ASSINE
search button

Para FHC, Brasil vive um momento de "anomia"

Ex-presidente defendeu que Temer reflita sobre sua condição de governar o país

Compartilhar

Em entrevista ao programa Canal Livre, da Band, na madrugada desta segunda-feira (22), o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso afirmou que o Brasil vive um "momento de anomia", destacando a urgência em se colocar "ordem na casa". 

"Há falta de sentido de organização e autoridade. Em toda a parte. De repente o Ministério Público autoriza que um empresário ponha um microfone para pegar um presidente da República. Não é uma coisa banal. Por outro lado você ouve as delações, algumas conversas são impublicáveis. Por outro lado tem um ministro que suspende um senador. Não estou julgando, mas estou dando elementos para dizer que está faltando ordem na casa", disse, citando a medida de Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF) contra o tucano Aécio Neves.

FHC afirmou que, se estivesse no lugar de Temer, "estaria considerando o futuro do Brasil e pensando bem: será que eu tenho condições de governar?". Para o ex-presidente, esta reflexão deve ser feita de forma rápida. "As coisas vão variar com muita velocidade, vão se mover com muita rapidez, eu acho. Sem julgar, mas em termos das condições do Brasil, estamos passando por um momento de... Vou falar em sociologuês, mas é simples... De anomia."

Para FHC, a situação de Temer é "embaraçosa". "Acho que o presidente Temer foi sincero quando ele falou", disse, citando os pronunciamentos. "Mas não explica tudo. Se ficar evidenciado que ele não tem defesa aceitável (...), aí ele tem obrigação moral de renunciar pra abrir espaço pra construir um futuro."

O ex-presidente afirmou ainda que, num primeiro momento, houve um movimento em direção à ruptura do PSDB com a gestão Temer. "O PSDB achou que tinha que desembarcar como se não tivesse nada com o governo. Ele (o partido) tem. Seria oportunismo sair correndo. O PSDB tem responsabilidade. Não cabia, a meu ver, dar uma punhalada nas costas do presidente naquele momento. Não estava nada claro", disse. 

Aécio Neves

Fernando Henrique elogiou a postura do senador Aécio Neves de deixar o comando do PSDB assim que as denúncias contra ele foram reveladas. "O que ele fez? Se afastou do partido. Ele mesmo tomou a decisão de que não dava mais. Até que prove, se é que consegue provar, sua inocência, acho que agiu, nessa etapa, como tinha que agir. Não esperou que outros tomassem a dianteira. Conheço bem e gosto do senador Aécio. Agora, os fatos são fatos, como tem uma gravação publicada ele ficou inviabilizado de permanecer na presidência do partido até poder esclarecer. Isso não absolve, mas era prática corrente. Foi essa prática que ninguém quer mais."

PT

Fernando Henrique afirmou que confia numa saída da crise e que é preciso “jogar junto”. “E eu vou incluir o PT nisso”.

"Sei que isso vai desagradar o pessoal do meu lado, mas você não vai eliminar, tirar da cena brasileira a existência de pessoas que pensam do jeito que o PT pensa. Não do que ele faz, no sistema de se manter no poder, mas falar em nome da igualdade. Isso é importante, você vai ter que incluir esse tipo de conversa. Você não vai falar só de mercado, eficiência, também é importante. Mas é o momento de dizermos, vamos juntos por esse caminho. E esse caminho implica em reconhecer as coisas que estão ocorrendo no mundo. (...) Temos que ser capazes de chegar num entendimento nós vamos sair do mapa do mundo (...). E tem que ter liderança, não sei sai desse atoleiro sem liderança."

"Eu acho que na situação que estamos não vamos sair se não houver conversa ao redor de uma agenda pública. Vai ser necessário que haja uma conversa pública de partido, mas também dos líderes sindicais, de movimento de terra, da igreja, temos que restabelecer confiança."