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Deputados defendem royalties para o RJ. Chevron deve ser multada, diz advogado

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O vazamento de óleo no Campo do Frade, operado pela empresa petrolífera Chevron, na Bacia de Campos, parece ter exposto uma ferida para o Rio de Janeiro: a importância dos royalties para a economia fluminense. 

A faixa escura de petróleo no mar levantou muitas dúvidas quanto à veracidade das informações passadas pela companhia, e obscureceu as responsabilidades e as consequências do acidente.

O JB ouviu parlamentares e especialistas da área a respeito da dimensão da tragédia para o estado. 

>> Mancha de petróleo diminui, diz ANP. Veja vídeo submarino do vazamento

Royalties

Para o deputado federal Alfredo Sirkis (PV-RJ), o acidente mostra perfeitamente que existe risco na extração de petróleo, inclusive no pré-sal. Sirkis também frisou que é necessário tornar mais rigorosas as licenças de extração e a fiscalização das atividades nos campos.   

O parlamentar não poupou argumentos para correlacionar o incidente no Campo do Frade com a disputa acirrada pela divisão dos royalties entre os estados. De acordo com ele, esse acontecimento é uma “coincidência sintomática”, que expõe a necessidade dos royalties para o Rio de Janeiro. 

“Os royalties são pagos pelos danos que podem causar à região onde se faz a extração de petróleo”, afirmou.

O parlamentar ainda destacou que o governo não consegue fiscalizar a extração, e classificou o Brasil como “totalmente vulnerável” a este tipo de evento. Sirkis revelou ter combinado com o deputado Doutor Aloísio (PV-RJ) a realização de uma audiência pública na Comissão de Meio Ambiente da Câmara dos Deputados sobre o vazamento na Bacia de Campos. Entre os chamados a prestar esclarecimentos estão a Chevron e a Petrobras. 

A deputada estadual Clarissa Garotinho (PR-RJ) faz coro com Sirkis. Ela afirmou que o vazamento precisa ser investigado com profundidade, e a empresa responsável deve ser punida. Segundo Clarissa, esse episódio demonstra que a defesa dos royalties é necessária, como medida de compensação aos impactos gerados pela produção de petróleo no estado. Clarissa se colocou à disposição para qualquer audiência de investigação sobre o vazamento: 

“Não faz sentido repartir (os royalties) com quem não produz (petróleo)”.

Dobro

A deputada estadual Aspásia Camargo (PV-RJ), cuja trajetória política é pautada na defesa do meio ambiente, também se pronunciou sobre o vazamento de petróleo na Bacia de Campos. A parlamentar fez coro aos colegas ao dizer que o acidente demonstra a evidente importância de que os royalties permaneçam no estado produtor. 

Aspásia foi a primeira autoridade pública a questionar os números divulgados sobre o vazamento de óleo, em plenário na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) na quarta-feira (16). Segundo ela, as informações vieram da Nasa. A deputada acusou as empresas petrolíferas de ganância na extração e sugeriu que as contribuições deveriam ser dobradas.  

Confira o vídeo com trechos da entrevista da deputada Aspásia Camargo:

Aspecto legal

O advogado Paulo Bessa, membro da Comissão de Direito Ambiental do Instituto dos Advogados Brasileiros (IAB), discriminou o acidente em três pontos de vista legais: responsabilidades administrativa, civil e criminal.

Segundo Bessa, a Chevron provavelemente será multada por irresponsabilidade admnistrativa. O valor máximo previsto na lei é de R$ 50 milhões. Após a multa, surge a possibilidade de pagamento, por parte dos responsáveis, de indenização no caso de danos a terceiros. Ainda existe a hipótese criminal, na qual haveria de ser comprovada culpa - omissão, imperícia etc – da empresa operadora. Ele, no entanto, crê que a prova técnica para se comprovar tal hipótese é muito difícil de ser apurada.

Bessa ressaltou também que todas as operações desse nível contêm planos de emergência, pensados para situações como essa. Ele frisou que os órgãos públicos responsáveis, no caso o Ibama, sabem disso e devem fiscalizar para que os procedimentos sejam seguidos da forma adequada.

O membro da IAB foi bastante enfático ao dizer que não há nenhum problema tecnológico que aconteça de uma hora para a outra. Por isso, as autoridades competentes deveriam estar a par dos relatórios de funcionamento das operações nas plataformas, e acompanhar sua evolução. Segundo ele, o Tribunal de Contas da União (TCU) já criticou o Ibama por querer ampliar a quantidade de licenças ambientais para a exploração de petróleo sem ter a capacidade de gerir esse montante.

 “Quantas vezes o Ibama fiscalizou essa e outras plataformas em funcionamento?”, questionou o advogado.

Danos Ambientais

A coordenadora da Campanha de Clima e Energia do Greenpeace, Leandra Gonçalves, afirmou que o vazamento na Bacia de Campos é de alto risco para o meio ambiente. Segundo ela, trata-se de uma área de concentração de mamíferos marinhos, alguns dos quais estão ameaçados de extinção. Além disso, a atividade pesqueira na região é bastante intensa.

“É difícil falar com segurança sobre o impacto desse acidente porque a única fonte até o momento é a Chevron, que inclusive é réu do caso”, disse. ”As informações são muito desencontradas. A própria empresa alegou um número, diminuiu e depois aumentou”, pondera a bióloga.

Ela também falou sobre o ato que o Greenpeace fez na sexta-feira (18) na sede da Chevron, no centro do Rio de Janeiro. Leandra atestou que a ONG foi até o local para pedir transparência nas informações passadas à sociedade civil e cobrar explicações sobre o acidente. No entanto, a empresa petrolífera não recebeu os ativistas e chamou a polícia para retirá-los do local.

Leandra aproveitou para dizer que a Chevron tem sua parcela de culpa, mas que o governo brasileiro agiu com negliência e por isso também deve arcar com as consequências de suas ações. Ela considerou o vazamento como um aviso.

“(Com esse episódio) Vemos que não estamos preparados para lidar com a extração de petróleo na camada pré-sal”, finalizou.