ASSINE
search button

Partidos querem impedir polarização entre direita radical e esquerda, mas não têm um nome

Compartilhar

O temor de que os extremos radicais se encontrem no segundo turno da eleição presidencial tem levado diversos partidos à esquerda e à direita no espectro eleitoral a indicar nomes de centro para governar o Brasil. As pesquisas eleitorais, por sua vez, não lançam luz sobre qual seria a melhor opção, o que atrapalha o processo de negociação.

“Com as mudanças no calendário eleitoral, as composições foram retardadas. O que temos no Brasil hoje são pré-candidatos que não sabem sequer se terão os nomes mantidos pelos partidos. Esta indefinição se reflete nas pesquisas eleitorais”, observa o cientista político David Fleischer, professor emérito da UnB. Ele cita o exemplo dos pré-candidatos Rodrigo Maia, do DEM, e Henrique Meirelles, do MDB. Maia, explica Fleischer, tem dado sinais que a sua exposição como pré-candidato tem como objetivo manter o seu nome em alta para se reeleger a presidente da Câmara do Deputado, cargo que ocupa atualmente. Meirelles, que se filiou ao MDB no fim do prazo regulamentar, sofre rejeição dentro do partido.

Esta seria, segundo os especialistas, a razão pela qual o manifesto ‘Por um Polo Democrático e Reformista’, encabeçado pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e idealizado pelo senador Cristovam Buarque (PPS-DF) juntamente com o deputado Marcus Pestana (PSDB-MG), não logrou sucesso. “Não se sabe ao certo sequer qual será o candidato do PSDB”, ressalta Fleisher diante da informação de que o tucanato poderia trocar o atual pré-candidato, ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin, que não consegue decolar nas pesquisas eleitorais, pelo ex-prefeito da capital paulista, João Dória, “mais performático”.

Na busca pelo candidato de centro vê-se um balaio de gatos em que pré-candidatos negociam com partidos tanto de uma tendência quanto de outra. O presidenciável Ciro Gomes, do PDT, por exemplo, sinaliza interesse tanto por partidos tidos da direita, como o próprio Democratas, o Progressista (PP), Solidariedade, quanto pelo PSB ou PC do B.

O cientista político Valdir Pucci vê dois cenários para as eleições no segundo turno. “Ou será mesmo a disputa entre os extremos ou, novamente, a disputa entre os partidos tradicionais”, diz. Segundo Pucci, a sociedade brasileira está em um momento de radicalidade, como mostram as redes sociais e as manifestações contra ou a favor do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. “Por outro lado, pode-se repetir no plano nacional o que se deu recentemente no estado de Tocantins, quando dois partidos tradicionais acabaram chegando ao segundo turno”.

Pucci conceitua como candidato de centro, dentro da concepção do eleitor brasileiro, aquele que não apresenta propostas de grandes reformas nem no campo social ou moral nem no campo econômico ou de Estado. Por isso, ele aponta que candidatos como o senador Álvaro Dias, do Podemos, ou João Amoêdo, do Novo, enquadram-se mais no perfil de centro do que nomes como Alckmin, Maia, Ciro Gomes (PDT) ou Meirelles. “Mas os partidos a que eles (Dias e Amoêdo) pertencem não possuem a mesma capilaridade que os partidos dos demais candidatos, por isso não serão cogitados por quem deseja compor a grande aliança de centro de que falam”.