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Crítica: 'A caverna dos sonhos perdidos'

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A tecnologia em 3D, que hoje faz sucesso principalmente no circuito comercial, começa a ser explorada por cineastas consagrados e acolhida em grandes festivais que  ainda ofereciam uma certa resistência, como é o caso do Festival de Berlim.

Na última edição, dois títulos realizados na nova técnica integraram sua mostra oficial. Pina, de Wim Wenders –  em que a tecnologia é usada como meio artístico, ao retratar a arte  revolucionária da coreógrafa Pina Bausch – e  A Caverna dos sonhos perdidos,  (Cave of forgotten dreams), de Werner Herzog, que agora chega ao circuito brasileiro.

Chauvet Pont d’Arc, a cave do título, fica no sul da França e contem o que atualmente se supõe seja uma das mais antigas cavernas com pinturas e desenhos no mundo. Situada no Vale Ardèche – e desconhecida até 1994 – ela tem cerca de 400 murais que se acredita tenham em torno de 30 mil anos. Chaveut não é aberta ao público em geral, porque a umidade da respiração humana pode alterar o ambiente e ser extremamente danosa para os desenhos dos  animais e símbolos das paredes. Até mesmo os cientistas só são permitidos a entrar na caverna de forma e em ocasiões estritamente regulamentadas.

Mas, há bastante tempo, havia um plano de dar acesso à caverna, pelo valor simbólico de um euro, a uma única filmagem de cada vez e permitir a captura das imagens das pinturas num filme que beneficiasse o público em geral. Herzog – autor de documentários fora do convencional como Homem urso e O diamante branco – foi  escolhido para esse trabalho. E não desapontou.

Usando  somente um mínimo de luz e uma câmera especial feita especialmente para a ocasião, ele não só foi bem sucedido em filmar, mas também em trazer imagens “esquecidas”  à tona. A sua  escolha do formato em 3D foi fundamental para capturar as dimensões especiais da caverna. Indo além, o diretor alemão fez uso dos contornos dessas pinturas nas rochas “em movimento”, como um ponto inicial para a meditação filosófica sobre as origens da arte de cinema, bem como questões da existência humana.

O filme de Herzog, além de ser um encontro da arte rupestre com a tecnologia em 3 D, mesclando passado e futuro, é um importante resgate que traz aos espectadores a possibilidade de conhecer a até então pouco explorada gruta francesa.  E a realização em 3D  permitiu que a as dimensões de altura, largura e contorno das cavernas pudessem ser vistas com muito mais clareza nesse ótimo documentário do cineasta alemão. 

Cotação: *** (Ótimo)