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Paulo Rabello de Castro critica ‘manicômio tributário’

Pré-candidato à Presidência pelo PSC, economista destaca que “pobres pagam mais do que os ricos”

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No fim de março, o economista Paulo Rabello de Castro comunicou ao presidente Michel Temer que estava deixando o comando do  BNDES para se dedicar à sua pré-candidatura à Presidência pelo PSC. A legenda pode ser modesta, mas os planos de Rabello de Castro são ambiciosos. 

Mestre e doutor em Economia pela Universidade de Chicago, o experiente economista, de perfil liberal, considera que um dos principais problemas do país está na questão tributária. Ao falar sobre sua plataforma de campanha, ele afirma que a política tributária no país é  “um manicômio completo, em que os  pobres pagam mais do que os ricos”.

Como surgiu sua candidatura à Presidência pelo PSC?  

O pastor Everaldo, presidente do Partido Social Cristão, me procurou porque sou autor do livro “O Mito do Governo Grátis”, que aponta possibilidades de uma grande virada econômica e social no Brasil. Nosso país chegou ao limite: estagnado e moralmente decadente. O livro é baseado nas experiências de 13 países que passaram por situações de crise e conseguiram criar saídas que, em um primeiro momento, pareciam improváveis ou até impossíveis. O pastor Everaldo, de alguma forma, vislumbrou o candidato escondido atrás de um autor. De conversas com ele e com o diretório nacional do PSC nasceu uma disposição de todas as partes, que evoluiu para uma firme intenção. Quando eu me desliguei da presidência do BNDES no dia 31 de março, a intenção virou pré-candidatura. 

O deputado Jair Bolsonaro era de seu partido e pré-candidato à Presidência? O que mudou nesse caso? 

Bolsonaro estava mal acomodado no PSC. Nossa candidatura não surge como alternativa a ele, que nem está mais no partido. Temos musculatura própria, vinculada à  ideia de transmitir um projeto de nação, ancorado na prosperidade compartilhada, sem deixar ninguém para trás, e com os valores muito arraigados para o que é central para o cidadão. Isso inclui todos os aspectos ,econômicos, de segurança, o direito à vida desde a sua concepção, a defesa da família brasileira, que hoje está abalada. Precisamos trabalhar novas bases da nossa sociedade ancoradas no trabalho , no esporte, nas artes e ciência, e fixar nossos valores como cidadãos. Ou seja, coragem, caráter e cordialidade, marcas do brasileiro. 

Quais suas propostas para retomar o crescimento, criar empregos e recuperar a economia brasileira?

 A primeira ideia é ganhar a confiança na saída. Não bastam propostas de abertura. É preciso fechar o fosso da exclusão social. Hoje, parte das elites está conformada. Pior: o FMI afirma que o Brasil não crescerá mais de 2,2%, ano, até 2030. Não acredito nisso. Acho que o desempenho pode ser  melhor. O maior inimigo é a política tributária. Um manicômio completo. Os mais pobres pagam mais do que os ricos. É possível reverter essa situação. Simplificar. Sete tributos é um contrassenso bestial, um suicídio da produtividade. Temos de “des-suicidar” o país. Não basta fazer um ajuste cosmético, como tem sido feito. A reforma tributária tem de ser como o  Plano Real, para colocar dinheiro para o trabalhador e gerar emprego, de forma tão radical como aconteceu no Brasil quando acabamos com a hiperinflação paraalcançar a estabilidade. A Reforma Fiscal, inclusive dos gastos de custeio hoje descontrolados, somada à uma reforma previdenciária bem bolada, feita de uma maneira positiva e inteligente, vai gerar um impacto, já a partir de 2019, garantindo cerca de 5% ao ano de crescimento do Brasil. Com esse gatilho, vamos nos surpreender muito com o crescimento do país. Além disso, para crescer, é preciso investir mais. Hoje, 72,2% do sistema bancário inteiro no Brasil são apropriados para o financiamento estéril do setor público, restando míseros 27,8% para o financiamento das empresas e das famílias. A taxa de investimento no Brasil é muito baixa, cerca de 15% em relação ao PIB. 

Para além da questão econômica, qual será o foco de seu programa de governo? 

A sociedade precisa ser novamente motivada. É preciso destravar a economia. Temos que reforçar politicamente nossas instituições, e não só esperar chegar o próximo mandão que quiser tentar implementar um populismo personalista no Brasil. Sociedades livres e prósperas têm que estar calcadas na autoestima da população, e isso vai exigir um conjunto de providências sociais, que estão ligadas à lista de reivindicações das manifestações de rua de 2013. Essas reivindicações nunca foram atendidas, nada se fez em resposta ao clamor dos jovens que saíram às ruas para pedir educação padrão Fifa, saúde padrão Fifa. Enquanto fazíamos uma Copa padrão Fifa, o brasileiro ficava com o osso. Temos que caprichar para nós mesmos no aspecto social, especialmente os jovens carentes. Esses jovens muitas vezes estão em comunidades faveladas, não estudam, não trabalham, e estão desamparados. Muitas vezes negros, na faixa de 15 a 20 anos, são as maiores vítimas da violência. São famílias desestruturadas, carentes, que deixam o jovem sozinho. Esse jovem muitas vezes é aliciado pelo tráfico de drogas, fica encurralado, pega em armas, mata e morre. Homens jovens nessa faixa social têm uma taxa de mortalidade até cinco vezes maior do que as mulheres, em função da violência. Se nós não tivermos coragem de dizer que vamos tratar desse problema no Brasil inteiro, não apenas no Rio de Janeiro e São Paulo, mas em todo o país, usando tecnologias de ponta, usando estruturas de educação, náo acho que estaremos respostas adequadas ao nosso futuro como Nação. 

Quais são suas prioridades na área social? 

Fazer render cada real dos impostos pagos pelo trabalhador brasileiro. Essa equação tem que ser positiva. Para cada real que um trabalhador brasileiro paga de imposto, ele tem que ganhar pelo menos 1,20 reais sobre o que ele pagou. Hoje o trabalhador brasileiro não leva para casa nem vinte centavos do real que ele pagou em forma de impostos. Cinquenta centavos vão para o serviço horroroso da dívida interna brasileira, que paga os juros mais elevados do mundo, sem sentido, e que nós vamos combater. Quando nós fizermos esse combate ao excesso de juros, vão começar a sobrar centenas de bilhões de reais. O Brasil pode fazer o maior programa de apoio ao trabalhador brasileiro, para os jovens, para a terceira idade, para as comunidades faveladas, para apoiar o cooperativismo, para apoiar o empreendedorismo.  

A privatização de empresas estatais também faz parte de sua plataforma? 

Não estou preocupado em privatizar. A Eletrobras, por exemplo, está longe de ter alcançado o preço ótimo de venda. Eu teria fortíssimas reservas de apressar essa capitalização como está sendo feito. que está dentro da estrutura corporativa da Eletrobras e é uma atividade importantíssima. Ela precisa ser separada do corpo da Eletrobras e isso não é trivial. É preciso mais de R$ 15 bilhões para terminar Angra 3. Eu estou preocupado com eficiência. Como liberal, sei que quem toma conta do que é seu, da sua propriedade, cuida melhor, Cumpriremos o que está na lei de Responsabilidade Fiscal, artigo 68. Essa lei está escrita e nunca foi cumprida, que é criar um fundo social dos trabalhadores através de ações que lá serão depositadas. O fundo foi instituído mas está inerte.  

O senhor é candidato de um partido pequeno. Como pretende formar uma base de apoio, no caso de eleito? 

Acredito que a área técnica não deve estar aberta a indicações políticas. Isso é inaceitável. FHC perdeu a pauta final do seu mandato pela reeleição. E, sim, a agenda de uma candidatura. O cidadão não aguenta mais isso.