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Tombamento Célio de Barros e Júlio Delamare em foco

Em audiência, professores e atletas citam dificuldades 

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Em audiência pública realizada na manhã desta quinta-feira, a demolição do estádio de atletismo Célio de Barros e do Parque Aquático Júlio Delamare foi questionada, e foi pedido o tombamento dos dois estádios.

 Os atletas alegam não ter local para treinamento no Rio de Janeiro, enquanto o Governo do Estado não constrói os novos equipamentos esportivos.

O defensor público da União, André Ordacgy, entrará com uma ação pública pedindo a suspensão das demolições e o tombamento a nível federal: 

'' O artigo 1º  do decreto-lei 25, de 1937, prevê o tombamento para preservação da memória nacional. Por isso, vamos atrás dos documentos históricos para mostrar que a liminar tem de ser concedida pela preservação do esporte nacional. O Iphan, que autorizou a demolição dos dois estádios, será réu neste processo', explicou o defensor. 

A professora de Atletismo e coordenadora do Projeto Rio 2016,  Edneida Freitas, de 48 anos, diz que a situação é dramática para muitos atletas, vários moradores de comunidades nos arredores do Complexo: 

“Fomos os primeiros a ser atingidos, no dia 9 de janeiro. Os atletas têm que pegar duas conduções para ir treinar no Engenhão, muitos que sem o esporte vão parar na rua, no crime. E as alternativas, Engenhão e a Quinta da Boa Vista, não são apropriadas. Não teremos atletas entre os 10 melhores do Brasil do Rio de Janeiro. E não deram nenhum suporte para treino, transporte, nada, lamenta ela, que de 320 atletas passou a treinar apenas 180 após o início da demolição. 

A viúva de Júlio Delamare, Míriam Delamare ,esteve presente na audiência e se emocionou ao falar do legado do marido:

''É muito importante manter não só um local de competição, sobretudo para o esporte comunitário', disse Míriam. 

O presidente da Federação de Atletismo do Rio de Janeiro, Carlos Alberto Lancetta, está indignado com o prazo dado pela IMX, uma das ganhadoras da licitação, para a construção de novos equipamentos: 

'Está na licitação que serão 30 meses para construção de outros equipamentos. Quando eles estiverem prontos, já será abril de 2016, e a Olimpíada acontece em julho. Vamos acabar com a memória de um local que já abrigou atletas como Aída dos Santos, João do Pulo, Ademar Ferreira da Silva e outros', disse Lancetta, acrescentando que em nenhum momento foi procurado pelo Iphan para tratar da demolição. Ele reclamou ainda de uma proposta "ridícula" feita para o local dos novos equipamentos.

“Eles querem usar uma área de 22 mil m² para ser dividida entre a Federação de Atletismo do Rio e a Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos. Só o Célio de Barros, por exemplo, tinha 25 mil m². Como que vou utilizar tão pouco espaço? Como a CBDA terá apenas 6 mil m² para treinar todos os seus atletas?”, questionou Lancetta.

 Pragas e ironias

O presidente da Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos(CBDA), Coaracy Nunes, criticou a omissão de Carlos Arthur Nuzman, presidente do Comitê Olímpico Brasileiro.

'Em entrevista, ele se declarou a favor das demolições, em solidariedade ao governador. Enquanto isso, nos cortaram hoje a água quente para treinarmos. Não podemos contrair o risco de os atletas contraírem hipotermia. A partir de amanhã, sairemos de novo do Parque', revelou Nunes,que ainda rogou uma praga contra os governantes que estão 'destruindo o esporte no Rio',segundo ele. "Não serão eleitos. Perder eleição é a única coisa que eles temem", disse, enfático. 

O deputado estadual Marcelo Freixo(PSOL) elogiou a iniciativa da Defensoria Pública da União, apesar de achar que a discussão poderia ter começado antes. Segundo o presidente da Comissão de Direitos humanos da Alerj, a falta de instalações esportivas na cidade mostra que a prioridade não é o esporte: 

" São ciclistas sem velódromo, pilotos sem autódromo, nadadores sem piscina e atletas sem estádio. Esse é o quadro do esporte na cidade olímpica, que mostra qual é a prioridade do governo do Estado e da prefeitura", ironizou Freixo.

 Apesar de não ter podido estar presente, o deputado federal Romário(PSB), emitiu uma nota lamentando "a mentira do legado olímpico que desmancha o patrimônio do nosso esporte" e apoiando a suspensão das demolições. 

Convidados para a audiência, o secretário da casa-civil, Régis Fitchner, e o Secretário de Esportes, André Lazaroni, não compareceram.

Dramas

Duas atletas de saltos ornamentais deram o tom do drama vivido pelos atletas que frequentam os dois estádios. “São 10 mil atletas por ano lá e chamam o Júlio Delamare de ocioso”, lamentou Mônica Amaral, de 19 anos, da Seleção Brasileira da modalidade.

“Estamos retrocedendo na preparação para as Olimpíadas. Agora, sem o Júlio Delamare, vamos ter que procurar outro local para praticar, treinando menos horas porque a piscina não é nossa, gastando dinheiro para usar as instalações dos outros. Estão acabando com o nosso esporte”, disse Mônica, arrancando lágrimas dos presentes.

Uma outra atleta, identificada como T.T, de apenas 14 anos, que poderia estar vivendo o sonho de disputar um campeonato Sul-Americano na Colômbia, vê na competição que se inicia no dia 3 de junho um pesadelo cada vez mais próximo. “Faltam menos de 20 dias e não temos local para treinar para a competição. O Parque Aquático Júlio Delamare é tudo para mim, e realmente não sei o que vai acontecer a partir de agora”, lamentou a atleta.