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Lagoa: "Vai ser um vexame receber as delegações", diz Federação de Remo

Para presidente da instituição, a Olimpíada não está trazendo o investimento que prometia 

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A Lagoa Rodrigo de Freitas, na Zona Sul do Rio de Janeiro, será um dos locais de competições de remo durante as Olimpíadas de 2016. Para Paulo Carvalho, presidente da Federação de Remo do Estado do Rio de Janeiro (Frerj), o Complexo de Remo e a Lagoa podem dar um vexame nas Olimpíadas. Apesar da Secretaria Municipal de Meio Ambiente (Smac) garantir que monitora a Lagoa e que ela está "equilibrada e controlada", Carvalho reclama de cheiro ruim, barcos que esbarram em objetos e lembra da mortandade de peixes sazonal que costuma acontecer. Além disso, não vê investimento substancial num dos esportes mais tradicionais do Rio. 

"A sujeira, a eventual mortandade de peixes, o cheiro ruim, os danos aos barcos. Tudo isso são problemas que a equipe de remo tem que conviver na Lagoa. A Lagoa está poluída, sim. É um vexame receber essas delegações", denuncia. "Temos uma preocupação muito grande com o legado que a Olimpíada vai deixar e pelo que eu estou vendo, não vai ter legado nenhum. Vai ter uma raia e um partidor e só. Isso não é investimento no remo, isso não é legado", completa.

Reiterando a preocupação internacional com os atrasos para o Mundial e a lentidão nos preparativos para a Olimpíada, Carvalho diz: "Acho que vamos ter o mínimo que se tem para competir. Como sempre, no último momento vai se fazer alguma coisa provisória e o remo vai perder a grande oportunidade para desenvolvimento real do esporte". O que ele e os atletas esperavam era um verdadeiro complexo de remo, na Lagoa, historicamente reconhecida por ser palco das competições do esporte que já foi um dos mais populares no Rio de Janeiro, especialmente no século XIX, inclusive sendo os precursores das equipes mais tradicionais de futebol da cidade, como Flamengo e Botafogo. 

Segundo Carvalho, o que ficou do Pan-Americano de 2007 foi quase nulo: "Não temos legado nenhum do Pan. A única coisa que ficou foi um partidor abandonado, que hoje temos que prender com correntes para não sair pela Lagoa. O que fizeram na época foram as raias e tiveram uns catamarãs. Não estão preocupados com o fomento do esporte e estamos renegados a um segundo plano. Hoje, o espaço do remo está servindo para cinema", denuncia. 

Ele se refere a construção do Lagoon, que envolve uma Ação Civil Pública (ACP) do Ministério Público contra irregularidades no termo de permissão que a empresa Glenn (atualmente Glem), que construiu o complexo de cinema no espaço. Segundo ele, a empresa não respeita o espaço da Federação de Remo, a quem foi dado o direito de utilizar o espaço anteriormente. A Glem, através de seu relação institucional, Marco Aurélio, declarou que "não tem problemas no local". 

Para Carvalho, isso só atesta como o poder público não está interessado num verdadeiro investimento no esporte. "É um absurdo nós não termos nem um letreiro. Não tem nem placa de trânsito sinalizando o Complexo de Remo. É por isso que ninguém quer saber da Copa do Mundo, porque o povo vê como as coisas estão sendo feitas", comenta. 

Para Alessandro Zelesco, porém, a questão ambiental melhorou. O presidente do Clube de Regatas Piraquê, que também utiliza a Lagoa para treinamento, vê uma melhora na qualidade da água da Lagoa: "quando não está chovendo, você vê a água muito limpa, chega a ver o fundo a um metro de profundidade nas margens", comenta. "Nesse aspecto, acho que é reflexo do cinturão de esgoto que construíram, mas quando chove ainda desce muita coisa dos rios", completa. 

Despoluição da Lagoa

Segundo o professor do Programa de Engenharia Oceânica, Paulo César Rosman, o cinturão da Lagoa, que desvia o esgoto que chega no local, construído nos anos 90, não é suficiente para que a Lagoa esteja de fato em seu estado ideal. "A Lagoa continua completamente asfixiada, com uma diversidade biológica baixa, e uma extrema vulnerabilidade ambiental", revela. A assessora de imprensa da Smac, Daniela Araújo, respondeu que a situação é equilibrada. "Temos um boletim diário, feito com base em monitoramento que acontece 24 horas por dia". 

Autor da pesquisa que levou ao programa Lagoa Limpa, patrocinado pela EBX, de Eike Batista, Rosman explica: "A remoção de esgoto foi feita, mas é insuficiente. Lá tem um excesso de poluição. A única maneira de diminuir o estoque é tirar mais do que deposita". Daniela Araújo acredita que o problema da Lagoa não é a poluição e que a geografia explica a situação na qual ela se encontra. "A Lagoa existe porque o carioca ama a Lagoa, ela deveria ter desaparecido. Sempre que ela entra para secar, a gente entra para dragar. O canal era a única ligação da Lagoa com o mar, se a gente não tivesse vindo desassoreando ela teria desaparecido".

Para Rosman, o problema realmente está na ligação do canal com o mar e que um aumento na troca das águas iria melhorar a situação ambiental no local. "É necessária uma permanente ligação entre o mar e a Lagoa. O canal que existe hoje, no Jardim de Alah, tem a embocadura instável, e constantemente é entupido pela areia do mar", comenta. Segundo ele, depois de projetos serem rejeitados por causa de mudanças na paisagem, ele sugeriu a construção de dutos subterrâneos para manter essa ligação constante. 

Questionada sobre o Lagoa Limpa, Araújo esclareceu que o projeto foi concluído no que se propôs: entregar o plano e fazer uma avaliação de vazamentos de esgoto e também dragagem. Os resultados dos estudos e o plano foram entregues ao poder público.  A EBX respondeu que não vai comentar o assunto. A proposta de dutos de Rosman, que seria a "última fase" na questão da despoluição, segundo a Smac, está esperando decisão do Inea. Contatado, o Instituto Estadual de Meio Ambiente respondeu que o processo não está mais no órgão, por decisão da prefeitura. Já a Smac informou que o processo é responsabilidade da Rio Águas, que não comentou a questão até o fechamento desta matéria. 

 * Do programa de estádio do Jornal do Brasil