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'O estado do Rio tentou apagar a memória de 514 anos', diz Guajajara

Em manifestação no Dia do Índio, povos lutam pelos seus direitos

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“Hoje é 19 de abril e nós viemos aqui porque esta é a nossa casa. Sempre foi e sempre vai ser. Nada vai nos tirar isso. O estado [do Rio de Janeiro] tentou apagar a memória de 514 anos de história, mas nós estamos aqui reafirmando que esse é um patrimônio indígena e que tem que ser preservado.” Com essa frase Urutau José Guajajara justifica a mobilização de cerca de 40 pessoas para marcar o Dia do Índio. O ato começou às 12h deste sábado (19), em frente ao antigo Museu do Índio, que retratava mais de cinco séculos da história indígena.

“Vamos ficar o dia todo aqui com o objetivo de sustentar esse terreno como patrimônio das populações originárias e da nação brasileira”, disse José. Ele também relembrou as manifestações que aconteceram no ano passado, quando o prédio, conhecido como Aldeia Maracanã, foi desocupado. “Já tentaram apagar a memória, se a gente não prestar atenção, vão derrubar isso aqui. Porque eles têm escritura”, pontua.

Para o professor da língua guarani, Guazara Tanterrateré Tenena, o estado do Rio de Janeiro está fechando os olhos para a situação dos índios. “Precisamos de alguém que veja a situação que estamos vivendo e que entenda que o índio tem direitos. Isso aqui é nosso e ninguém reconhece”, lamenta, se referindo ao prédio da Aldeia Maracanã.  “O índio agora está lutando pelo que ele tem direito, mas não recebe. Principalmente este prédio, nossa moradia. O governo achou engraçado pegar esse patrimônio nosso e repassar. Agora nós estamos lutando para ver se a gente retoma”. Apesar do esforço, Guazara acredita que “vai ser difícil, porque o índio nunca teve força para ter o seu direito”.

No ato realizado hoje, diferentes etnias se reuniram para realizar rituais originários, fazer pintura corporal e entoar cantos. As crianças participaram de atividades especiais, que também refletiram sobre os direitos e aspectos da cultura indígena. Os índios defendem que seu patrimônio de direito é de, pelo menos, 14.300 metros.

O ato

O ato também teve repercussão nas redes sociais. Ativistas, que apoiam a causa indígena, utilizaram o Facebook para anunciar a mobilização. Um evento nomeado  "Dia Internacional de Combate ao Etnocídio Indígena" foi criado.

A página se direciona "a todas as pessoas de origem indígena e/ou que requerem sua auto-afirmação, exercício de usos, costumes e convivência comunitária tradicionais, vivendo em situação (sub)urbana ou em aldeamentos do estado do RJ" e "todas as organizações, movimentos, de defesa dos direitos dos povos historicamente minorizados, da luta e das causas indígenas e da Resistência da Aldeia Maracanã".

Relembre o caso

Em outubro de 2012, o governo do estado do Rio de Janeiro anunciou a demolição do prédio do antigo Museu do índio. A mudança faria parte do projeto para receber a Copa das Confederações (2013), a Copa do Mundo (2014) e a Olimpíada (2016). O objetivo era revitalizar a região e construir um estacionamento, um centro comercial e também áreas para saída do público. 

O Museu do índio funcionou no local de 1910 e 1978 e, depois, foi desativado. Assim, ele foi ocupado pelos índios desde 2006 e, por isso, ficou conhecido como Aldeia Maracanã. Os índios defendem que, com o Museu desativado, 514 anos de história indígena se perderam, já que o acervo do Museu retratava mais de cinco séculos de história de diversas etnias brasileiras. A área ocupada pelo edifício é de cerca de 1600 m².

No ano passado, a 8ª Vara Federal Cível do Rio de Janeiro concedeu imissão de posse para o governo estadual e notificou os índios no dia 15 de março. A desocupação terminou em confronto entre policiais e índios. O prédio foi tombado por um decreto da Prefeitura e não foi demolido, contudo, continua desocupado. No ato de hoje, os índios tentaram invadir o prédio, mas foram impedidos pelos policiais, que estavam divididos em onze viaturas.

* Do Programa de Estágio do Jornal do Brasil