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Frei Betto: "Mesmo preso, Lula vai ter peso na eleição"

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Amigo íntimo de Lula desde a época das greves históricas do ABC, Frei Betto esteve com ele nas duas vezes em que o petista foi preso. O dominicano, que sofreu anos de prisão durante a ditadura militar,  acompanhou o então líder sindical quando  esteve detido em 1981  no Dops, em São Paulo. E, na semana passada, reuniu-se com o ex-presidente, horas antes de ele se entregar à PF. Em entrevista ao JB,  Frei Beto diz que, na ausência de Lula, vê em Guilherme Boulos, pré candidato do PSOL ao Planalto, uma alternativa viável. Boulos, justifica, “é uma forte estrela política em ascensão”.

Como estava o presidente Lula na semana passada, quando estiveram juntos? 

Fui ao sindicato e ele, que havia dormido ali, despertou quando cheguei. Estava tranquilo, sereno, mas indignado com o juiz Sérgio Moro por não ter aguardado o final dos trâmites judiciais. 

Ele ainda lhe pareceu disposto a disputar a eleição para Presidência? 

Não tocamos neste tema. Mas soube que o PT o mantém como candidato. Também não mencionou essa expectativa.

Em sua opinião,  isso é possível. O TSE aceitaria o registro da candidatura? 

Não sei avaliar.

Como a prisão do ex-presidente pode influenciar as eleições deste ano? 

Prevejo que Lula dificilmente sairá do noticiário. De modo que a prisão dele haverá, sim, de influenciar nas eleições. Mesmo preso, ele terá muito peso no processo eleitoral.

O senhor vê  alguma candidatura no PT, que não a do ex-presidente Lula? 

O PT tem muitos quadros qualificados à Presidência, além de Lula, como Tarso Genro e Olívio Dutra. Mas não sei se, em caso da inviabilidade da candidatura de Lula, eles serão indicados pelo partido.

No campo da esquerda, Guilherme Boulos, do PSOL, e Manuela d’Ávila, do PCdoB, são alternativas viáveis? 

Sim, principalmente Boulos, que é uma forte estrela política em ascensão.

O senhor considera possível uma Frente de Esquerda nas eleições de outubro? 

Difícil, porque o PCdoB e o PSOL dificilmente abrirão mão de seus candidatos. Mas se um candidato da oposição passar ao segundo turno com certeza aglutinará todos os partidos progressistas.

Qual sua opinião sobre as candidaturas de Ciro Gomes e Marina Silva? 

Sem Lula no páreo, eles teriam votos de petistas? Não me sinto em condições de fazer essa avaliação. Apenas assinalo que não considero Ciro Gomes e Marina Silva de esquerda.

Jair Bolsonaro pode passar para o segundo turno e vencer a eleição de outubro? 

Só o resultado das urnas dirá.

E os candidatos de centro, como Geraldo Alckmin, do PSDB, e Rodrigo Maia, do DEM, têm alguma chance, a seu ver? 

A direita tem tantos candidatos que, com certeza, haverá tamanha pulverização dos votos que, sem dúvida, favorecerá a passagem de um candidato progressista para o segundo turno.

Com Lula preso e fora da campanha, o PT deixará de ser hegemônico na Esquerda? 

Pelo contrário, a prisão de Lula provocou tamanha indignação que acredito que o PT se reforçará.

O PT deveria ter feito autocrítica?  É tarde para isso? O partido deveria apoiar a Lava Jato e o combate à corrupção? 

Lula e o PT sempre apoiaram a Lava Jato e o combate à corrupção. Porém, criticam a partidarização da Lava Jato e a omissão do STF diante dos políticos comprovadamente corruptos. Quanto à autocrítica do PT, defendo isso desde a publicação de meus livros críticos aos governos petistas, lançados antes do mensalão, “A mosca azul” e “Calendário do poder”, ambos editados pela Rocco.

O que se pode esperar dos movimentos sociais nos meses que antecedem as eleições? 

Espero que se mantenham mobilizados para ajudarem a esclarecer os eleitores que devemos votar em candidatos comprovadamente comprometidos com as demandas populares, como o combate à desigualdade social e o resgate das políticas sociais rejeitadas pelo governo golpista de Temer. Considero os governos Lula e Dilma, com todos os equívocos cometidos, os melhores de nossa história republicana.

O senhor participaria novamente de um governo petista ou de outro partido de esquerda? 

Jamais fui filiado a qualquer partido. E não aceitaria participar de nenhum governo. Valeu a experiência do Fome Zero em 2003 e 2004, quando fui assessor do presidente Lula. Hoje sou um feliz ING - Indivíduo Não Governamental.