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Polêmicas na política

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Ano em que os brasileiros enxergaram seu potencial de participação mais ativa nos rumos do país, 2013 trouxe controvérsias e mudanças importantes na política brasileira. O pastor Marco Feliciano (PSC/SP), deputado há apenas dois anos, conseguiu se destacar o suficiente para inspirar manifestações de repúdio no Brasil inteiro. Os protestos de junho o tiraram do foco, mas evidenciaram outras urgências, que renderam uma corrida no Congresso para aprovação de projetos. A popularidade de Dilma, assim como da maioria dos políticos, caiu. Passado o auge dos protestos, a popularidade da presidente se recupera, ao contrário de outros que continuaram em baixa.

Marina Silva tentou, mas não conseguiu, fundar o Rede Sustentabilidade, e surpreendeu se filiando ao PSB de Eduardo Campos. Este também foi o ano da prisão do deputado afastado Natan Donadon (sem partido-RO) e da morte do líder latino-americano Hugo Chávez.

Marco Feliciano, pastor que condena a homossexualidade e afirma que os negros foram alvo de uma "maldição" de Noé, foi eleito presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara Federal, em março. Diversos segmentos da sociedade pediram que a eleição fosse reavaliada e que o deputado renunciasse ao cargo. O PSC chegou a cogitar a possibilidade, mas optou pela permanência, e Feliciano seguiu semeando polêmicas. Disse que o colegiado era dominado por satanás, informou que foi Deus quem matou John Lennon e que o sucesso de Caetano Veloso é obra do "diabo". Recentemente, disse que Mandela "implantou a cultura da morte" na África do Sul. Também declarou que a bancada evangélica ficará mais forte em 2015 e que a "perseguição por parte da mídia e dos ativistas" fortaleceu o movimento.

Feliciano foi o protagonista, mas o objetivo dos que pediam sua saída era maior, como comentou o deputado estadual Marcelo Freixo (Psol/RJ), em ato realizado na ABI: "Não basta a troca do Feliciano, porque existe um grupo político que hoje é maioria na Comissão de Direitos Humanos. Precisamos lutar para mudar essa proporcionalidade da maioria dentro da comissão". 

Os protestos de junho tiraram um pouco o foco do pastor, mas era possível ver cartazes nas ruas dizendo que ele não tinha sido esquecido, que a população estava apenas resolvendo um problema "por vez". As "novas" reivindicações mobilizaram o Congresso. Na última semana de junho, o Senado aprovou o projeto que qualifica a corrupção e outros delitos contra a gestão pública como crime hediondo, e a Câmara dos Deputados rejeitou Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 37, após dois anos de tramitação - a chamada PEC da Impunidade, com base na qual o Ministério Público seria afastado da condução dos inquéritos criminais, que seriam competência exclusiva das polícias federal e civil. A Câmara também aprovou projeto de lei que destina 75% dos recursos dos royalties do petróleo à educação e 25% à saúde.

As manifestações tiveram forte impacto na popularidade dos governantes. Segundo pesquisa Datafolha divulgada no fim de junho, a popularidade da presidente caiu 27 pontos percentuais em três semanas, dos 57% para 30%. Essa queda se deve, em grande parte ao apoio que Dilma tem do governador do Rio, Sérgio Cabral, cuja popularidade despencou para 12%, de acordo com pesquisa da Confederação Nacional da Indústria (CNI). Em agosto, a Dilma voltou a subir, conforme pesquisa Datafolha, para 36%. Outra pesquisa divulgada pelo jornal Folha de S. Paulo no início de dezembro mostra que, no levantamento nacional, Dilma agora conta com 47% contra 19% de Aécio e 11% de Campos. 

Quando as manifestações começavam a ganhar maior força, Dilma declarou: "Quero dizer que meu governo está atento a essas vozes pela mudança, está empenhado e comprometido pela pressão social". O programa Mais Médicos, que já vinha sendo elaborado pelo governo, foi implantado em julho e foi muito bem recebido pela população de vários municípios de todo o país, apesar dos esforços de pequenos grupos em lançar críticas negativas ao projeto.  

O ex-presidente Bill Clinton chegou a elogiar a reação da presidente aos protestos. Dilma também ganhou destaque mundial ao cancelar sua viagem e exigir explicações aos Estados Unidos, após vazarem informações de que o Brasil, incluindo ela própria e a Petrobras, haviam sido espionados pela NSA. 

Outro personagem político que chamou a atenção foi Marina Silva, apontada recentemente como a única capaz de levar Dilma ao segundo turno nas eleições de 2014. Depois de tentar, sem sucesso, oficializar a criação do seu partido Rede Sustentabilidade, Marina fechou aliança com Eduardo Campos para as eleições 2014. Ressaltou, contudo, que a Rede já é um partido, mesmo sem o registro do TSE. De acordo com o deputado federal Walter Feldman (ex-PSDB-SP), Marina recebeu ofertas de pelo menos sete partidos após a negativa do Tribunal. Em artigo publicado no JB, depois do anúncio da escolha de Marina, o ex-ministro José Dirceu declara: "Todos erraram. Os 'jornalões' não chegaram nem perto. A Veja torcia por José Serra. Até a Carta Capital errou, ao apostar na filiação ao PPS. Mas Marina Silva e Eduardo Campos (PSB) se aliaram, como prevíamos. E mudaram todo o quadro eleitoral para 2014. (...) De qualquer forma, essa mudança do quadro eleitoral não é necessariamente contra a presidenta Dilma Rousseff e o PT. Pode ser que Aécio Neves seja o principal perdedor."

Também gerou polêmica o caso do deputado afastado Natan Donadon (ex-PMDB-RO). Em junho, a mesa da Câmara abriu processo para perda de mandato do parlamentar e o Supremo Tribunal Federal (STF) expediu mandado de prisão. Ele havia pedido recurso para evitar cumprimento da condenação de mais de 13 anos de prisão, em regime inicialmente fechado, definido pela Corte três anos antes, pelos crimes de peculato e formação de quadrilha, com desvio de R$ 8,4 milhões da Assembleia Legislativa de Rondônia. Em agosto, com 233 votos a favor, 131 contra e 41 abstenções, a Câmara manteve o mandato do deputado Natan Donadon (PMDB-RO). Logo após a absolvição, o PSB apresentou a Representação 22/13, que recomendou a perda de mandato. Donadon está preso em Brasília desde 28 de junho. Ele nega as acusações.

Fora do Brasil, a morte do ex-presidente da Venezuela Hugo Chávez parou a América Latina, no dia 5 de março. Na ocasião, Dilma Roussef lamentou a morte, que deveria "encher de tristeza todos os latino-americanos". A presidente ressaltou a discordância entre Brasil e Venezuela em algumas ocasiões, mas não deixou de destacar que Chávez ganhou o reconhecimento de "grande líder", que "deixará um vazio". Na política externa, ele ficou conhecido pela oposição ao chamado imperialismo norte-americano e aproximação com o regime cubano.