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Diante da indecisão do governo frente à crise, Senado realiza sessão secreta

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A greve dos caminhoneiros expôs a fragilidade cada vez mais latente do governo Temer e o distanciamento de seus aliados diante das seguidas demonstrações de inabilidade do Palácio do Planalto. Numa semana que começou com o presidente da República obrigado a desistir de se candidatar à reeleição e lançar a candidatura do ex-ministro Henrique Meirelles (MDB) ao Planalto, mesmo que desagradando aliados, Michel Temer viu o país parar por conta dos bloqueios nas rodovias e o desabastecimento. A tensão foi tanta que os senadores se reuniram, na noite de quinta-feira, a portas fechadas no gabinete do presidente do Senado, Eunício Oliveira (MDB-CE), para avaliar a gravidade da crise. Não sobraram críticas à demora do governo em agir e à postura do presidente da Petrobras, Pedro Parente.

A inoperância do governo levou Eunício Oliveira e seu colega Rodrigo Maia (DEM- -RJ), presidente da Câmara, a tomar frente das ações ganhando protagonismo na crise dos combustíveis, enquanto Temer passou ao papel de coadjuvante. No meio da paralisação dos manifestantes, o presidente deixou as discussões e foi ao Rio de Janeiro entregar carros numa fábrica de Resende. O pano de fundo da crise dos combustíveis é o jogo eleitoral, pois, às vésperas do pleito de outubro, ninguém quer parecer tão ligado a uma administração impopular e a um presidente desgastado. “Não só o governo é fraco, mas o próprio Temer. A medida que o poder central do PSDB e MDB está enfraquecido, eles pensam ‘vamos salvar nossa pele’”, avalia o senador Paulo Rocha (PT-PA), lembrando que o senador Renan Calheiros (MDB-AL) se afastou do governo Temer logo que percebeu que a gestão de seria desastrosa.

No meio da semana, Maia e Eunício se anteciparam e anunciaram nas redes sociais que a Cide seria zerada. Depois, o deputado do DEM, que é pré-candidato à sucessão presidencial de outubro, correu para comandar a votação da proposta que atrela a reoneração da folha de pagamentos de empresas de 28 setores ao fim da alíquota de PIS/Cofins que incide sobre o diesel até o fim do ano. O feito foi considerado por muitos desastroso, pois a aprovação da matéria impactaria o caixa do governo em R$ 12 bilhões a menos, e não em R$ 3,5 bilhões. Apesar do erro, Maia insiste que o governo poderá compensar a decisão de zerar a alíquota do PIS/Cofins com outras arrecadações, como de receitas extras com os royalties de petróleo impulsionadas pela alta do barril. “Fiz aquilo que considero correto para o Brasil”, afirmou o deputado.

O gesto solo de Maia teria irritado Eunício, que chegou a retornar para o Ceará dizendo que não iria votar o projeto. De volta à Brasília, o senador emedebista chamou uma reunião de líderes para discutir a crise.

Não é de hoje que os presidentes da Câmara e do Senado têm divergido da condução do Planalto. Nesta semana, em meio à paralisação dos caminhoneiros, Maia anunciou que não votaria a medida provisória da privatização da Eletrobras e Eunício tornou público seu descontentamento com o fato de o presidente Temer ter lançado Henrique Meirelles à Presidência. A pauta da segurança pública e a falta de força do governo em votar a reforma previdenciária também foram motivos de atrito. Outro ponto de embate foi a postura do presidente da Petrobras, condenada até mesmo por tucanos, na verdade os primeiros a pedir a cabeça de Parente, incluindo o vice-presidente do Senado, Cássio Cunha Lima (PB), que chegou a afirmar que “falta governo e comando”.

Para Eunício, faltou sensibilidade por parte de Parente, que assistiu o preço dos combustíveis subir assustadoramente nos últimos dias, sem tomar nenhuma medida. A declaração de Parente afirmando que mudanças na política de preços da estatal só ocorreriam sob outra gestão que não a sua foi vista entre parlamentares como uma chantagem. A gestão de Parente também sofre críticas da oposição. O deputado Orlando Silva (PCdoB-SP), relator do projeto do PIS/Cofins, afirma que a saída de Parente do cargo seria um favor ao Congresso Nacional.