Matéria publicada nesta quarta-feira (26) pelo The Guardian conta que centenas de trabalhadores agrícolas sem terra invadiram fazendas pertencentes ao ministro da Agricultura do Brasil, ex-presidente da associação brasileira de futebol e amigo íntimo do presidente Michel Temer.
As invasões na terça-feira fazem parte de uma campanha lançada pelo Movimento dos Sem Terra, conhecida por suas iniciais MST, para aumentar a pressão sobre Temer antes de uma votação do Congresso dia 2 de agosto sobre se ele deveria ser julgado por acusações de corrupção, analisa o diário britânico.
"Vamos continuar as ocupações até a véspera do voto", disse João Paulo Rodrigues, um dos organizadores nacionais do MST.
O governo de Temer tropeçou de crise em crise desde que assumiu o poder no ano passado, descreve o Guardian, acrescentando que o mais recente começou em maio, quando surgiu uma gravação de Joesley Batista, cuja família controla o gigante da carne JBS, onde Temer estaria incentivando a obstrução de uma investigação.
Uma das fazendas invadidas, perto de Rondonópolis, no estado de Mato Grosso, é de propriedade da Amaggi, uma gigante da agricultura e da logística, fundada pelo pai do ministro da agricultura do Brasil, Blairo Maggi, que anteriormente presidia a empresa. Em um comunicado, a empresa disse que estava preocupado com a segurança de 17 trabalhadores e suas famílias.
No início deste ano, um juiz da Suprema Corte autorizou a investigação de Maggi e outros sete ministros depois que executivos do conglomerado de construção da Odebrecht disseram que fizeram doações de campanha ilegal para ele, informa o noticiário.
Outra fazenda invadida, no estado do Rio de Janeiro, é de propriedade de Ricardo Teixeira, ex-presidente da Confederação Brasileira de Futebol e membro do comitê executivo da Fifa. Em 2015, Teixeira foi indiciado nos Estados Unidos por agressões, conspirações e corrupção. Mais recentemente, os promotores espanhóis emitiram um mandado de prisão para ele, acusando o de lavagem de dinheiro.
Uma terceira fazenda invadida, no estado de São Paulo, pertence a João Lima Filho, ex-policial e amigo íntimo de Temer. Um executivo da JBS alegou que Lima recebeu dinheiro de suborno para testemunhar a favor do presidente. Os manifestantes também ocuparam terras pertencentes ao senador Ciro Nogueira, que também está sendo investigado após o depoimento de executivos da Odebrecht.
O Guardian explica que o MST está intimamente ligado ao Partido dos Trabalhadores dos ex-presidentes Dilma Rousseff e Luiz Inácio Lula da Silva.
David Fleischer, professor emérito de ciência política na Universidade de Brasília, disse que as invasões provavelmente não influenciarão os legisladores dia 2 no Congresso, onde um poderoso lobby do agronegócio exerce uma influência considerável.
"É uma manobra política, uma tentativa de captação de votos", disse Fleisher.
"É política de pressão".