ASSINE
search button

Marinha vai investigar morte de servidora grávida na porta do Marcílio Dias

Denúncias revelam que Caroline Rosa teve atendimento negado por equipe médica

Compartilhar

O comando do 1º Distrito Naval da Marinha do Brasil informou nesta sexta-feira (22/8) que instaurou procedimento administrativo para apurar as circunstâncias da morte da copeira Caroline Gomes Rosa, 27 anos, que prestava serviço terceirizado através da empresa Masan Serviços no Hospital Naval Marcílio Dias (HNMD), na Zona Norte do Rio de Janeiro. O Jornal do Brasil publicou nesta quinta (21) a denúncia de uma colega de trabalho de Caroline, afirmando que a copeira, grávida de sete meses, havia sido atingida por uma bala perdida durante o confronto entre policias militares da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) Camarista Méier e traficantes do Complexo do Lins, na última terça (19), e o seu socorro foi negado pela equipe médica do Marcílio Dias. Caroline morreu antes de dar entrada na Maternidade Municipal Carmela Dutra, no Méier.  

"O HNMD, que é destinado ao atendimento de militares e seus dependentes, sempre presta assistência à população dos arredores, em casos de emergência. Para melhor apuração dos fatos, foi instaurado o competente procedimento administrativo", diz o comunicado encaminhado pela Marinha ao JB

Segundo uma das copeiras da Masan Serviços Especializados que trabalhava com Caroline e presenciou o acidente, assim que começou o tiroteio em frente ao hospital, vários funcionários que estavam no ponto do ônibus em frente a unidade hospitalar correram de volta para a recepção e Caroline ficou caída no chão e sangrava muito. Os servidores pediram ajuda à equipe médica do Marcílio Dias, que negou atendimento à copeira, segundo o relato. "Impressionante, mas eles [equipe médica do hospital] nos falaram que não podiam fazer nada. Eles não socorreram a nossa colega", disse a funcionária que pediu para não ser identificada na reportagem. 

Na versão da funcionária, Caroline foi levada por populares para a Maternidade Municipal Carmela Dutra. Segundo a Secretaria Municipal de Saúde (SMS), a mulher chegou em óbito na maternidade e seu corpo foi encaminhado para o Instituto Médico Legal. A SMS não soube informar a causa da morte da vítima.

A empresa Masan Serviços Especializados, em nota, confirmou a morte de Caroline, mas negou que a funcionária tenha sido vítima de bala perdida. De acordo com a assessora, Caroline se assustou com o tiroteio e tentou correr para dentro do hospital, quando sofreu uma queda, batendo com a cabeça. "A causa do óbito foi uma hemorragia causada por queda. A empresa, que fornece seguro de vida para todos os seus funcionários, informa que está prestando toda a assistência à família e arcou com todas as despesas funerárias", diz o comunicado da Masan. 

Funcionários faltam o trabalho no Marcílio Dias com medo de novo tiroteio

"Depois da morte da Caroline, ninguém quer mais trabalhar no Marcílio Dias. Somos 230 copeiras e muitas estão pedindo transferência esta semana. Hoje [quinta-feira, 21/8] eu não fui trabalhar e ontem quase ninguém apareceu também. Tá todo mundo com muito medo e também revoltado com o hospital que negou atendimento. Tenho cinco filhos para criar ainda, não quero morrer não. Chega", desabafou a servidora da Masan. Segundo ela, a colega de trabalho morta na terça-feira deixou dois filhos pequenos, um de cinco e outro de nove anos. "Ela era uma excelente funcionária, uma pena isso", acrescentou emocionada.

O clima de tensão entre PMs da UPP Camarista Méier e traficantes teve início na terça de manhã, quando a PM realizou uma operação em uma das favelas do Complexo do Lins para verificar denúncias de propaganda eleitoral irregular. Os policiais foram surpreendido por homens armados e teve início um confronto na Rua Maria Luiza, que dá acesso ao Morro do Gambá e fica nas proximidades do Hospital Naval Marcílio Dias. A unidade hospitalar é uma das mais importantes da região. Na ocasião, o comando da UPP Camarista Méier informou que não houve feridos. 

O Jornal do Brasil entrou em contato na última quinta-feira (21) com a Coordenadoria das UPPs para buscar informações sobre a morte de Caroline Gomes Rosa, mas não houve retorno até o final da tarde desta sexta (22).