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Mãe de acusado de matar cinegrafista acredita em absolvição

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A mãe de Caio Silva de Souza, um dos jovens acusados de matar o cinegrafista da TV Bandeirantes Santiago Andrade durante uma manifestação no centro do Rio de Janeiro, espera que o filho seja inocentado da acusação. Caio e Fábio Raposo Barbosa começam a ser julgados na tarde desta sexta-feira (25) pelos crimes de explosão e homicídio doloso triplamente qualificado – por motivo torpe, impossibilidade de defesa da vítima e uso de explosivo. 

Santiago morreu após ser atingido por um artefato explosivo em uma manifestação no centro da capital fluminense contra o aumento do preço do ônibus em 6 de fevereiro. A audiência de instrução e julgamento estava marcada para as 13h na 3ª Vara Criminal do Tribunal de Justiça do Rio. Às 15h10, estava depondo a primeira testemunha de acusação, o delegado que apurou a morte de Santiago, Maurício Luciano de Almeida, que relaatava como foi o início das investigações.

Ao todo, foram arroladas 17 testemunhas para prestar depoimento, sendo nove para defesa e oito de acusação. Entre elas estão jornalistas e policiais. Primeiro, o juiz Murilo Kieling escuta as testemunhas de acusação e, em seguida, as de defesa. Mas a previsão é que sejam necessárias mais duas audiências só para ouvir a totalidade das testemunhas. Só depois de ouvir as testemunhas e interrogar os réus é que o juiz deve decidir se eles vão a júri ou não.

Marilene Mendonça da Silva, 49 anos, mãe de Caio, disse que o que aconteceu foi uma fatalidade. "Ele colocou o artefato no chão para fazer barulho, não direcionou para o cinegrafista. Ele não esperava que isso fosse acontecer. Estou tranquila, ele vai poder explicar ao juiz o que as câmeras não filmaram", disse Marilene.

Na plateia estão curiosos e amigos dos réus, como o estudante Claudio Dutra, 19 anos, amigo de Fábio. "Essa prisão foi injusta, feita para tentar criminalizar e esvaziar o movimento, dizer que só tem bandido nas manifestações", afirmou Claudio.

De acordo com a Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro, o cinegrafista chegou em coma ao hospital municipal Souza Aguiar. Ele sofreu afundamento do crânio, perdeu parte da orelha esquerda e passou por cirurgia no setor de neurologia. A morte encefálica foi informada em 10 de fevereiro, depois do diagnóstico da equipe de neurocirurgia do hospital.

Caio Silva de Souza e Fábio Raposo são acusados de acender e soltar o rojão que provocou a morte de Santiago. De acordo com a denúncia do Ministério Público, “Fábio e Caio foram caminhando, lado a lado, com camisas enroladas na cabeça, estando Fábio ainda se utilizando de uma máscara à prova de gás, até próximo ao local onde o rojão foi acionado. Fábio, então, entregou o artefato para Caio e se posicionou de forma a poder observar o resultado de sua ação criminosa. Caio colocou o rojão em um canteiro e o acionou, afastando-se correndo do local”.

O MP afirma também que os dois jovens dividiram previamente suas tarefas em meio ao protesto e que, ao acender o rojão, os dois queriam “causar um grande tumulto no local, não se importando se, em decorrência dessa ação”. ”Com Fábio entregando para Caio o rojão com a finalidade, previamente por ambos acordada, de direcioná-lo ao local onde estava a multidão e os policiais militares e, assim, causar um grande tumulto no local, não se importando se, em decorrência dessa ação, pessoas pudessem vir a se ferir gravemente, ou mesmo morrer, como efetivamente ocorreu”, afirma a denúncia.

A promotora Isabella Pena Lucas disse que entre as testemunhas que deve ouvir estão policiais militares que vão demonstrar a atuação dos manifestantes nos protestos, e afirmou que é preciso separar quem atua de maneira pacífica e quem é vândalo nas manifestações. Serão ouvidos também policiais civis e técnicos em explosivos que vão dar informações detalhadas de como funciona o explosivo usado, com todas as consequências que ele pode ter.

Atingido em protesto, cinegrafista tem morte cerebral

Santiago foi atingido na cabeça por um rojão durante a cobertura de um protesto contra o aumento das passagens de ônibus no Centro do Rio de Janeiro, no dia 6 de fevereiro. Além dele, outras seis pessoas ficaram feridas na mesma manifestação.

De acordo com a Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro, o cinegrafista chegou em coma ao hospital municipal Souza Aguiar. Ele sofreu afundamento do crânio, perdeu parte da orelha esquerda e passou por cirurgia no setor de neurologia. A morte encefálica foi informada pela secretaria no início da tarde de 10 de fevereiro, após ser diagnosticada pela equipe de neurocirurgia do hospital onde ele estava internado no Centro de Terapia Intensiva.

O tatuador Fábio Raposo confessou à polícia ter participado da explosão do rojão que atingiu Santiago. Ele foi preso na manhã de domingo em cumprimento a um mandado de prisão temporária expedido pela Justiça. O delegado Maurício Luciano, titular da 17ª Delegacia de Polícia (São Cristóvão) e responsável pelas investigações, disse que Fábio já foi indiciado por tentativa de homicídio qualificado e crime de explosão e que a pena pode chegar a 35 anos de reclusão.

Raposo ajudou a polícia a reconhecer um segundo responsável pelo disparo do artefato que causou a morte do cinegrafista. O tatuador, preso no Complexo Penitenciário de Gericinó, na zona oeste do Rio de Janeiro, afirmou, de acordo com o relato do delegado, que “eles se encontravam em manifestações" e que "esse rapaz tem perfil violento”.

A Polícia Civil do Rio de Janeiro divulgou, na manhã do dia 11, uma foto do suspeito de ter acendido o rojão que atingiu Santiago Andrade. Caio Silva de Souza, 23 anos, é considerado foragido e tem duas passagens pela polícia. Fábio Raposo, que passou o rojão, reconheceu o autor do disparo a partir da imagem levada pelo delegado. Ele está sendo procurado por homicídio doloso qualificado – quando há intenção de matar – por uso de artefato explosivo e pelo crime de explosão.

Procurado por homicídio doloso qualificado – quando há intenção de matar – por uso de artefato explosivo e pelo crime de explosão, o suspeito foi preso na madrugada de 12 de fevereiro em uma pousada na cidade de Feira de Santana, na Bahia. De acordo com o advogado Jonas Tadeu Nunes, que também defende Fábio Raposo, Caio Silva de Souza seguia em direção ao Ceará, para a casa de um avô, mas foi convencido a se entregar. Ele não reagiu ao ser preso.