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Lula em primeiro e Bolsonaro em segundo aponta radicalização na política, diz especialista

Professor Paulo Baía falou sobre pesquisa do Datafolha e seus desdobramentos

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Mesmo com todas as denúncias que associam o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva às investigações da Operação Lava Jato, ele continua ampliando sua liderança nas pesquisas para a eleição à Presidência em 2018. É o que aponta a última pesquisa Datafolha divulgada neste domingo (30). O outro grande destaque da pesquisa é a ascensão de Jair Bolsonaro (PSC-RJ), que já aparece em segundo lugar na disputa.

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Segundo o professor do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da UFRJ, Paulo Baía, a presença dos dois políticos em destaque na pesquisa aponta para a radicalização do cenário político. Caso os dois políticos venham a disputar um eventual segundo turno nas eleições de 2018, "veríamos uma radicalização do debate, pois são dois extremos do espectro político”.

Para Paulo Baía, “a ascensão de Bolsonaro se dá pela crise ética na política nacional. As pessoas não se sentem representadas pelos nomes que são tradicionais na política. Vai além de diferenças ideológicas”, diz, acrescentando: “Apesar de já estar há tempos na política, Bolsonaro é um nome novo postulando um novo cargo, enquanto que os tucanos Aécio [Neves] e [Geraldo] Alckmin já passaram por um desgaste, como governadores e com as acusações. É um desgaste que afeta todos os nomes tradicionais”, complementou.

Paulo Baía também traçou o perfil do eleitor de Lula, que amplia a diferença na liderança. “O eleitorado dele não está situado apenas nas classes pobres. Mescla segmentos sociais, que não acreditam no envolvimento de Lula nos escândalos e ao mesmo tempo estão muito insatisfeito com o clima do governo Temer.”

Ele também reiterou que essa insatisfação explica o crescimento do próprio Bolsonaro. “Esse clima justifica não só uma saudade do Lula, como o crescimento do Bolsonaro.”

De acordo com o professor, o eleitorado do candidato do PSC “é composto pelos insatisfeitos, mas que não acreditam no Lula e enxergam no Bolsonaro uma perspectiva diferente do que ocorre agora. A força dele se dá com o esfacelamento ético do experimento de um governo progressista. O governo que veio a seguir tem uma nova pauta, mas agravou a crise ética,” explicou.

Para ele, num eventual segundo turno com Lula e Bolsonaro, “perderíamos a flexibilidade da discussão política”. Possíveis debates entre os dois seriam muito “difíceis”. “Tanto Lula quanto Bolsonaro são muito contundentes na hora de falar”, ressaltou.

Dória

Mas Paulo Baía reforçou as possibilidades de uma terceira força surgir nas próximas pesquisas. “Ainda temos de observar o desdobramento do [prefeito de São Paulo, João] Doria, que começou a aparecer nas pesquisas agora”, lembrou.

O posicionamento do professor em relação a uma possível candidatura do prefeito tucano de São Paulo se dá em um momento em que a pesquisa mostra um recuo na preferência do eleitorado dos favoritos a disputar a Presidência pelo PSDB. Tanto Aécio Neves quanto Geraldo Alckmin caíram na intenção de voto, assim como viram aumentar a rejeição por terem sido citados nas investigações da Lava Jato.

Mas Doria ainda não viu o benefício desse “vácuo” deixado pelos colegas tucanos, e quem vem subindo nas pesquisas aproveitando esse espaço é o próprio Bolsonaro.

Moro

Sobre o juiz federal Sergio Moro, que de acordo com a pesquisa do Datafolha venceria Lula em um virtual segundo turno, o professor foi sucinto e desconsiderou uma hipotética candidatura do juiz da Lava Jato. “Moro é muito querido pela população, mas não acredito que ele sairia da função que realiza, que o tornou popular.”

O professor também fez uma leitura sobre as expectativas para a eleição de 2018, para a qual ele apontou um cenário de “incerteza”. “Enxergo um cenário com uma população cada vez mais politizada e com um aumento muito grande da desesperança nos políticos. A sociedade está politizando sua desesperança”, concluiu.

* do projeto de estágio do JB