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'Bloomberg': Brasil registrou mais mortes violentas do que Síria entre 2011 e 2015

Ministro da Defesa do Brasil foi entrevistado pela Bloomberg

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A democracia brasileira está em risco se as forças armadas não forem devidamente financiadas para combater o crime organizado, disse o ministro da Defesa do Brasil, Raul Jungmann, em entrevista publicada pela Bloomberg nesta segunda-feira (14).

"As forças armadas estão no limite, precisam respirar", disse Jungmann em entrevista à Bloomberg em seu escritório em Brasília. 

"Precisamos de medidas especiais para a defesa. É o preço que a nação deve pagar por sua soberania".

"O exército participou de operações realizadas pelas forças de segurança do Estado do Rio de Janeiro contra o crime organizado. No início deste mês, uma força-tarefa conjunta de cerca de 5.000 militares e policiais atacou facções envolvidas no tráfico de drogas e roubo de carga. Algumas comunidades estão fora do controle do estado", disse Jungmann, e acrescentou "que organizações criminosas impedem eleitores de votar livremente".

"A natureza violenta do crime organizado favorece a disseminação de idéias radicais, como a pena de morte, bem como as reivindicações dos populistas que tentam enganar as pessoas em soluções rápidas", disse ele. 

Os comentários foram uma aparente referência ao deputado federal Jair Bolsonaro, um reservista do exército que pretende concorrer à presidência em 2018 em uma plataforma de lei e ordem de linha dura, observa Bloomberg.

"Seria bom obter alguns resultados dessas operações até 2018 porque a falta de segurança destrói a convivência", disse Jungmann. 

"Tem um efeito regressivo sobre a sociedade, tanto a nível civilizacional quanto humanitário".

De 2011 a 2015, o Brasil registrou mortes mais violentas do que a Síria, de acordo com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, informou a Bloomberg. Cerca de 60 mil brasileiros foram assassinados apenas em 2015, o último ano em que números foram registrados.

"Quando o crime atinge um certo nível, como no México, isso torna-se um problema para a própria democracia, já que os direitos e garantias constitucionais começam a ser violados", disse Jungmann.

O poder do crime organizado no Brasil, com a grave crise fiscal do país que afetou as funções básicas do Estado e os salários atrasados ??dos trabalhadores do setor público, incluindo a polícia, geram receios de uma deterioração da segurança antes das eleições de 2018, avalia Bloomberg.

Nas eleições municipais do ano passado no estado do Nordeste, as gangues do Maranhao tentaram bloquear a votação, lembra o noticiário.

Jungmann disse que está esperando que a equipe econômica libere recursos depois que o governo cortou o orçamento de investimento da defesa em 2017, como parte dos cortes transversais nas despesas públicas. O ministério elaborou um orçamento de investimento de 15 bilhões de reais (US $ 4,7 bilhões) antes que o governo congelasse 9,6 bilhões. Jungmann deve reunir-se com o ministro das Finanças, Henrique Meirelles, em breve para defender seu caso de financiamento extra.

No entanto, a ideia de aumentar as despesas das forças armadas para conter o crime quando várias forças policiais são subfinanciadas, faz com que muitas pessoas fiquem insatisfeitas em um país onde os militares governaram até pouco mais de três décadas atrás.

O presidente Michel Temer, em maio, desencadeou um alvoroço e teve que emitir uma declaração justificando suas ações quando enviou soldados para patrulhar as ruas de Brasília durante protestos contra o governo que acabaram por incendiar um edifício ministerial, acrescenta.

O policiamento por si só não é o suficiente para parar a crise da segurança pública, diz Jungmann, que foi eleito como deputado federal.

"O Rio de Janeiro está em uma crise fiscal, incapaz de pagar até salários e compensação de horas extras para as forças de segurança, e sem melhorias em infraestrutura ou cuidados de saúde, a situação tende a incomodar e desesperar", afirmou.

Jungmann elogiou a recente decisão do governo federal de quase duplicar a quantidade de famílias no Rio de Janeiro elegíveis para o programa de benefícios, Bolsa Família. O ministro da Defesa disse que ajudará a proteger famílias pobres que são mais vulneráveis ??à crise.

Não há uma solução a longo prazo para a violência do Brasil, a menos que o país aborde as condições subjacentes que permitem que o crime floresça, acrescentou.

> > Bloomberg