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Bresser-Pereira: 'Mujica tem pena; eu, com os mesmos 82 anos, tenho vergonha'

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O economista e ex-ministro Luiz Carlos Bresser-Pereira comentou sobre as declarações do ex-presidente do Uruguai José 'Pepe' Mujica à BBC Brasil. Na publicação, o agora senador dizia sentir "pena do Brasil", sobre a manobra para salvar o presidente peemedebista Michel Temer na Câmara. "Mujica tem pena; eu, com os mesmos 82 anos, tenho vergonha", publicou Bresser-Pereira em rede social. 

"Não por Temer e seus amigos, que deveriam estar na cadeia; não pelo Brasil e seu povo, que é a vítima de tudo isso – da ganância e da corrupção dos ricos e seus fâmulos. Tenho vergonha pelas elites econômicas e burocráticas que continuam a sustentar no poder um governo desmoralizado, que atende a todos os seus interesses imediatos", completa. 

Para o economista, as elites apoiam o governo o governo de Michel Temer porque o peemedebista "realiza as 'reformas' que salvarão o Brasil – na verdade, que colocam todo o peso do ajuste econômico de que necessita a economia brasileira em cima dos trabalhadores e dos pobres". "E poupam a si próprias, continuando a cobrar juros de usura do Estado brasileiro. Sempre com o apoio de economistas liberais, com a justificativa que os juros extorsivos 'são necessários para combater a inflação'."

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O precisa de ajuste, sim, pondera o economista, mas não só fiscal e nem apenas por conta dos trabalhadores. Deveria ser, também, monetário e cambial. "Deve reduzir a taxa de juros básica e os spreads bancários, e, através de um câmbio competitivo, deve reduzir o consumo não apenas dos trabalhadores (como hoje faz), mas também dos financistas e rentistas."

"Só dessa maneira, colocando os juros e o câmbio no lugar certo, mesmo que isto reduza um pouco os rendimentos de todos – trabalhadores e rentistas – e a riqueza dos rentistas, as empresas industriais brasileiras poderão voltar a ser competitivas, e o Brasil poderá voltar a crescer, sugere Bresser-Pereira. "Muitos líderes dos trabalhadores sabem disto, e por isso defendem um acordo com os empresários industriais." 

"Mas estes estão enfraquecidos e não têm confiança nas lideranças sindicais. Permanecem, assim subordinados aos rentistas e aos financistas. Que, associados aos interesses estrangeiros, não têm pena do Brasil, nem vergonha de si mesmos. Eles são donos da 'verdade' – de uma 'racionalidade econômica' que serve a seus interesses – e continuam a se enriquecer, e, na medida em que o ajuste que promovem nunca é completo, continua a vender os ativos brasileiros ao exterior", conclui o economista.