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Liberal, só na economia: Candidato do PSC ao governo do Rio defende privatizações e preserva valores cristãos

Em entrevista para o JORNAL DO BRASIL, candidato se posiciona com convicção contra o casamento gay

José Peres -
"O que está na lei é o que tem que cumprir. Agora, para fazer a lei, meu partido tem alguns princípios. Por exemplo, não aceitamos o aborto"
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Se eleito governador do Rio de Janeiro, o ex-juiz Wilson Witzel (PSC) já sabe exatamente qual será sua primeira ação: publicar um decreto que norteará suas políticas públicas iniciais. A primeira será a implantação de um código de conduta dos servidores, do qual faz parte um “teste de integridade”.

Nesta entrevista para o JORNAL DO BRASIL, feita na sede do partido, no vigésimo andar de um prédio comercial, no Centro do Rio, o candidato reforça seus princípios cristãos e se posiciona com convicção contra o casamento gay, embora um de seus quatro filhos seja trans. “Erick tem 24 anos, é chef de cozinha, tem a companheira dele. Continua como meu filho, sendo amado e não poderia ser diferente”, diz.

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"O que está na lei é o que tem que cumprir. Agora, para fazer a lei, meu partido tem alguns princípios. Por exemplo, não aceitamos o aborto" (Foto: José Peres)

Nascido em Jundiaí, em São Paulo, Witzel, como sugestão de passeio, indicou Itaocara, município situado no noroeste do Estado do Rio: “Tem um entroncamento de dois rios naquela região que é, simplesmente, fantástico, e a ponte, belíssima. Adoro pontes”, conta.

Por que se decidiu pela política?

Como cidadão, precisava me oferecer para resolver o problema do Estado do Rio de Janeiro. Para dar credibilidade para o governador, ter um projeto de reestruturação econômica e moral do estado. Pedi exoneração do cargo de juiz e voltei a advogar. Sou sócio de um escritório de advocacia. Não dependo da política para viver.

E a escolha do partido?

Eu tenho princípios cristãos. O PSC tinha a maior afinidade ideológica com o que eu penso no que diz respeito aos princípios morais, e no que penso em relação à conduta da economia do nosso estado, que é um estado menos interventor, onde se pode ter mais liberdade de agir. Por exemplo, sou a favor da extinção de todas as juntas comerciais. Isso é burocracia demais. Não precisa de mais um órgão para tutelar contratos privados. Embora a junta comercial seja superavitária, hoje é mais uma burocracia para o empresário. Precisa intervir menos para ter mais empreendedorismo.

O senhor entrou para o partido e, de imediato, foi lançado candidato a governador?

Essa foi minha proposta. Só deixaria a magistratura se fosse candidato a governador.

O partido é cristão, e o estado é laico. Como fica essa questão?

Eu nasci em um lar cristão. Nas minhas sentenças, nunca misturei alhos com bugalhos. A minha fé me orienta. O que a Bíblia nos ensina? Fraternidade, respeitar os pais, pais respeitarem filhos, respeito à esposa. A esposa é um presente de Deus. Esses valores norteiam minha vida. São valores morais. No judiciário, valem os valores legais. O que está na lei é o que tem que cumprir. Agora, para fazer a lei, meu partido tem alguns princípios. Por exemplo, não aceitamos o aborto. Vamos votar sempre contra todas as opções que aumentem as possibilidades de aborto além do que já está no código penal. O partido também defende a família. Casamento é entre pessoas de sexo diferente. O partido é contra a educação de gêneros e é a favor da escola sem partido.

Falta de experiência atrapalha?

Quem diz que é experiente, hoje, como candidato, é uma experiência que eu não quero. O modelo econômico do estado e o da cidade do Rio, nos últimos 40 anos, nos trouxeram para cá. Os que me antecederam e hoje são candidatos não tiveram capacidade de desenvolver um modelo econômico para o estado que não fosse tão dependente do petróleo.

Eleito qual sua primeira ação?

Estou preparando um decreto grande onde vamos abordar várias políticas públicas iniciais. A primeira delas é um código de conduta dos servidores. Prevê o teste de integridade, corregedoria para análise exterior de riqueza, um programa de educação contra a corrupção e implantação do disque-corrupção.

Como é um teste de integridade?

Um integrante da corregedoria vai oferecer propina a um servidor público. Se aceitar, está reprovado, vai ser retirado da função que exerce e colocado em outra onde não possa causar dano ao erário público. Ficará em observação, e o passado será analisado. Passou no teste, será valorizado. Eu também poderei ser testado como governador. Mas se fizerem comigo, darei voz de prisão imediatamente, porque nem eu vou saber que se trata de um teste de integridade.

Em termos de recuperação econômica do estado, por onde pretende começar?

Vamos reduzir o número de secretarias de 18 para 11. Vamos propor a extinção de alguns órgãos, como as agências reguladoras, exceto a AgeRio [Agencia Estadual de Fomento], que ainda está em análise. Também vamos ver fundações e autarquias para verificar se podem ser extintas ou privatizadas. A Turisrio [Companhia de Turismo do Estado do Rio de Janeiro] é uma empresa de capital aberto. Podemos lançar títulos no mercado para capitalizar projetos. O Theatro Municipal precisa de reforma administrativa. Hoje, tem uma associação que cuida sem transparência. Se é instituição pública, é o estado que tem que cuidar. Se não consegue, tem que passar para a iniciativa privada. Não estou dizendo que vou privatizar o Theatro Municipal. Se é para alguém administrar o teatro, que seja com transparência.

Que planos tem para a Cedae?

Vamos fazer um modelo de concessão da entrega da água. A produção continua com a Cedae. Vamos fazer uma reestruturação administrativa de forma radical. A Cedae não pode dar R$ 400 milhões de lucro ao mesmo tempo que tem locais que não têm saneamento básico. Se é para dar lucro, vamos privatizar.

Dar lucro é ruim?

É péssimo. Se tem valas a céu aberto, como a Cedae pode dar lucro? Não está fazendo o trabalho dela, não está gastando onde deveria gastar.

O senhor acredita que conhece os meandros do crime do Rio?

Profundamente. Fui juiz criminal, sei como funciona o crime organizado, como funciona a lavagem de dinheiro. Vamos criar forças-tarefas a partir de dados do Coaf [Conselho de Controle de Atividades Financeiras] e montar operações para descobrir quem está lavando dinheiro do tráfico de drogas. Os chefões serão presos.

Tem verba para estruturar isso?

Temos o pessoal, mas eles estão mal organizados na administração. Hoje, tem delegado que poderia conduzir uma força tarefa, mas está em uma delegacia que não tem expressão. Tem que fazer rearrumação na casa. Estou levando para eles a ideia de desafogar a Polícia Civil, deixando para a Polícia Militar a lavratura dos flagrantes.

Mas os policiais reclamam que as delegacias não têm estrutura

Vamos criar os distritos policiais que vão agregar tanto a polícia militar quanto a civil. A Secretaria de Segurança será extinta. Alguns cargos serão extintos. Uns vão para a Polícia Civil, outros para a Polícia Militar e alguns para o gabinete de segurança onde terá uma área de inteligência atuando, tudo ligado ao governador.

Por coincidência, o senhor e seu vice, Claudio Castro, são paulistas.

Ele é santista e torcedor do Vasco.

E o senhor?

De nascença, Corinthians. No Rio, adotei o Flamengo, mas minha esposa é vascaína.

É muito conflito doméstico para administrar?

Se eu não puder administrar as diferenças, na minha própria casa, como vou governar o Estado do Rio? Tenho um filho que é trans. O Erick era menina, virou menino. Eu respeito, mas tenho meus valores.

Deve ter sido uma situação difícil para ao senhor.

Não, eu respeito. Tenho quatro filhos. Conversamos muito sobre o tema. Erick tem 24 anos, é chef de cozinha, tem a companheira dele. Continua como meu filho, sendo amado e não poderia ser diferente. Mas não vou defender o casamento gay.