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Entrevista - João Vicente Goulart: ‘Luto para resgatar a história de meu pai’

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Filho do ex-presidente, João Goulart, deposto pelo golpe de 1964, o pré-candidato à Presidência da República pelo Partido Pátria Livre (PPL), João Vicente Goulart, promete retomar as propostas do pai, como as reformas de base e o projeto trabalhista e nacional-desenvolvimentista. O presidenciável faz críticas ao bipartidarismo e ao PDT, partido que ajudou a fundar. E admite que, com sua candidatura, quer ajudar o PPL a passar pela cláusula de barreira nas eleições de outubro.

Por que o senhor deixou o PDT, partido que ajudou a fundar, e foi para o PPL?

Nós fundamos, em 2004, o Instituto Presidente João Goulart, com o qual pretendíamos fazer o resgate histórico, não só de acervo, mas das lutas políticas de 1964. O projeto mãe do Instituto era a construção do Memorial da Liberdade e da Democracia, no eixo monumental. Para nossa surpresa, o governador do DF, Rodrigo Rollemberg (PSB), que foi apoiado pelo PDT, mandou anular o ato de cessão de uso do terreno. Então eu disse ao Lupi (presidente nacional do PDT, Carlos Lupi) que ele ficasse com o PDT, que eu fico com a história do meu pai. Minha luta política sempre foi pelo resgate de Jango. A partir disso, eu encontro no PPL um partido que está resgatando o trabalhismo, e tem um projeto nacional-desenvolvimentista muito próximo daquilo que almejamos, e que Jango almejava em 1964.

Então, o principal objetivo do partido é resgatar o projeto nacional-desenvolvimentista? 

Diante desse contexto que vivemos hoje, dessas eleições, e do governo Temer, nós vamos discutir, principalmente, a perda dos direitos dos trabalhadores, que são nossos, e não de outros partidos que se intitulam de esquerda. Este é um momento em que precisamos fazer um enfrentamento a este neoliberalismo, que está há 40 anos em vigor no Brasil. 

Mas nós tivemos 13 anos de PT. 

O PT entrou no jogo do neoliberalismo. O Jango nunca conviveu com o sistema financeiro. Ele propõe a reforma agrária, a remessa de lucros e a reforma bancária. Nós enfrentamos esse sistema. Por causa disso, nós fomos para o exílio e fomos chamados – não foi pela direita – de populistas e pelegos. O projeto do PPL é um projeto de enfrentamento do sistema financeiro. Nós acreditamos que a crise política e econômica não é de ajustes fiscais. Temos que mudar o modelo de desenvolvimento econômico, e mudar isso sem enfrentar o sistema financeiro é impossível. Queremos um estado forte porque é ele que puxa o investimento público, e atrasa o investimento privado. 

Foi por isso que o senhor aceitou ser candidato?

Não só por isso. O meu nome foi discutido com outros quatro companheiros. Quando eu entrei para o PPL, não era minha intenção ser candidato à Presidência. O Pátria Livre entendeu que, com a implantação destas medidas eleitorais, alijou-se os partidos como o nosso – que é relativamente novo. Cria-se um fundo, em um momento que as empresas não podem doar para campanhas, e quem são os grandes beneficiários? As grandes bancadas mantidas pelo sistema anterior. Nesses quatro e cinco partidos que vão dividir o bolo, estão os mais de 300 parlamentares que foram indiciados e precisam do foro privilegiado. 

Como o senhor pretende fazer sua campanha? 

Não tenho tempo de televisão, nem dinheiro. Eu acredito que basta a plataforma. Nós estamos na frente dos banqueiros, do (Henrique) Meirelles e do (João) Amoêdo. Eu acho que vai ser uma campanha diferente porque o nosso patrimônio não são aquelas malinhas de 500 mil reais correndo pelas ruas, é um patrimônio histórico de luta e de resistência, das propostas de reformas de base, agrária, tributária e educacional. 

Quantos candidatos o partido tem hoje no campo nacional?

Nós estamos construindo opções com partidos que tenham propostas que estejam de acordo com o nosso programa. O partido resolveu ter candidato à Presidência porque nós temos que cumprir a legislação. Somente na legenda de deputado federal, nós temos que fazer 1% em 9 estados para nos manter como partido. E fazer 1,5% em nível nacional. 

O senhor acha que o PPL vai conseguir cumprir a cláusula de barreira?

Com a candidatura à Presidência, sim. 

Então, o objetivo da sua candidatura é fazer com que o PPL cumpra a cláusula? 

O partido precisa lançar a candidatura, em um primeiro momento, para romper essa eleição, que é igual a time de futebol. Uma eleição que você começa um campeonato com 30 pontos acima não é um processo democrático. 

Como o senhor vê a questão do ex-presidente  Lula continuar sendo a aposta do PT? Há alguma  chance de o senhor retirar sua candidatura? 

Nós não vamos retirar a candidatura de jeito nenhum. Eu não concordo que eleição sem Lula seja fraude. Se eleição sem Lula é fraude, então vamos voltar para a luta armada. Se tem falhas dentro do processo que o condenou, isso é uma questão que tem que ser discutida dentro da legalidade do processo. A própria lei da Ficha Limpa foi promulgada por ele. Agora, ele tem todo o direito de contestar e lançar a sua candidatura, como eu acho válida a do Jair Bolsonaro. Nós ficamos no exílio durante 15 anos lutando pela democracia, e a democracia implica na divergência. Meu pai recebeu o (Carlos) Lacerda, o cara que derrubou o governo, para formar a Frente Ampla. A democracia implica na convivência com a diversidade ideológica. 

Mas o senhor também acha válido militantes que defendem Bolsonaro pedirem a volta da ditadura militar?

Eu acho que quem prega a volta da ditadura é porque não conheceu a ditadura. Não sabe o que é ter uma redação fechada por opinar diferente daquilo que está. Tem mais dignidade um camundongo lutando pela sua vida do que um ser humano que prega a volta da ditadura. E acho mais, o Bolsonaro não representa o pensamento militar. Eu estou convencido disso. Para a ditadura se instalar em 1964, foram cassados mais de 7.500 militares nacionalistas. Não acredito que eles, hoje, queiram internacionalizar a Amazônia, bater continência para bandeira americana, entregar a base de Alcântara, vender a Embraer para Boeing.