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'Direita muito conservadora' utiliza a Justiça no Brasil, diz Mujica

Ex-presidente do Uruguai critica mecanismo de delação e ataques contra Lula

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O ex-presidente do Uruguai e atual senador José 'Pepe' Mujica, em entrevista à BBC Brasil, destacou que há no Brasil uma "direita muito conservadora que está utilizando, entre outras coisas, a influência de mecanismos da Justiça", para frear movimentos progressistas ou "mais ou menos a favor da grande maioria" da população.

"Eu acho que o que está acontecendo no Brasil hoje tem antecedentes. Eu não posso separar isso da forma como expulsaram Dilma Rousseff da Presidência, apontou. 

"Porque é evidente que no Brasil tudo ganhou um tom conspirativo de extrema-direita que está atropelando um conjunto de conquistas e melhoras sociais. E há uma onda regressiva no campo trabalhista para os trabalhadores, isso é um problema sério", completou Mujica, que acentuou que as reformas em curso representam um retorno ao passado. "É como se o Brasil estivesse voltando aos seus piores tempos."

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Para Mujica, é "impressionante" os ataques contra o ex-presidente Lula. "Colocam a eventual venda de um apartamento em uma praia... (o tríplex no Guarujá). Para um homem que foi presidente durante oito anos da principal potência da América Latina e com o antecedente da retirada de Dilma Rousseff do governo... realmente tudo isso gera a imagem de um Brasil muito doente."

Mujica assegurou que não acredita em nenhuma das acusações com o ex-presidente Lula. "O tesoureiro do PT (Paulo Ferreira) foi condenado e depois o liberaram porque não havia provas", comentou. "Tudo isso que está acontecendo no Brasil acaba interrompendo, no longo prazo, a esperança em uma sociedade. E na vida dos homens, das mulheres, das sociedades, precisamos ter esperança. O Brasil está cultivando o não acreditar em nada. E depois disso o que vem? O niilismo? O golpe de Estado?"

O ex-presidente do Uruguai também criticou o mecanismo das delações premiadas. "E esse regime de delação premiada, inventado pelo fascismo, que vem da época do Mussolini, é uma bomba prestes a explodir", indicou. "É muito difícil poder separar a verdade da mentira. Essas pessoas, quando se veem perdidas, recorrem a qualquer coisa. Para mim, é um recurso retrógrado do sentido liberal da Justiça."

"Uma coisa é ser de direita e outra, conservador. O que há no Brasil está com cara de falso moralismo, e o fascismo na Europa se apresentou com cara de falso moralismo também."