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'Mandei 15 mil e vou mandar mais'. Conversas do MBL indicam plano político e financiamento

Revista 'piauí' teve acesso a conversa em grupo no WhatsApp, “MBL – Mercado”

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Fortalecimento de João Dória, críticas ao PSDB e a políticos de diferentes direcionamentos, além do apoio a reformas desejadas pelo mercado dão o tom de dois meses de conversas no WhastApp em um grupo nomeado “MBL – Mercado”, com a participação dos principais integrantes do Movimento Brasil Livre (MBL). A revista piauí publicou uma reportagem em seu portal nesta terça-feira (3), assinada por Bruno Abbud, que detalha e contextualiza o conteúdo do bate-papo que teria sido criado para fazer uma ponte entre conversas políticas e interesses do mercado financeiro - "pelo menos 158 funcionários de instituições como Banco Safra, XP Investimentos e Merrill Lynch". 

Outro assunto que ganha destaque nas conversas é o financiamento do MBL, e os esforços para conquistar mais colaboradores. Em duas semanas, por exemplo, "foram arrecadados mais de 50 mil reais, reforçados, aparentemente, por um evento presencial", diz a revista. 

O grupo criado no aplicativo contava com Kim Kataguiri, principal líder do MBL, além dos irmãos Renan e Alexandre Santos, do vereador democrata de São Paulo Fernando Holiday, do youtuber oficial do movimento e dono do canal Mamãe Falei, Arthur do Val, e de Pedro Augusto Ferreira Deiro, também conhecido como o funkeiro Pedro D’Eyrot.

Laços Políticos e econômicos

O prefeito de São Paulo João Doria ganha destaque nas conversas, como figura apoiada para a eleição presidencial de 2018, enquanto outros políticos como José Serra, Aécio Neves, Geraldo Alckmin e Bolsonaro são fortemente criticados nas conversas que vão do dia 25 de julho (13h49) até a 27 de setembro (20h25). 

De acordo com a revista, o grupo busca "drenar parte das jovens lideranças tucanas". "A ideia é deixar todo esse povo podre afundando com o psdb e trazer a galera mais Jovem e liberal pro mbl”, diz Kim Kataguiri no dia 22 de agosto a uma pessoa que dizia temer a união entre MBL e PSDB. "Com os do PSDB temos preconceito, conceito e pós-conceito. São pilantras", reforça Kataguiri, quando os integrantes são questionados se teriam algum preconceito com a legenda tucana.

No dia seguinte, Renan Santos reforçava: "Não bastava a gente tirar o PT do poder, estamos destruindo o PSDB ali, essa ala de esquerda tá desesperada".

Sobre o senador José Serra, Renan Santos comenta: “E ontem o Serra, por exemplo, que é dessa ala de esquerda, tava com o Lindbergh Farias indo contra o TLP, imagina? Vagabundo". O MBL estava alinhado com o interesse do governo, em apoio ao aumento da taxa de juros do BNDES. Serra e o senador Lindbergh Farias, contudo, tentaram suspender as discussões sobre a TLP, que acabou sendo aprovada. "PSDB e Serra ontem morreram para mim. Carga total no Novo/MBL/VPR e Doria", disse outro integrante do grupo.

Já sobre Aécio, em resposta a um integrante que disse que o senador "dispensa comentários" e que poderia ser "encarcerado na sequência" das denúncias sobre o pedido de verba para Joesley Batista, Renan Santos declara: "Tb acho". "Só não vamos alterar a configuração atual das forças políticas nem fornecer uma narrativa que favoreça o ressurgimento da esquerda enquanto isso. Essa é a tônica do que defendemos", completou. 

Alckmin, por sua vez, é criticado pela possibilidade de ter Aldo Rebelo como seu vice em uma suposta chapa para disputa em 2018. Alexandre Santos escreve: "Aldo Rabelo é fim de linha. O bom é isso sepulta de vez o xuxu". O irmão Renan responde: "Po. vamos torcer."

Dilma, Lula, PT, Psol, Marina Silva e Rede também viram alvo de críticas, mas com menor intensidade do que a recebida por políticos como Jair Bolsonaro, que é chamado de "tosco", "ignorante", "sem noção" e "inadmissível".

Luciano Huck também é citado, visto como uma figura que diluiria o voto da direita, enfraquecendo Dória. Renan Santos diz que "ele é piada", "lixo". "Politicamente correto, desarmamentista, ambientalista de boutique, intervencionista", completa. 

Para a revista, "o esvaziamento do PSDB engendrado pelo MBL no grupo de WhatsApp parece ter como objetivo final tirar o prefeito de São Paulo, João Doria, do partido". Renan Santos diz em uma conversa: "Com ou sem psdb. A aliança q pode lhe [Doria] eleger está no pmdb dem evangélicos agro e mbl. Nosso trabalho será o de unir essa turma num projeto comum". E completou "Espero, de coração, q a tese q a gente defende (aliança entre setores modernos da economia + agro + evangelicos) seja aplicada. É a melhor forma de termos um pacto politico de centro-direita, q dialoga com o campo e com a classe C".

Michel Temer, por sua vez, é colocado como uma figura utilitária. Um participante comentou em três mensagens: "Reunião com Deputado federal do DEM agora. Disse que governo Temer precisa focar em reforma da previdência na divulgação nas redes sociais. Precisam de ajuda na comunicação para população entender". Renan Santos responde: "Já estamos, soltamos dois videos".

Em outro momento, Renan Santos diz, possivelmente referindo-se a Temer: "E é o seguinte: vamos tentar botar pra frente essa previdência. Ainda da tempo. O zumbizão ta lá pra isso kkk."

Mão Invisível, Agentes da CIA, Exterminador de Pelegos ou Privatiza Tudo?

Outra questão indicada pelas conversas é a forma como o grupo se financia. Uma planilha foi criada para registro de dados dos integrantes do MBL e para o valor de doações. Em 9 de agosto, um deles diz: "já mandei 15 mil e vou mandar mais". "Opa! Foi hoje?", responde Alexandre Santos. "Hoje não mandei, vou mandar mais tarde. Os 15k mandei faz um mês."

Em duas semanas foram arrecadados mais de R$ 50 mil, aponta a revista, que teriam sido reforçados por um evento presencial. Além de contribuições esporádicas, haveria uma receita fixa mensal. No dia 9 de agosto, o balanço da planilha indicava que os apoiadores doavam, somados, R$ 2.380 por mês. No dia seguinte, eram R$ 5.780 fixos por mês.

Em determinado momento, a tabela de Excel passou dias sem registrar novos doadores. No dia 17 de agosto, um integrante pressionou. No dia seguinte, as doações de 37 integrantes somaram R$ 8.510 mensais.

Cada plano de contribuição recebeu um nome. O Mão Invisível, por exemplo, de R$ 250 por mês, garante participação em jantares e reuniões e tem o maior número de participantes. Outros planos são chamados de Agentes da CIA (R$ 30 por mês), Exterminador de Pelegos (R$ 500 mensais) e Privatiza Tudo (R$ 5 mil por mês). 

Outra forma de contribuir é com milhas aéreas. Em menos de um dia, 400 mil milhas foram doadas e, em um mês, 959 mil milhas.