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Entrevista - Dayse Oliveira: Fim das isenções fiscais

Candidata do PSTU ao governo pretende estatizar empresas que demitiram após receber benefícios

Marcos Tristão -
Candidata ao governo do Rio pelo PSTU Dayse Oliveira
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A professora Dayse Oliveira disputa pela segunda vez o cargo de governadora do Rio de Janeiro. É sua sexta participação em eleições. A primeira foi em 2002, como candidata a vice-presidente. Também já tentou ser prefeita de São Gonçalo, sua cidade natal, e senadora. Mestre em História pela Universidade Federal Fluminense (UFF), rejeita o conceito de cidadã e se define como trabalhadora. Se eleita, pretende estatizar empresas que “mamaram nas tetas do estado com pretexto de gerar emprego, mas, na primeira dificuldade, mandaram os trabalhadores para o olho da rua”. A entrevista para o JB foi feita na sede do PSTU, em um sobrado na Lapa, onde o boêmio bairro carioca faz fronteira com a Glória. Ao ser perguntada sobre uma sugestão de passeio pelo estado, sugeriu Paraty “porque é uma cidade para todos os bolsos”, mas suspirou ao falar de um cartão postal carioca. “Gosto de olhar o Pão de Açúcar. Acho um calmante aquela paisagem”.

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Candidata ao governo do Rio pelo PSTU Dayse Oliveira (Foto: Marcos Tristão)

A senhora tem experiência em campanha. Qual a maior dificuldade que enfrenta nesta?
A falta de tempo de TV. Tenho direito a quatro segundos. A TV tem um peso, e esse tempo exemplifica bem a desigualdade dos processos.

A união das esquerdas não facilitaria um pouco essa questão?
O que é esquerda? Somos marxistas. Sou trabalhadora, não sou cidadã. Não gosto desse conceito que veio de uma sociedade escravagista, a Grécia antiga, onde mulheres não podiam ser cidadãs.

Eleita, qual será sua primeira providência?
Anular as isenções fiscais. O Tribunal de Contas fez uma denúncia que, o que foi dado de isenções a grandes empresas, significa cinco anos da folha total de pagamento do funcionalismo público. Isso é tirar dos pobres para dar para os ricos. Queremos organizar os de baixo para derrubar os de cima. A segunda medida, junto com essa, é suspender o pagamento da dívida pública. Para governar, vou construir os conselhos populares.

Como seria isso?
Representantes do movimento da educação, dos sindicatos ligados à educação, são quem tem que administrar as verbas da educação. O mesmo com a saúde. Com os diversos sindicatos da saúde é com quem vamos discutir saúde. Na segurança, defendemos a desmilitarização da PM, para que a gente tenha uma única polícia. Para que os policiais militares tenham direitos a organização, sindicalização, onde os comandantes e delegados sejam eleitos pelo povo.

Os conselhos funcionariam nas secretarias?
Não. São órgãos de deliberação. Porque eu quero governar com os trabalhadores para os trabalhadores. Minha prioridade será ouvir os conselhos e, não, a Alerj, para ser bem concreta.

Sanear finanças é demorado. Pensa em outras medidas para estimular a economia?
O Rio tem 1,2 milhão de desempregados. Queremos fazer obras públicas para gerar emprego. Fomentar a redução de jornada de trabalho sem redução de salário, principalmente nos serviços públicos, efetivar os terceirizados .

Que obras seriam essas?
Em todo o estado, faltam hospital, creches. Foram fechadas mais de 1.200 escolas. Postos de saúde têm que ser saneados. Entregaram tudo para a Parceria Público Privada, com vários escândalos de corrupção. Tem também o dinheiro da corrupção. Prenderam o [ex-governador Sérgio] Cabral e uma porção de gente, então, tem que confiscar os bens e devolver esse dinheiro para o estado para que a gente possa gerar emprego. Porque emprego é investimento. Na sociedade capitalista, emprego é necessário para reduzir salário. É por isso que a Vera [Lúcia, candidata à Presidência] prega a necessidade do fim da propriedade privada, e nós, também.

Como assim?
A propriedade não é direito natural. Sou professora de História. A propriedade privada é datada historicamente, é o início de toda a desigualdade. Por exemplo, discutimos estatizar as empresas que foram beneficiadas com as isenções para gerar emprego e que foram as primeiras que demitiram. É revitalizar e estatizar essas empresas que mamaram nas tetas do estado com pretexto de gerar emprego, mas, na primeira dificuldade, mandaram os trabalhadores para o olho da rua e não devolveram o dinheiro que receberam.

Que estatizações faria?
Empresas de energia. Revitalizar a Cedae, impedir a privatização. Estadualizar todas as empresas de água. Acabar com as OSs na saúde.

E para a segurança?
Sou socialista. Social para mim é prioridade. A direita sempre propõe que a solução para a violência é polícia na rua, matar preto e pobre. É a concepção da guerra social e guerra às drogas. Sou contra isso. Violência é fruto de falta de emprego.