ASSINE
search button

Morte de PM em UPP devolve medo e tensão ao Complexo do Alemão

Fabiana Aparecida de Souza foi assassinada na Unidade de Polícia Pacificadora da Nova Brasília

Compartilhar

O tiroteio que matou a soldado Fabiana Aparecida de Souza, 30 anos, lotada na Unidade de Polícia Pacificadora da Nova Brasília, no Complexo do Alemão, assustou policiais e moradores no conjunto de favelas da Zona Norte do Rio. Os estampidos da troca de tiros, que teria durado cerca de 40 minutos, foi o suficiente para devolver a tensão nos rostos de quem transitava pelas ruas da região e que desde novembro de 2010, quando ocorreu a ocupação policial, não lidavam com esta situação.

“A vida de policial é assim, lamentavelmente”, disse um PM da UPP da Nova Brasília, que não se identificou e não deixou de empunhar sua pistola por um segundo sequer. “Sempre soube do perigo, mas não achava que teriam tamanha audácia de atacar nossa base”.

Moradora na Nova Brasília desde que nasceu, a dona de casa Mariana Vaz de Sousa, de 28 anos, lembrou dos momentos de pânico que viveu ao lado do filho, de 3 anos, durante o tiroteio.

“Faz muito tempo não ouvia tantos tiros aqui na favela, foi uma coisa horrível. Me joguei no chão e deitei sobre meu menino”, recordou. “Mas pior do que os tiros é a volta desse monte de policial armados até os dentes, revistando todo mundo, e nem sempre da forma mais educada”.

Ciente da atuação de traficantes na comunidade, o comerciante José Miguel Rabelo disse que sempre existiu o medo e o temor de um embate entre bandidos e policiais.

'Uma hora ou outra teria um confronto. A bandidagem atua aqui como quer e os policiais parecem fingir não ver. Foram tomando coragem e atacaram o símbolo da presença da polícia na favela".

Homens do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope) vasculharam a favela, com o auxílio de cães farejadores, em busca dos criminosos que participaram do tiroteio. De acordo com a secretaria estadual de Segurança, o Bope ficará no Complexo do Alemão por tempo indeterminado. Policiais do 16º BPM (Olaria) e do 22º BPM (Maré) patrulharam no entorno da comunidade.

Três supostos envolvidos na morte da soldado Fabiana, um deles menor de idade, e os outros dois com antecedentes criminais, foram presos durante as buscas na favela Nova Brasília. Uma mochila com maconha, cocaína, material para embalo de drogas e uma granada caseira foram apreendidos durante as buscas. Os detidos e as apreensões foram encaminhados para a 21ª DP (Bonsucesso).

Primeira PM morta em combate na história

A soldado Fabiana Aparecida de Souza morreu após levar um tiro de fuzil 762, em um ataque à Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) da comunidade de Nova Brasília, no Conjunto de Favelas do Alemão, na Zona Norte do Rio, na noite desta segunda-feira (23). Esta UPP foi inaugurada no último dia 9, marcando a saída definitiva do Exército no Complexo do Alemão. 

Esta foi a primeira policial morta em serviço em uma comunidade pacificada. A bala que matou a PM teria atravessado o colete que ela usava. Fabiana ainda foi levada para a UPA da região, mas não resistiu. A irmã de Fabiana, Luciana Souza, compareceu ao Instituto Médico Legal (IML) nesta manhã para identificar e liberar o corpo. 

Colegas disseram que a soldado tinha acabado de lanchar quando foi para o lado de fora da sede da unidade, por volta das 21h. Pouco depois, cerca de 12 supostos bandidos armados de fuzis começaram a disparar contra a sede da UPP.

Aproximadamente 10 minutos antes do ataque à UPP Nova Brasília, oito homens atacaram uma patrulha com dois policiais na localidade Pedra do Sapo, no Morro do Alemão. Ninguém ficou ferido. 

Fabiana será enterrada quarta-feira (25/7), às 9h, no Cemitério do Riachuelo, que fica na Rua Coronel João Rufino, s/nº, em Valença, no Sul do Estado do Rio, cidade aonde residia. 

Secretaria de Segurança diz que morte de soldado não afeta pacificação

A secretaria de Segurança do Rio de Janeiro divulgou nota oficial lamentando a morte da soldado e prestando solidariedade à sua família. "Fabiana é a mais recente vítima dos fuzis de alto poder utilizado por traficantes que ainda resistem à pacificação nos Complexos do Alemão e da Penha", diz a nota.

"O processo de pacificação seguirá seu curso previsto na região, até que esteja consolidada a reconquista de território dessas comunidades, com sua devolução completa e pacífica à cidade do Rio de Janeiro. Já foram instaladas três Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) no Complexo do Alemão (Nova Brasília, Fazendinha e Alemão), a UPP Adeus/Baiana e mais duas UPPs no Complexo da Penha (Fé/Sereno e Chatuba). Muito em breve, serão inauguradas mais duas UPPs no Complexo da Penha: Parque Proletário e Vila Cruzeiro", lembra o documento.

Ainda de acordo com a Secretaria de Segurança, "todas as ações de resistência de criminosos, que durante décadas impuseram um domínio de terror sobre essas e outras comunidades, serão combatidas sem trégua, o tempo que for necessário e com todos os recursos disponíveis, até que seus moradores tenham restabelecidos seus direitos básicos de cidadania e de segurança pública".

A Secretaria de Segurança reafirma sua confiança na política de pacificação de comunidades conflagradas pelo tráfico de drogas e colocou as forças policiais do Rio de Janeiro na missão de prender os responsáveis pela morte da soldado Fabiana, mas espera ajuda dos populares.

"Nesse sentido, convocamos a população dos Complexos do Alemão e da Penha e do Morro do Adeus/Baiana a colaborar com a Polícia Militar, através do Disque-Denúncia (tel. 2253-1177) e do 190, fornecendo informações que possam levar à localização e prisão dos criminosos responsáveis pela morte da soldado Fabiana", conclui a nota. 

Cabral lamenta morte e diz que foi um ato de desespero dos criminosos

Confira a nota na íntegra: 

O Governador Sérgio Cabral se solidariza com a família da soldado Fabiana Aparecida de Souza, covardemente assassinada no exercício de seu trabalho na Unidade de Polícia Pacificadora, que hoje representa um novo ambiente de vida para mais de um milhão de pessoas, em mais de uma centena de comunidades e bairros do Rio de Janeiro.

O Governo do Estado acredita que a marginalidade vem perdendo forças diante da política de Segurança Pública e que ações como estas demonstram o desespero de organizações criminosas. Elas estão percebendo que, cada vez mais, o processo civilizatório foi retomado no Rio de Janeiro.

Em homenagem a esta policial e a todas as famílias do Estado, que acreditam no Rio de Janeiro ordeiro, o Governador declara que a política de pacificação, representada pela UPP, não tem volta, e será cada vez mais consolidada e ampliada".