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'The Guardian': No Brasil, condenação a mulher que rouba chocolate é maior do que por corrupção

Reportagem diz que sentença excede punições dadas aos culpados no caso Lava Jato

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Matéria publicada pelo The Guardian dia 25 de maio fala sobre a disparidade de sentenças de condenação a mulheres no Brasil. O texto destaca o caso de uma mulher que foi pega roubando um ovo de páscoa em São Paulo e deve cumprir três anos na cadeia, sendo que as mulheres envolvidas no esquema de corrupção chamado lava jato tem punições menores. 

A reportagem diz que mesmo para um país entorpecido pela injustiça e desigualdade, o Brasil ficou chocado com as revelações de que uma mãe pobre que roubou um ovo de Páscoa para seus filhos foi condenada a uma pena de prisão mais severa do que executivos e políticos que levaram milhões de dólares do poder público.

Guardian aponta que uma mulher - a quem se refere apenas pelo seu primeiro nome, Maria - foi condenada a três anos, dois meses e três dias de prisão por roubar um ovo de chocolate e um peito de frango de um supermercado em Matão, São Paulo em 2015, de acordo com a mídia local.

Ela foi mantida em detenção por cinco meses antes de seu julgamento, e então considerada culpada. Embora tenha sido temporariamente retida durante o seu apelo, um segundo juiz enviou-a à prisão grávida em Novembro de 2016. Desde então deu à luz - ao quarto filho - atrás das grades, e agora está amamentando seu filho em uma cela superlotada. Quando a criança completar seis meses, será retirada de seus cuidados, acrescenta o diário britânico.

O caso está longe de ser incomum, mas chamou a atenção do público e causou apelo por parte de uma procuradora de justiça que escreveu um artigo onde fazia comparações com as punições mais leves entregues aos condenados por crimes muito maiores no Lava Jato, que envolveu uma série de figuras importantes na política e nos negócios brasileiros.

A promotora, Maíra Cora Diniz, disse que a pena para Maria era "absurdamente" desproporcional ao crime, que não envolveu violência, danos ou distúrbios sociais. O defensor público também observou que a sentença também puniria o bebê, que seria arrancado de sua mãe em um momento em que ainda precisava amamentar.

Este caso também foi comentado por uma colunista de um jornal de São Paulo, que contrastou isso com as penas aplicadas aos condenados na investigação Lava Jato, que revelou uma vasta rede de subornos e propinas de contratos públicos, conclui The Guardian.

Pelo menos sete dos culpados de crimes - que defraudaram os contribuintes de centenas de milhões de dólares - receberam sentenças mais leves do que Maria por terem feito acordos com promotores ou seus advogados citam circunstâncias familiares ou de saúde atenuantes. Vários foram aliviados. Outros foram colocados sob prisão domiciliar, onde podem viver em luxo relativo.

Vários jornais e redes sociais falaram sobre este caso. Um post exigiu sarcasticamente aplausos para o sistema de justiça brasileiro porque "se você roubar milhões ou bilhões, quase nada lhe acontecerá".

"'Todos são iguais perante a lei'" é a maior mentira já contada no Brasil ", twittou outro.

> > The Guardian