POLÍTICA

'Motivação infantil', 'perseguição da esquerda'... Flávio e Eduardo Bolsonaro saem em defesa do pai no Congresso

Parlamentares se manifestaram após a Polícia Federal realizar busca e apreensão na casa do ex-presidente

Por GABRIEL MANSUR
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Publicado em 03/05/2023 às 23:13

Alterado em 03/05/2023 às 23:33

Flávio, Jair e Eduardo Bolsonaro Roberto Jayme/Ascom/TSE

Os filhos de Jair Bolsonaro saíram em defesa do pai no Congresso após a operação da Polícia Federal que apura suspeitas de fraude em dados de vacinação contra Covid-19. No plenário do Senado, o primogênito Flávio Bolsonaro alegou que a "busca e apreensão contra Jair tem motivação infantil". Já Eduardo B., filho 03, chamou a ação de "perseguição da esquerda".

 

O que alega Flávio

"Tentativa orquestrada de assassinar a reputação do meu pai". É assim que o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) avalia a investigação da Polícia Federal sobre a suspeita de fraude em dados de vacinação de seu pai, Jair Bolsonaro (PL), sua irmã caçula, Laura Bolsonaro, e de assessores do ex-presidente.

Na opinião do primogênito, a operação de busca e apreensão contra Jair tem motivação "infantil". A declaração foi dada durante sessão no plenário do Senado Federal.

"Como para o Bolsonaro a gente sabe que não existe a presunção de inocência, e é óbvio que uma busca e apreensão na casa de um ex-presidente gera repercussão mundial, fica a pergunta, senador Girão: qual a intenção de alguém autorizar busca e apreensão na casa de um ex-presidente por causa de um motivo infantil desse?", disse o parlamenter, em questionamento direcionado ao senador bolsonarista Eduardo Girão (Novo-CE).

Durante seu monólogo, Flávio ainda disse que foi o então presidente Bolsonaro "que comprou todas as vacinas para o Brasil, sem exceção". E também relatou que Laura não teria tomado o imunizante "por recomendação médica, talvez por ela ser alérgica a algum produto", o que contraria as recomendações de médicos, cientistas, Ministério da Saúde e Organização Mundial de Saúde (OMS). Por fim, afirmou que seu pai não tomou o imunizante por opção pessoal.

"O então presidente Bolsonaro, como chefe de estado, nunca precisou apresentar cartão de vacinação em lugar algum. Então não faz nenhum sentido o Bolsonaro querer adulterar o cartão de vacinação. Não ia ter benefício nenhum, não usaria para nada. (...) Hoje existe uma operação específica para desbaratar a quadrilha acusada de fraudar o cartão de vacinação. Como é que no inquérito de milícias digitais, o ministro do Supremo autoriza busca e apreensão na casa do ex-presidente por causa do cartão de vacinação. Não vejo nenhuma relação", continuou.

Embora todos os viajantes aos EUA por via aérea tenham que comprovar ter tomado ao menos duas doses de imunizantes contra a Covid-19, o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) prevê uma lista de exceções à regra. A primeira delas se aplica a "pessoas em viagens diplomáticas ou oficiais de governos estrangeiros", caso de Bolsonaro. Por ser menor de 18 anos, a filha do ex-presidente, Laura, também se incluiria em uma exceção prevista pelo CDC.

Por isso, Bolsonaro não foi obrigado a comprovar a imunização para ingressar nos Estados Unidos no fim do ano passado. E tampouco o fez depois que perdeu o mandato. O advogado de migração do ex-presidente nos EUA, Felipe Alexandre, relatou que ele precisou apresentar comprovante quando pediu a alteração de seu status no país do visto diplomático A1 para o visto de turista (B1/B2).

A Polícia Federal apura se os registros de vacina de Bolsonaro, de sua filha Laura e de seus assessores, como o ajudante de ordens Mauro Cid, foram adulterados para facilitar a entrada do grupo em território americano. A suspeita é motivada porque os dados falsos sobre a vacinação foram incluídos no sistema do Ministério da Saúde poucos dias antes do ex-mandatário perder o mandato.

 

Eduardo B. se revolta

Já Eduardo Bolsonaro, também conhecido como filho 03, usou a tribuna da Câmara dos Deputados para dizer que a ação contra seu pai foi um "esculacho". Se disse honrado em ser filho de Bolsonaro e considerou a operação como uma "perseguição covarde, vil, baixa que a esquerda tenta imprimir contra o presidente".

Contudo, a operação não tem qualquer relação com partidos políticos, mas busca esclarecer a ação de uma organização criminosa criada para a prática dos crimes de implantação de dados falsos de vacinação contra a covid-19 no Sistema de Informação do Programa Nacional de Imunizações (SI-PNI) e Rede Nacional de Dados em Saúde (RNDS) do Ministério da Saúde..

"Isso daí, pode ter certeza, é uma medalha. Nada dá mais honra em ser filho de Jair Bolsonaro do que a perseguição covarde, vil, baixa e bizarra que a esquerda tenta imprimir contra um presidente. Se ele tivesse roubado um centavo dos cofres públicos, ele já estaria preso. Mas não, a PF vai à casa dele para ver se ele foi vacinado, sendo que pública e notoriamente ele sempre falou que nunca tomou a vacina. (…) A pergunta que fica é: por que Bolsonaro teria motivos para falsificar um cartão de vacina? Por que a PF não podia pedir as informações ao presidente para o presidente dar as explicações por escrito? Ou ir à PF dar esse testemunho? Para que a necessidade de fazer esse esculacho?", alegou o parlamentar.

 

Entenda o caso

A investigação da PF apura suspeita de fraude nos cartões de vacinação de Bolsonaro, familiares e ex-assessores. A polícia identificou que documentos de imunização no aplicativo ConecteSUS foram emitidos a partir de endereços de IP do Palácio do Planalto. Os downloads foram feitos dias antes e na própria data da viagem de Bolsonaro a Orlando, na Flórida, para onde foi antes mesmo do fim de seu mandato.

De acordo com o relatório enviado ao Supremo Tribunal Federal (STF), foram quatro emissões, três delas ainda em dezembro de 2022, nos dias 22, 27 e 30. O ex-presidente embarcou para os Estados Unidos no próprio dia 30, horas depois do acesso ao sistema.

Ainda no plenário do Senado, Flavio justificou que a filha do presidente e de Michelle Bolsonaro, Laura, não teria tomado a vacina por recomendação médica.

A investigação apontou ainda que os registros de vacinação de Laura foram inseridos no sistema do Ministério da Saúde em 21 de dezembro de 2022 e apagados seis dias depois sob a justificativa de “erro”. No meio tempo entre a inserção e a exclusão dos dados, foi emitido o certificado de vacinação de Laura em língua inglesa, destacou a PF.

A suposta fraude teria sido possível por meio de um esquema montado na Prefeitura de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, por onde os registros foram inseridos e excluídos do sistema da Saúde. À época, Bolsonaro e seus familiares estavam prestes a viajar para a Flórida, nos Estados Unidos, onde passaram uma temporada de três meses.

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