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Família do fotógrafo que morreu em frente ao INC diz que houve negligência

Se for comprovado, os envolvidos podem responder por homicídio

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A família do fotógrafo Luiz Cláudio Marigo, 63 anos, que morreu na tarde desta segunda-feira (2/6) após passar mal dentro de um ônibus em Laranjeiras, Zona Sul do Rio de Janeiro, acusa de negligência a equipe médica do Instituto Nacional de Cardiologia (INC), que segundo testemunhas teria se recusado a prestar socorro à vítima. O hospital, considerado referência no país, enfrenta uma greve dos servidores federais. A Polícia Civil instaurou inquérito para investigar se os médicos do INC que estavam de plantão se omitiram, e se for confirmado a negligência no atendimento ao fotógrafo, que sofreu um infarto, eles poderão responder criminalmente.

Segundo a Polícia Civil, o caso foi registrado nesta segunda (2) na 10ªDP (Botafogo), que já ouviu o motorista e o cobrador do ônibus. No entando, as investigações foram encaminhadas ára a 9ª DP (Catete), que instaurou inquérito policial para apurar a responsabilidade pela morte de Luiz Cláudio Marigo. A polícia vai ouvir o socorrista do Corpo de Bombeiros e também vai identificar os médicos que estavam de plantão no hospital para prestarem depoimento na delegacia. Outras duas testemunhas também vão ser ouvidas. De acordo com o delegado Roberto Gomes, titular da 9ª DP, caso seja comprovada responsabilidade, os envolvidos podem responder pelo crime de homicídio. 

O Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio de Janeiro (Cremerj) também se pronunciou nesta terça-feira com relação ao episódio. Em nota, o órgão disse que "irá apurar o caso".

Cecilia Banhara Marigo, viúva de Luiz Cláudio, considera um "absurdo" o fato do hospital não ter prestado socorro ao seu marido. Segundo ela, o motorista parou o coletivo na porta de um hospital especializado dizendo que estava com um passageiro sofrendo de uma crise cardíaca e mesmo assim ninguém prestou atendimento. Cecília passou em frente ao Instituto na hora que o marido aguardava por atendimento, mas não sabia o motivo da confusão. "Ele estava em frente a um hospital de cardiologia que é referência nacional. Deve ter centenas de cardiologistas lá dentro. Eu acho que isso tem que ser investigado, apurado melhor. Mas ao que tudo indica foi uma tremenda negligência, uma tremenda falta de respeito que pode ter custado a vida do meu pai", afirma o filho do fotógrafo, Vitor Marigo.

A Assessoria de Comunicação do Sindsprev-RJ, sindicato dos servidores da saúde que estão em greve, informou que o INC não está credenciado a atender emergências e que os dirigentes do sindicato devem se pronunciar sobre o episódio na tarde desta terça (3).

O Instituto Nacional de Cardiologia informou, em nota, que na manhã desta segunda, por volta de 11h, um ônibus parou em frente ao hospital e uma senhora chegou à recepção pedindo atendimento a um cidadão que “estava passando mal na rua”. "Por não ter sido dimensionada a gravidade do caso, o segurança do Instituto a orientou a chamar o serviço de emergência móvel - já que o INC não conta com uma unidade de emergência", diz o comunicado.

O INC alega ainda que assim que a sua equipe médica teve conhecimento que se tratava de um caso de parada cardíaca, seguiu para o ônibus para prestar o atendimento. "Paralelo a isso, foi disponibilizado um leito no CTI do hospital para recepção do cidadão em caso de sucesso da reanimação", garante o Instituto. A nota esclarece que o hospital não realizou a remoção imediata da vítima em função de um protocolo de reanimação cardíaca, que orienta que não é recomendável a mobilização do paciente. Afirma ainda que, apesar de não contar com serviço de emergência, mesmo assim o INC disponibiliza infraestrutura necessária para atendimento de urgência 24 horas por dia. 

O comunicado do hospital informa que na mesma manhã em que Luiz Claudio esteve na entrada da unidade médica, quatro casos de emergência foram atendidos pela equipe médica do ambulatório para tratamento especial, além de 223 consultas ambulatoriais realizadas, o que representa um funcionamento normal da instituição, apesar da greve.

De acordo com as testemunhas, o fotógrafo aguardou por mais de uma hora por ajuda médica do INC. Segundo as pessoas que estavam no coletivo, Marigo começou a reclamar de fortes dores assim que entrou no coletivo da linha 422 (Grajaú-Cosme Velho), no Largo do Machado. Ele desmaiou e o motorista conduziu o veículo até a entrada do INC, onde foi informado que o hospital não tinha emergência. O motorista chegou a chamar o Samu, que demorou cerca de 30 minutos para chegar ao local. Marigo recebeu socorro dos paramédicos de uma ambulância que chegava para deixar outra paciente no Instituto. O fotógrafo foi reanimado, mas desmaiou novamente. 

O motorista disse na 10a. DP (Botafogo), onde prestou depoimento, que também acionou o Corpo de Bombeiros, mas uma equipe só apareceu 25 minutos depois. Os médicos do hospital também só apareceram após a chegada dos bombeiros, quando o homem já tinha morrido.