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Música e comoção no último adeus a Oscar Niemeyer

Amigos, familiares e admiradores foram ao cemitério São João Batista se despedir do arquiteto

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Familiares, amigos e uma grande massa de admiradores foram ao Cemitério São João Batista, em Botafogo, no Rio, para dar o último adeus ao arquiteto Oscar Niemeyer nesta sexta-feira (7). Inicialmente, o enterro seria fechado apenas para parentes e amigos, mas não foi possível conter todos os que foram se despedir do mestre da arquitetura. Durante a cerimônia, a viúva Vera Lúcia se sentiu mal e teve de ser amparada. 

O corpo do arquiteto, que estava sendo velado no Palácio Guanabara desde as 8h da manhã, veio em cortejo ao cemitério em um veículo do Corpo de Bombeiros. O trânsito sofreu modificações para comportar a movimentação.

>> Velório de Oscar Niemeyer foi parcialmente aberto ao público 

"Mesmo quem não o conhecia tinha um amor muito grande por ele, pela sua forma generosa de ser", diz o neto, Carlos Oscar Niemeyer, emocionado com a comoção popular após a morte do avô. "O legado para a família é a forma como nos ensinou a ser pessoas preocupadas com as dificuldades sociais. A vida é um segundo, por isso, precisamos aproveitá-la bem, de uma forma bacana, perto da família e dos amigos. A palavra é solidariedade. O mundo precisa ser mais justo", afirmou Carlos.

"Carinhoso" e "Cidade Maravilhosa"

A Banda de Ipanema, da qual Niemeyer era patrono desde 2010, esteve no local para homenageá-lo. Foram tocadas as canções Carinhoso e Cidade Maravilhosa, a última no  momento em que foi fechado o caixão. Segundo Cláudio Pinheiro, presidente da banda, a escolha das músicas dialogam diretamente com a obra de Niemeyer.

"Carinhoso e Cidade Maravilhosa são músicas muito relacionadas com a obra dele.  Carinhoso por sua representação na música popular brasileira, e Cidade Maravilhosa porque o Rio teve o orgulho de abrigá-lo e respeitá-lo por muitos anos", afirmou Pinheiro. "Ele é patrono da banda desde 2010, mas já havia sido homenageado na década de 90. O Oscar tem que ser lembrado como um cidadão pleno em seus direitos, suas obrigações e seu compromisso com o povo. Não pode ser esquecido".

Para Raimundo Alves da Silva, coveiro do cemitério há 18 anos, selar a lápide da sepultura do arquiteto foi uma honra. "Participo de quase todos os enterros de famosos no São João Batista. Hoje não estava escalado, mas fui chamado às pressas porque o rapaz que ia fechar a sepultura é novo no trabalho. Mesmo de folga, eu viria aqui como popular porque admiro a história pessoal e as obras que foram de autoria de Niemeyer. Tenho um livro que conta a sua história", afirmou Raimundo, que já trabalhou no enterro de outras personalidades, como Tom Jobim e Nelson Gonçalves. 

Na opinião do agente de segurança José Brasil, que foi ao cemitério mesmo sabendo que não seria permitida a entrada de populares, a presença no local deveria ser um "dever de todos os brasileiros". 

"É uma data histórica para todos nós. Niemeyer mexeu com a história e realizou trabalhos em diversas cidades do país. Ver uma pessoa dessa natureza, com uma importância tão grande, sendo enterrada na minha cidade, tem que acompanhar", afirmou o agente de segurança.

Internacional   

Também estiveram presentes na cerimônia representantes do Partido Comunista e do PDT, que fizeram parte da trajetória política de Niemeyer. Novamente, os presentes cantaram A Internacional, hino dos comunistas.  

Para o bisneto Paul Niemeyer, a lembrança do hino foi "um momento muito especial". Segundo ele, o momento de maior comoção para a família foi quando o Movimento dos Sem Terra (MST) cantou A Internacional em Brasília, gesto que se repetiu no Rio pela manhã. "Representa tudo o que ele foi como pessoa", disse Paul. 

"É muito bonito ver a comoção do povo. O sentimento é de tristeza, mas ficamos felizes de ver o reconhecimento não apenas da obra, mas do legado ideológico dele", finalizou. 

*Do Projeto de Estágio do Jornal do Brasil