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Maré: Menor confessa ter matado primo encontrado em máquina de lavar

Adolescente de 14 anos assumiu o crime e disse ter sido um impulso após discussão

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Um menor de 14 anos assumiu na tarde desta quinta-feira (17) a responsabilidade pela morte do próprio primo, de apenas 4 anos. A vítima foi Caio Henrique Santos da Silva, que estava desaparecido desde a última quarta-feira (16) e que havia sido encontrado na manhã de hoje dentro da máquina de lavar da casa da mãe, localizada na Baixa do Sapateiro, no Conjunto de Favelas da Maré, Zona Norte do Rio.

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Segundo a polícia, o motivo do crime teria sido uma briga. O adolescente disse ter “perdido a cabeça” e alegou ter agido por impulso após ter discutido com o primo de 4 anos. De acordo com o delegado Delmir Gouveia, titular da 21ª DP (Bonsucesso), para onde o adolescente foi levado, a vítima recebeu quatro facadas no peito. O menor teria ainda enrolado o corpo do primo em um edredom e colocado então dentro da máquina de lavar.

O desaparecimento de Caio foi percebido na noite de quarta-feira, durante uma manifestação que acontecia no Conjunto de Favelas da Maré, onde um processo de ocupação policial vem acontecendo desde o dia 5 de abril. De acordo com o delegado, a mãe de Caio não estava presente na hora que o crime aconteceu.

Parentes da criança teriam ainda passado toda a noite procurando o menor até então desaparecido e, de acordo com o major Alberto Horita, assessor de imprensa das tropas militares, por volta das 22h, as tropas teriam sido comunicadas sobre o desaparecimento de Caio. Mãe de outros cinco filhos, a cozinheira Vanessa Lima dos Santos foi notificada que o corpo recebeu a informação de que o corpo tinha sido encontrado no momento em que prestava uma queixa na delegacia, sobre o desaparecimento do filho.

Foram necessários dezenas de militares para buscar o menor de 14 anos e encaminhar para a 21ª DP. A casa onde ele mora foi cercada por vários moradores da Maré, revoltados com a morte de Caio.

Maré vive dias difíceis

A comunidade já passa por um período conturbado, devido ao processo de pacificação pelas polícias do Rio e Forças Armadas e agora ficou ainda mais sensibilizada com a morte do menino Caio. Menos de duas semanas desde o início da operação de ocupação pelas Forças de Pacificação do Exército, a morte dele já é o terceiro óbito na região. Teresinha Justino, de 67 anos, foi atingida por dois tiros na última segunda-feira (14) na saída de uma farmácia e, no sábado (12), Jeferson Rodrigues da Silva também foi morto durante uma troca de tiros na comunidade Vila do João.

Para Maurício Campos, da Rede Independente Contra Violência nas Comunidades, muitos problemas tem surgido no processo de pacificação da Maré em uma velocidade maior do que em outras experiências de pacificação. “A situação que se cria é a de que acontece a ocupação, mas o tráfico permanece e as pessoas ficam muito temerosas de se expor pra fazer denúncias. Antes da chegada das Forças de Pacificação do Exército, vários relatos foram feitos de que não se tratava realmente de uma ocupação realmente, a polícia ficava só nos limites da comunidade. A estabilidade estimulou de certa forma que as diferentes gangues atacassem umas às outras”, conta Maurício sobre a semana que antecedeu a entrada efetiva do Exército.

Ele contou ainda que depois da entrada do Exército, começou a haver uma presença permanente de soldados pelas ruas. “Mas ai começaram a acontecer problemas como o do moto-taxista baleado. O Exército agiu de forma semelhante à Polícia, reprimindo. Nesses casos a dúvida de confronto é muito grande. No caso da senhora de 67 anos, o Exército e a polícia diz que não revidaram os ataques, mas é muito difícil estabelecer”, avalia.

Maurício diz que esse tipo de ocorrência não deveria nem acontecer. “Esses eventos são inadmissíveis, visto que uma das funções da ocupação é ter poder de dissuasão suficiente pra evitar esse tipo de coisa”, critica.

Em nota, o Comando da Força de Pacificação da Maré informou que, nos conflitos que aconteceram na última quarta-feira (16), em paralelo com o desaparecimento de Caio, uma grande quantidade de substâncias semelhantes à maconha e cocaína foi apreendida, além de dezenas de cartuchos de diversos calibres. Um pouco antes das 20h, um homem também teria sido preso por desacato na comunidade Baixa do Sapateiro.