e agora não sabem quando poderão finalmente se formar.

"Para eu me formar falta apenas a defesa do meu TCC, que estava planejado para o fim do recesso, inicialmente planejado para o dia 5 de janeiro. Já estava com tudo pronto, agora essa medida adotada pelo reitor, que segundo ele, não tem previsão para chegar ao fim me deixou insegura. Isso é um absurdo, como é que nós alunos ficamos? Eu não sei se vou poder apresentar o meu trabalho e consequentemente me formar", lamentou Camila.

Recentemente o Jornal do Brasil realizou uma série de reportagens retratando alguns dos problemas da universidade, como: Falta de segurança no campus, falta de pagamento para os funcionários terceirizados da limpeza, e também a falta de reajuste nos salários dos professores ativos e aposentados, sem direito a dedicação exclusiva.

Segue a íntegra da nota divulgada pelo reitor Ricardo Vieiralves de Castro:

GREVE NA LIMPEZA

Na manhã da última terça-feira (16), os funcionários da empresa Construir Arquitetura, responsável por realizar a limpeza no campus da Uerj fizeram uma manifestação auxiliados pelos alunos, na porta da universidade. Segundo os funcionários, os salários já estão atrasados há mais de dois meses, e no mês passado, os servidores entraram em greve.

Em uma página criada por alunos em uma rede social, fotos da situação da limpeza de escadas, banheiros e corredores chama atenção pela quantidade de lixo espalhado pelo prédio da universidade.

Saiba mais sobre o caso: >>Uerj: funcionários terceirizados fazem protesto contra salários atrasados>>Funcionários terceirizados da Uerj entram em greve por falta de pagamento

Na oportunidade, o presidente do Sindicato de Asseio e Conservação do Rio, Leniere Marques, assegurou que a greve dos servidores terceirizados irá continuar até que o pagamento desses trabalhadores seja realizado.

"A Uerj, assim como todo o estado do Rio de Janeiro, não tem dinheiro, o prefeito do campus pode até ter assinado o papel referente ao pagamento, mas o dinheiro não saiu da secretaria de Educação e, principalmente, ainda não caiu no bolso de ninguém. É como se eu te devesse um dinheiro e te pagasse através de um cheque, o papel está assinado, mas isso não garante que tenha fundos. A greve irá continuar até o pagamento de todos os funcionários", concluiu Marques.

ONDA DE VIOLÊNCIA

No último ano os alunos da Uerj estão convivendo com o medo diário de assaltos no entorno do campus da universidade. Os números são alarmantes: de janeiro a agosto deste ano, foram registradas 1.161 ocorrências, um aumento de 23% em relação ao mesmo período do ano passado.

Igor Alcântara é aluno da universidade e foi assaltado por três rapazes, que segundo ele aparentavam ser menores de idade. Os marginais usaram uma faca e levaram o celular, além de todo o dinheiro que ele tinha na carteira.

>>Prestes a completar 64 anos, Uerj enfrenta crise e onda de violência

“Eu estava saindo do Metrô Maracanã quando três rapazes me abordaram. O mais velho aparentava uns 17 anos, enquanto os outros dois, no máximo 14. O mais velho colocou uma faca na minha barriga enquanto os outros me davam tapas e iam pegando as coisas do meu bolso. Levaram meu celular e todo o dinheiro que eu tinha na carteira”, contou o estudante.

Em uma página administrada por alunos nas redes sociais, a quantidade de reclamações e avisos a respeito de assaltos é assustadora.

A PM alega que uma viatura faz a ronda no local 24 horas por dia. Além disso, um carrinho elétrico circula pelo local das 6h às 18h, e durante um dia aleatório da semana esse horário é estendido até às 23h.

LEI DE DEDICAÇÃO EXCLUSIVA

Na tarde de 26 de novembro, professores da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) realizaram um ato na sede da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) com intenção de pressionar os deputados para acelerar a votação do projeto de lei 3.232/2014, que pretende corrigir um equívoco na subtração do direito à Dedicação Exclusiva na aposentadoria. Essa PL vem para complementar a Lei 6328/2012 que dispõe sobre o Regime de Dedicação Exclusiva para os professores da Uerj.

Os professores foram recebidos no gabinete do Dep. Comte Bittencurt, responsável por esse projeto de lei, e encaminhados para a sede da Alerj, onde se encontraram com o presidente da casa, o Dep. Paulo Melo, para discutir o caso. O presidente da Asduerj alega que existem professores ativos e aposentados que há 12 anos não recebem reajustes em seus salários.

>>Em ato na Alerj, docentes da Uerj pedem votação da lei de Dedicação Exclusiva 

“Além de não estar sendo respeitado o acordo em relação à Dedicação Exclusiva à Universidade, os professores da Uerj estão há 12 anos sem receber reajuste salarial. Isso da uma defasagem de 83,8% no vencimento desses docentes” – comentou o presidente da associação dos docentes da Uerj, Bruno Deusdará.

Durante o encontro com os deputados Comte Bittencurt e Paulo Melo, o segundo disse que as considerações feitas pelos docentes seriam levadas ainda hoje para o conhecimento do governador Luiz Fernando Pezão.

“Queríamos que essa PL fosse votada ainda este ano, e pelo que percebemos isso não vai acontecer. O Dep. Paulo Melo disse que iria ainda hoje levar o caso ao conhecimento do Pezão (governador do Rio), pois segundo ele a aprovação depende do aval do governador”. Encerrou Deusdará.

*Do Programa de Estágio do Jornal do Brasil