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Choro de Neymar é mais debatido do que o futebol

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MOSCOU - Discutimos o choro de Neymar, o fracasso de Messi, enquanto o atacante Sadio Mané ressalta que a força do Senegal é o time, não o craque. O Senegal só empatou neste domingo (24) e pode nem se classificar, mas o discurso do atacante do Liverpool vai ao encontro do que aconteceu nas últimas três Copas, todas vencidas por times sem superstar. 

A América do Sul ainda não descobriu esse novo futebol. Se Argentina e Brasil forem eliminados na fase de grupos, o que é possível, será certeiro dizer que a corrupção corroeu o jogo nesta parte do planeta. Mas nossa capacidade de debater futebol em vez do choro de Neymar parece ter se esgotado. 

Morra o craque popstar, mas enquanto isso, viva a discussão sobre ele. 

E o jogo... Ora, o jogo.

Em campo, a Espanha teve a melhor atuação da Copa e mantém seu estilo, mas a Bélgica permite a melhor observação sobre o que há e haverá nos próximos anos. O técnico Roberto Martínez é espanhol, adepto da troca de passes, mas não obsessivo pelo tiki-taka, razão pela qual seu time é mais agressivo do que a Espanha. Joga no 3-4-3. 

O esquema sanfona sobre o qual você já leu aqui. Quando perde a bola, voltam os alas e os meias. Vira 5-4-1. 

A Costa Rica joga com o mesmo desenho. Idêntico, exceto por um detalhe. A Bélgica ataca e a Costa Rica defende. 

Quando acabou a Copa de 1990, recorde de times com três zagueiros (20 dos 24), boa parte dos treinadores do Brasil começou a copiar.

Muitos não perceberam que a ideia dos três beques era atacar. Quando aplicou o 3-5-2 pela primeira vez, o alemão Sepp Piontek pensava: se todos jogam com dois atacantes, por que ter quatro defendendo no 4-4-2? Tirou um de trás e escalou no meio: 3-5-2. 

A Dinamarca encantou na Copa de 1986, porque atacava com sete, os cinco do meio e os dois do ataque. Muitos times a partir dali passaram a defender com oito: os três da defesa e os cinco do meio de campo.

A lição belga está na possibilidade de liberar talentos extraordinários. Só De Bruyne está preso, mais marcador do que criador. Mas o esquema dá chance de se soltar, protegido por Witsel. 

Se a Bélgica der sorte no cruzamento, pode cair contra Japão nas oitavas, Suíça ou México nas quartas. Neste caso, pode chegar à sua segunda semifinal. Se a sorte não ajudar, pode encarar o Senegal nas oitavas, o Brasil ou a Alemanha nas quartas. Vai ficar bem mais divertido.