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União da esquerda empaca

Negociações  entre PT, PSOL e PCdoB continuam, mas ninguém abre mão de seus projetos eleitorais

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Partidos de esquerda e movimentos sociais buscam um nome para fazer frente a uma possível onda de direita que ameaça se espalhar pelo país nas eleições deste ano. Embora concordem com a necessidade de unificação, as legendas de oposição não se entendem pela falta de um nome agregador e também por aspectos programáticos. “Para haver essa unidade que as esquerdas buscam, seria necessário o consenso em torno de um programa mínimo. Para muitos partidos de esquerda é difícil negociar pontos que para eles são fundamentais”, aponta o filósofo Manfredo de Oliveira, professor da Universidade Federal do Ceará, autor de vários livros sobre ética política. 

Oliveira cita o exemplo do PSOL que, tanto no âmbito nacional quanto no caso do Rio de Janeiro, resiste em firmar alianças. “O PSOL tem defendido a união das esquerdas e até o direito do ex-presidente Lula ser candidato. Mas não vai abrir mão de colocar questões cruciais para os seus integrantes, inclusive a crítica aos governos petistas”, diz. Ele lembra que o PSOL surgiu da insatisfação de petistas pelo partido não ter posto em prática parte da agenda que propunha antes de ascender ao poder. “É claro que será exigido do PT que faça uma revisão, reconheça os seus erros e recoloque esses temas na pauta. O PT ainda não demonstrou estar disposto a isso”.   

Na semana passada, o PCdoB e o PT do Rio haviam iniciado um movimento pelo qual deixariam de concorrer ao governo caso o deputado estadual Marcelo Freixo, do PSOL, aceitasse liderar a frente única composta pelas forças de esquerda. Freixo não aceitou. Reafirmou o nome do vereador Professor Tarcísio como candidato do seu partido e o PCdoB acabou por lançar a pré-candidatura de Leonardo Giordano, vereador de Niterói. 

A deputada federal Jandira Feghali (PCdoB-RJ) foi uma das articuladoras do movimento. “O nome do Leonardo está colocado. Ele é o nosso candidato ao governo do estado, assim como Manuela D’Ávila é a nossa candidata à Presidência da República. Mas o PCdoB sempre foi favorável à unificação das esquerdas”, diz, ao ressaltar que o partido estará disposto a compor com  as demais forças de esquerda. “No caso específico do Rio, precisamos encontrar um nome que tenha densidade eleitoral e capacidade de união”.   

O pré-candidato do PT ao governo do Rio, Celso Amorim, diz que abriria mão de sua candidatura em nome da frente ampla. Mas também não vê, no momento, a possibilidade de que ela se realize no primeiro turno. “A minha candidatura é decisão do partido, a qual estou disposto a acatar. Mas estou entre os que têm defendido a unidade das esquerdas para enfrentar o fascismo que assistimos crescer no Brasil e no União da esquerda empaca mundo. Respeito e admiro o Freixo, mas as sinalizações que estamos tendo é de que não aceitará a proposta de representar as esquerdas já no primeiro turno”, comenta Amorim, cotado também para a candidatura a vice-presidente pelo PT. 

Ministro das Relações Exteriores no governo Lula e ministro da Defesa no governo Dilma, Amorim vê como “risco real” a possibilidade de um segundo turno integrado apenas por partidos de direita, caso a candidatura do presidente Lula seja inviabilizada. “Há, entre as esquerdas, de um modo geral, a forte expectativa de que o Lula será o candidato que irá ganhar, já no primeiro turno. Mas numa eventual inelegibilidade, um ponto ou dois no resultado do primeiro turno fará muita diferença. A chance de o país ter um segundo turno conservador existe. A história mostra que a gente não pode ignorar isso”. 

Manfredo de Oliveira concorda com Amorim. Diz que existe uma “tendência à direitificação” que já vem se consolidando no campo social e político no Brasil e no mundo. “O segundo turno composto apenas pelos candidatos de direita e extrema direita é um problema real que o Brasil deverá viver se não houver a construção de programa em torno de uma candidatura forte na esquerda”.     

Jandira relaciona o assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL-RJ) e a pressão pela prisão do ex-presidente Lula como parte de uma mesma estratégia de conservadorismo no Brasil. “Em ambos os casos, tratam-se de crimes políticos. Uma eventual prisão de Lula será política. Se for preso, ele será um preso político. Assim como assassinato de Marielle foi claramente político. Ambos os crimes, cometidos por forças fascistas, devem ser denunciados em todas as instâncias de direitos humanos”, defende a parlamentar, ao sustentar que a busca da unificação das esquerdas hoje faz parte de um movimento maior, que vai além das alianças eleitorais.