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Sem grandes eventos, entorno da Novo Rio volta ser reduto do crime

Apesar das promessas do secretário Osório, no ano passado, fiscalização não é permanente

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O que parecia um sonho, que durou apenas enquanto acontecia a Copa do Mundo no Rio de Janeiro, agora voltou à dura realidade na rotina do trabalhador. O entorno do Terminal Rodoviário Novo Rio, porta de entrada da cidade e principal rota no trajeto das pessoas que se deslocam do subúrbio e Baixada Fluminense para o Centro e Zona Sul, voltou a ser ponto estratégico para ações de quadrilhas organizadas, população de rua que está dormindo no local e de camelôs irregulares que tentam vender as suas mercadorias tomando o espaço dos pedestres nas calçadas. 

Em uma reportagem do SBT Rio, divulgada nesta terça-feira (16/9), o produtor flagrou integrantes de uma quadrilha especializada na compra e venda clandestina do cartão RioCard negociando livremente na frente do terminal. Um homem compra do jornalista um cartão RioCard, por um valor bem abaixo dos créditos ainda ativos, para ser usado mais tarde na compra de passagens em determinados guichês dentro da rodoviária. Essas passagens são revendidas pelo grupo criminoso no entorno do terminal, a preços promocionais. Os itinerários preferidos são para as regiões Serrana e Costa Verde. Nos fins de semana, principalmente nas sextas-feiras, os bilhetes esgotam no guichês das empresas e os passageiros se tornam reféns dos 'cambistas'.

As denúncias foram feitas ao SBT e ao Jornal do Brasil pela mesma pessoa, que pediu para manter a sua identidade em sigilo, por questão de segurança. O denunciante afirmou que essa quadrilha já atua há muitos anos na região e o poder público "ainda não foi capaz de desarticular os bandidos". "Eles [membros da quadrilha] ficam com cerca de R$ 40 mil no bolso, aliciando a cada dia um número maior de passageiros. No fim de semana, eles devem faturar uns R$ 100 mil", disse, contabilizando uma média de 50 agentes do grupo.

Além da máfia do Riocard, o denunciante apontou mais um grupo mafioso que age no desembarque da Novo Rio. Segundo ele, taxistas não autorizados a atuar na região ficam aguardando turistas para oferecer preços promocionais, bem abaixo dos anunciados nos guichês oficiais das cooperativas. "Eles param os seus carros aqui na lateral do Inca [Instituto do Câncer, que fica em frente ao desembarque do terminal] e os agentes deles conseguem passageiros, param o carro aqui em frente e saem logo. Durante o percusso, eles lesam os turistas, cobrando preços altíssimos e se a pessoa não pagar, ficam sem as suas bagagens", conta o denunciante, acrescentando que já teve conhecimento que a 4a. Delegacia de Polícia, que atende a área, acumula várias ocorrências dos passageiros lesados pelos taxistas irregulares.

O delator dos esquemas mafiosos enumera outras irregularidade nas proximidades da rodoviária. Ele cita a ação dos ambulantes não registrados pela prefeitura, que apesar da presença da Guarda Municipal, vendem livremente os seus produtos, disputando os espaços das calçados com os passageiros com malas e grandes bagagens. "Eles guardam as suas mercadorias num prédio que fica aqui na Rua Equador, no número 580. Depois das 19 horas, quando a Guarda abandona a região, eles entram e saem com as mercadorias, tranquilamente", denunciou. A equipe de reportagem do Jornal do Brasil esteve no entorno do Terminal Rodoviário Novo Rio em diversos dias das últimas semanas, por volta das 5h30, confirmando tanto a ação dos camelôs irregulares quanto as ofertas dos taxistas clandestinos. 

No Terminal Padre Henrique Otte, que fica ao lado da Rodoviária Novo Rio e de onde saem as linhas municipais em direção à Zona Sul da cidade, o desafio dos passageiros é dividir espaço em uma crescente população de rua, que está utilizando o local como hotel. Nas últimas semanas, a a reportagem do Jornal do Brasil também constatou o aumento dessa população na área. Os mendigos estão dormindo ao lado das cabines das empresas de ônibus e, mesmo com dia claro, ficam deitados em papelão por todos os lados, enquanto os passageiros tentam embarcar nos coletivos. Durante a noite, o uso de entorpecentes e pequenos furtos vem causando medo nos pedestres. 

De acordo com a Secretaria Municipal de Ordem Pública (Seop), há fiscalizações rotineiras para coibir o comércio ambulante irregular no entorno da Novo Rio e quem é flagrado vendendo sem autorização em via pública tem a mercadoria apreendida. O órgão garantiu, em nota, que a fiscalização será intensificada. Quanto a denúncia recebida pelo JB sobre o depósito clandestino na Rua Equador, a Seop disse que vai apurar a denúncia e tomar as medidas cabíveis. "Desde o final de julho deste ano, já foram estourados nove depósitos clandestinos utilizados para armazenar mercadorias de ambulantes irregulares, sendo seis no Centro", diz o comunicado.

A Polícia Civil informou que há um procedimento que apura a ação de táxis piratas no entorno da Rodoviária Novo Rio, na 4ª DP (Praça da República). "Vale ressaltar que é fundamental que as vítimas registrem as ocorrências na delegacia. Apenas com o registro é possível realizar investigações individuais e em blocos com o objetivo de identificar e prender criminosos na área", diz a nota da PC.

Diariamente, cerca de 50 mil pessoas transitam pela Rodoviária Novo Rio. Nos feriados, esse número salta para 200 mil usuários / dia. 

Promessas não cumpridas

Em abril do ano passado, o então secretário de Transporte da prefeitura do Rio, Carlos Roberto Osório, que atualmente concorre a cargo para deputado estadual pelo PMDB, se comprometeu em uma reportagem ao RJ TV, da Rede Globo, que tomaria medidas enérgicas para combater a criminalidade no entorno do terminal, com relação aos pontos de táxi clandestinos. Osório admitiu que o problema é grave e uma "situação crônica" na região. 

A entrevista de Osório aconteceu dois meses antes da Jornada Mundial da Juventude no Rio, em julho de 2013. Na época, Osório prometeu a implantação de uma fiscalização 24 horas, através de um trabalho conjunto com o Batalhão de Policiamento de Turismo (BPtur), com a Guarda Municipal e com a Polícia Militar, em ações coordenadas. Osório disse que o esquema seria desenvolvido em parceria com os consórcios Novo Rio e Porto Novo, com a instalação de um "cinturão" de câmaras de vigilância da área externa, com uma conexão com o Centro de Operação Rio, ressaltando que as ações criminosas também eram praticadas por agente público.