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'NYT': Crise política do Brasil se aprofunda com possível saída de Temer

Jornal norte-americano diz que base aliada está dividida

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Matéria publicada nesta quarta-feira (28) pelo The New York Times conta que o presidente Michel Temer chamou a acusação de corrupção contra ele de"ficção", enquanto a crise política do país se aprofunda tendo o segundo presidente diante de uma possível remoção do cargo em pouco mais de um ano. Temer, que foi acusado de receber milhões de dólares em subornos, disse que o movimento contra ele prejudicaria a recuperação econômica do Brasil e, possivelmente, paralisaria os esforços de reforma.

"Fui acusado de receber subornos sem nunca ter recebido um centavo", disse Temer em um discurso nacionalmente televisionado. 

"Nunca vi esse dinheiro e nunca participei no planejamento de cometer nenhum crime".

Ele acrescentou: "Eu digo a vocês, meus amigos, sem medo de erros, que essa acusação é uma ficção".

De acordo com a lei brasileira, agora que o procurador-geral Rodrigo Janot acusou Temer, cabe à Câmara dos Deputados votar se permitirá que a Suprema Corte julgue o líder, que substituiu a presidente da esquerda Dilma Rousseff no ano passado.

>> 'Le Monde': Temer despreza acusação de corrupção e contra ataca com entusiamo

Dois terços da câmara devem votar contra Temer para que o julgamento ocorra, explica o NYT.

Os aliados de Temer na câmara dizem que têm os votos necessários para bloquear a acusação. Mas esperam que Janot lance novas acusações de obstrução da justiça contra Temer nas próximas semanas, forçando os legisladores a votar por um possível julgamento presidencial.

Vários altos legisladores aliados com a coalizão governante disseram que estão preocupados que a quantidade de votos para proteger o líder profundamente impopular possa corroer seu apoio, e leva lo a um julgamento. Espera-se que a votação ocorra em até um mês, acrescenta o Times.

A chave para a sobrevivência de Temer está nas mãos do Partido da Democracia Social (PSDB), o terceiro maior do Brasil, que deve decidir pela coalizão ou debandada. O partido está profundamente dividido, com muitos membros querendo se distanciar de Temer para melhorar suas chances de reeleição no próximo ano, avalia o texto do New York Times.

O deputado do PSDB, Caio Narcio, disse que a estabilidade política e a volta à economia eram mais importantes do que remover Temer, e que ele não podia virar as costas para o país neste momento crítico.

"O sofrimento e a crise são muito agudas para que um partido se concentre apenas em seus projetos", disse ele, enfatizando que os legisladores precisavam se unificar para que as reformas econômicas de Temer sejam aprovadas.

Mas o deputado do PSDB, Daniel Coelho, disse que muitos dos 54 deputados do PSDB poderiam votar contra Temer.

"Não consigo ver o argumento contra a abertura de um julgamento, do ponto de vista moral ou ético", disse ele.

Se um caso contra Temer fosse para o Supremo Tribunal, o presidente seria afastado por pelo menos 180 dias, deixando o presidente da Câmara Rodrigo Maia servir como líder interino do país.

Temer, cujo governo tem uma classificação de aprovação de um único dígito, já resistiu a repetidos pedidos da oposição para renunciar. Mas se ele fosse considerado culpado, o Congresso então escolheria alguém para liderar a nação durante o restante de seu mandato, que termina em 1º de janeiro de 2019.

A acusação contra a Temer já era amplamente aguardada e os investidores ficaram calmos na terça-feira (27). O índice Bovespa de referência do Brasil caiu 0,8 por cento e a moeda local caiu 0,6 por cento na negociação no final da tarde, descreve o diário norte-americano.

Os investigadores descobriram corrupção em todos os níveis da classe política brasileira e das elites empresariais nos últimos anos. Muitas delas se concentram em empresas que pagam bilhões de dólares em subornos a políticos e executivos de empresas estatais em troca de contratos lucrativos.

Temer e um terço de seu gabinete, bem como quatro ex-presidentes e dezenas de legisladores estão sob investigação ou já são acusados de participação nos esquemas. Mais de 90 pessoas foram condenadas.

> > The New York Times