ASSINE
search button

Revoltado por delação, Napoleão Maia invoca a "ira do profeta"

Ministro do TSE atacou imprensa e acusações: "Estou sendo injustamente prejudicado no meu conceito"

Compartilhar

Na retomada da sessão que julga a chapa Dilma-Temer no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), na tarde desta sexta-feira (9), o ministro Napoleão Nunes Maia Filho pediu a palavra para falar sobre o episódio em que seu filho foi barrado no tribunal. Exaltado, Napoleão afirmou que seu filho apenas estava trazendo um envelope com fotos da sua neta. Dando continuidade, Napoleão atacou a imprensa, falando sobre reportagens em que delatores da OAS teriam mencionado nomes ligados ao Judiciário, entre eles o de Napoleão. "Desejo que sobre eles desabe a ira do profeta. Eu sou inocente de tudo isso, estou sendo injustamente, perniciosamente, sorrateiramente e desavergonhadamente prejudicado no meu conceito", atacou Napoleão.

"Um delator teria dito que eu intercedi. Eu nunca vi esse advogado e duvido que tenha dito isso. A mentira é do delator, que disse isso para me incriminar em troca das benesses que recebeu. A delação está servindo para isso. Alguém pode ser solicitado a denunciar alguém em troca de uma benesse e [esse] alguém que amargure pelo resto da vida”, criticou Napoleão Nunes.

Napoleão criticou duramente o instrumento da delação premiada. “Se isto não terminar, o final não será bom. Todos nós estamos sujeito ao alcance dessas pessoas [delatores]. O sujeito fica indefeso diante disso, deve amargurar isso no coração?”, questionou o ministro. 

"Tomei sete decisões contrárias à OAS", prosseguiu, acrescentando que a citação a seu nome em delação da OAS é "cínica e sem vergonha."  "Um infrator confesso da legislação, da ética e da moralidade faz delação para receber benesses e cita o meu nome", rebateu Napoleão. 

Citando a imprensa, o ministro prosseguiu: "Não é jornalista quem faz isso. Se isso não terminar, o final não será bom", enfatizou, visivelmente alterado.

"Eu recebi da diaconia da minha igreja em Fortaleza uma pergunta sobre isso, esse negócio da [delação]. Eu respondi ao pastor simplesmente assim: 'Com a medida que me medem, serão medidos. E sobre ele desabe a ira do profeta'. É uma anátema islâmica. A ira do profeta não vou dizer o que é. Eu vou fazer um gesto da ira do profeta (neste momento, o ministro fez o gesto de cortar cabeças, para explicar o que queria dizer). É o que eu desejo, que sobre eles desabe a ira do profeta. Eu sou inocente de tudo isso, estou sendo injustamente, perniciosamente, sorrateiramente e desavergonhadamente prejudicado no meu conceito", criticou Napoleão.

>> Filho de ministro é barrado na entrada de plenário do TSE

Filho barrado

Sem paletó e gravata, traje obrigatório para ter acesso ao plenário principal do TSE, o filho do ministro Napoleão Nunes Maia foi barrado pela segurança do tribunal quando tentava assistir à sessão de julgamento da ação que propõe a cassação da chapa Dilma-Temer.

Napoleão afirmou que, logo após o episódio, um site publicou notícia dizendo que "homem misterioso portando envelope tenta forçar entrada na corte para entregá-lo ao ministro Napoleão". 

"Ele veio me entregar fotos da minha neta, de três anos. Não vinha trajado a rigor e, portanto, acertadamente, não pôde entrar no tribunal. Era simplesmente um envelope com as fotos de uma criança", disse, criticando a repercussão do assunto.

Delação

Reportagem do Valor Econômico desta sexta-feira aponta que, em busca de acordo de delação premiada com a Procuradoria-Geral da República (PGR), sócios e executivos do grupo OAS mencionaram aos investigadores mais de duas dúzias de nomes ligados ao Judiciário, entre os quais o do ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ) e integrante do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Napoleão Nunes Maia Filho, conforme apurou o Valor com fontes a par das rodadas de negociações.

A Agência Lupa também cita, em reportagem, que o ministro Napoleão foi citado pelo delator Francisco Assis e Silva, executivo da JBS, em sua delação. À Procuradoria-Geral da República, Assis disse que o ex-advogado do frigorífico, Willer Tomaz, preso na operação Patmos, tinha lhe contado sobre uma solicitação de interferência feita a Napoleão por conta de uma decisão contrária a José Carlos Grubisich, presidente da Eldorado Celulose, no âmbito da Operação Greenfield. Ainda de acordo com Assis, Willer Tomaz teria dito que o pedido havia sido atendido por Napoleão.

Tomaz, segundo Assis: “Olha, a decisão contra o Zé Carlos estava pronta segunda-feira. Eu consegui reverter. Pedi para o ministro Napoleão interferir. Ele interferiu e vai me dizer alguma coisa nos próximos dias”

Assis: Pera aí, custou quanto?

Tomaz, segundo Assis: ‘Calma, está muito ansioso, depois eu te informo’

O ministro Napoleão Nunes nega.