Os funcionários da empresa de segurança Facility estão enfrentando novamente um problema que já se tornou rotina: salário atrasado. Segundo o vigilante João** que trabalha em uma escola da Zona Oeste, ele está esperando seu salário desde o dia 6 (quinto dia útil) quando deveria ter saído. “Amanhã é feriado, com certeza não sairá o pagamento. Sexta é um dia morto e sábado e domingo a empresa não paga. Fico imaginando se segunda feira teremos o salário. Estamos com os aluguéis, telefone, água, luz, colégio tudo atrasado, por causa dessa situação do pagamento”, denuncia o vigilante.
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Além do salário atrasado, João reclama que não consegue falar com os supervisores. “Eles desligam seus rádios para não precisar dar explicações. Quando a gente consegue falar com os supervisores, eles falam que até o final do dia vai sair o pagamento. Falam isso desde a semana passada. Hoje seria um novo prazo, mas até agora nada. Eles estão brincando de enrolar os seus funcionários e enquanto isso estamos trabalhando. Trabalhamos o mês de maio de graça. E se faltamos, a chefia dos locais que trabalhamos entra em contato com a supervisão dizendo que o funcionário faltou e a empresa leva outro vigilante para trabalhar enquanto nós levamos falta”, completa.
João acha um desrespeito e tem medo de retaliação. “Até quando essa empresa vai fazer isso com a gente? Fica difícil porque prestamos um serviço para o Estado, e eles ficam empurrando, dizem que pagou a fatura, e a empresa diz que o governo não pagou a fatura e ninguém assume suas responsabilidades. Eu tenho medo porque eles são covardes, demitem por justa causa seus funcionários” completa.
Para ele, o jogo de empurra é absurdo “Isso não deveria existir. Se eu trabalho para a Facility, a empresa que tem que arcar com meu salário. Na hora de punir o vigilante, é a empresa que age, somos funcionários da empresa privada. Independente do repasse de dinheiro a empresa tem que arcar com os compromissos”, afirma.
João ainda denuncia que, desde que a empresa trocou de dono – no começo do ano ela foi comprada por um grupo investidor, e agora se chama Prol- a situação ainda não foi regularizada. “Ela foi vendida para outra empresa e mudou o nome mas seus funcionários ainda continuam usando o uniforme da Facility e com o nome da empresa na carteira. Além disso, eles demitem os funcionários e não comparecem na homologação para regularizar a situação".
O Sindicato dos Vigilantes do Rio de Janeiro (Sindvig) confirma a situação que a empresa coloca seus funcionários. “Desde que ela mudou de dono, a situação piorou. Todo mês eles estão atrasando e ninguém sabe direito quem são os donos, fazemos tudo sem saber muito bem quem realmente responde pela empresa”, comenta o vice-presidente do Sindicato dos Vigilantes do Rio (Sindvig), Antônio Carlos de Oliveira.
Ainda segundo ele, o sindicato já entrou em contato com a empresa sobre essa situação especificamente. Ele disse que a resposta foi que eles não tinham previsão e completou dizendo que o contato é difícil "Geralmente colocam advogados para falar conosco”, comenta. Oliveira informou que, visto a situação, essa semana o sindicato foi até o Ministério do Trabalho e pediu uma reunião em que a empresa esteja presente.
Há oito dias, os vigilantes declararam o fim da greve que passava de um mês e terminou sem suas reivindicações atendidas. Os vigilantes aceitaram a proposta do Sindicato das Empresas de Segurança Privada do Rio (Sindesp), de reajuste de 8%, passando o piso para R$ 1.066,00, tíquete refeição para R$ 13,00. A categoria queria reajuste de 10%, além de R$ 20 de tíquete refeição. Os grevistas conseguiram a garantia de não serem descontados pelos dias parados, tanto o salário quanto os benefícios. Eles também acordaram para a não punição aos grevistas, tendo a garantia de emprego por 90 (noventa) dias.
Para João, as vezes o sindicato "tenta ajudar e atrapalha": "Eles fizeram uma greve para não aceitar o acordo de março. Mas acabaram aceitando meses depois e não recebemos ainda a incorporação de março", lamenta.
O JB tentou contato com a Facility, mas não conseguiu falar com nenhum representante até o fechamento desta matéria.
* Do programa de estágio do JB.
** O nome foI trocados por medo do vigilante de sofrer represálias.