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Venezuelanos fogem do Brasil após ataques

Exército diz que 1,2 mil imigrantes voltaram à terra natal pela fronteira de Roraima

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Cerca de 1,2 mil venezuelanos cruzaram de volta a fronteira do país com o Brasil, após os incidentes de sábado, em Pacaraima (Roraima), quando moradores da cidade atacaram  barracas e abrigos dos imigrantes, inclusive ateando fogo, depois que um comerciante local foi assaltado e espancado. De acordo com as autoridades locais, não há registro de feridos entre os imigrantes. O comerciante brasileiro que sofreu uma tentativa de assalto, supostamente por um grupo de venezuelanos, permanece internado em Boa Vista, e seu estado de saúde é estável.

Após uma reunião de emergência com ministros, convocada ontem, no Palácio da Alvorada, o presidente Michel Temer decidiu enviar a Roraima um reforço de 120 homens para a Força Nacional, além de, no próximo domingo, dia 26, mais 36 voluntários da área da saúde para atendimento aos imigrantes, em parceria com hospitais universitários.

De acordo com o Ministério da Segurança Pública, hoje embarcam para Pacaraima 60 homens e, ainda sem data definida, outro 60 vão se juntar aos 31 integrantes da Força Nacional que já se encontram no estado.

As famílias venezuelanas que decidiram retornar ao país natal conseguiram atravessar a fronteira em segurança e com a integridade física garantida, informou o Exército. O posto de identificação e recepção da Polícia Federal, que chegou a ficar fechado no sábado, por questões de segurança, funcionou normalmente ontem.

Venezuela envia pedido

O Ministério do Poder Popular para as Relações Exteriores da Venezuela informou, em nota, ter tomado conhecimento de casos de violência envolvendo cidadãos brasileiros e venezuelanos. De acordo com a chancelaria venezuelana foram solicitadas ao Ministério de Relações Exteriores do Brasil “garantias correspondentes aos nacionais venezuelanos e medidas de resguardo e segurança de seus familiares”.

Na nota, o governo da Venezuela expressou “preocupação pelas informações que confirmam ataques a imigrantes venezuelanos, bem como desalojamentos massivos de nossos compatriotas, acontecimento que viola normas do direito internacional, além de vulnerar seus direitos humanos”.  

O governo da Venezuela também ofereceu apoio para coordenar ações com as autoridades brasileiras e criticou o que chamou de “violência alimentada por uma perigosa matriz de opinião xenófoba”.

Ainda de acordo com a chancelaria venezuelana, funcionários do consulado em Boa Vista foram instruídos a se deslocarem de forma imediata a Pacaraima, a fim de avaliar a situação e garantir a integridade dos venezuelanos.

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OAB alerta: há riscos de confrontos iguais

O presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Claudio Lamachia, lamentou o episódio ocorrido em Pacaraima, no estado de Roraima, envolvendo brasileiros e venezuelanos, e disse que, se uma ação urgente não for tomada pelos governos federal e regionais, há riscos de novas tragédias como essa se repeitrem em outras localidades. Ele afirmou que conhece a região e que Roraima não dispõe de condições para receber os cerca de 800 venezuelanos que chegam diariamente ao estado, fugindo da grave crise econômica de seu país.

“O grave episódio de violência ocorrido no sábado, na fronteira entre o Brasil e a Venezuela, expõe de forma clara o drama humanitário que abate nossos vizinhos”, afirmou Lamachia.

“O momento é de atenção, por isso é preciso que haja solidariedade federativa para preservar brasileiros e venezuelanos de um agravamento do difícil quadro em que se encontram”. Lamachia ressaltou que a situação, antes humanitária, agora trata-se de segurança pública.

“Está claro que o problema vem se agravando pela inoperância das autoridades ao longo desse episódio. O que era uma questão humanitária agora tem forte conotação de segurança. Os Estados precisam se organizar para receber os venezuelanos e dar um exemplo ao mundo de democracia e solidariedade”, finalizou.