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Obituário: Dines, o amplo legado permanece

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Numa cerimônia que seguiu a tradição judaica, que Alberto Dines abraçou nos 86 anos de vida – sempre com postura crítica a “atitudes injustas, improcedentes, indignas, da nossa ética”, como lembrou o amigo Francisco Moreno –, parentes, amigos e colegas do jornalista, em um ato simbólico, “plantaram a continuidade do seu legado” ao colocarem terra sobre o caixão, no cemitério de Embu das Artes, na Grande São Paulo.

Em um ritual presidido pelo rabino Ruben Sternschein, da Congregação Israelita de São Paulo, destacou-se a importância de Dines não só no jornalismo, mas também como biógrafo e estudioso do judaísmo.

Sua perseverança, por mais de 15 anos, garantiu a criação, em Petrópolis (Região Serrana do Rio), da Casa Stefan Zweig. Homenagem ao escritor austríaco que se refugiou do nazismo no imóvel que, hoje, mantém sua memória.

O destaque mais lembrado, porém, foi o legado para o jornalismo brasileiro. A começar por sua colega de redação do JORNAL DO BRASIL e companheira de vida por 43 anos, Norma Couri: “Você vai fazer muita falta no jornalismo deste país. Marcou presença em todas as fases relevantes da imprensa no Brasil entre os anos 50 e as duas primeiras décadas do século 21. É como se tivesse a certeza de que a atuação incansável e diária dos 65 anos de profissão mudaria os fatos e criaria fatos. Sempre com a consciência clara do papel de agente da História, que lhe dava uma coragem permanente, sem qualquer arrogância. Uma força invejável de reagir a contratempos, demissões, portas fechadas, sem nunca desanimar. Eu nunca vi, nesses anos de vida em comum, você desistir ou desanimar. Reagia. Ao contrário, tirava força e virava o jogo. Além de tudo, carregava esta força com você e distribuía para os amigos, os alunos, os colegas. Era generoso, iluminado. Único”.

Em uma grande coincidência, Norma repetiu o que defendeu Omar Peres, presidente do JORNAL DO BRASIL, no artigo publicado na edição de ontem, em nome da equipe que devolveu às bancas o tradicional JB, que Dines reformulou na década de 60. Para Peres, Dines “teria partido fora de hora, ainda que vivesse um centenário”. Norma foi além: “Há pessoas que não devem morrer antes dos 100 anos. Você não devia morrer antes dos 200. Eu não pensei que você fosse morrer deixando projetos que chegam até o ano 3000. Sem falar nos que distribuiu por aí, para quem quisesse embarcar.”

Celso Lafer, ex-ministro das Relações Exteriores dos governos de Fernando Henrique Cardoso, destacou “a integridade, o caráter. Firme nas suas posições, não guardava rancor. Mostrava-se de grande sedução no tratamento pessoal”.

Para Silvio Band, presidente da Casa Stefan Zweig, Dines era uma “pessoa sempre generosa, disposta a ensinar, a aprender, a ouvir”. 

Dines também foi lembrado pelo “compromisso incondicional com a ética judaica e em tornar esse mundo um lugar melhor, dentro daquilo que nossos profetas, nossos sábios, preconizaram e preconizam o tempo todo”, enfatizou o amigo Francisco Moreno.