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Em crise financeira, Hospital São Paulo deixa 14 mil sem atendimento em abril

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Cerca de 14 mil pessoas deixaram de ser atendidas no pronto-socorro do Hospital São Paulo (HSP) – hospital-escola da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) – nos 17 primeiros dias de abril, segundo dados da instituição. Desde o início do mês estão sendo feitos apenas atendimentos de urgência e emergência. Em relação às cirurgias eletivas, que também foram suspensas, 461 pacientes não puderam se internar. A restrição de serviços foi feita em razão de uma crise financeira, informaram os gestores hospital em coletiva de imprensa quarta-feira (19).

“Foi uma atitude para minimizar os danos para os pacientes que já estão internados, que são doentes muito complexos”, justificou José Roberto Ferraro, diretor-superintendente do hospital. Segundo o gestor, o déficit anual acumulado é R$ 149 milhões, de uma dívida com bancos; e de R$ 11 milhões de dívidas com fornecedores. A receita total do hospital é de R$ 568,9 milhões e as despesas somam R$ 603,5 milhões. “Corremos o risco de diminuir os atendimentos ainda mais”.

O hospital reivindica, junto ao governo federal, o aumento da verba de contratualização anual no valor de R$ 18 milhões, o equivalente a R$ 1,5 milhão mensal. O acréscimo, segundo o hospital, permitiria a compra de insumos mais urgentes e o pagamento da dívida com os fornecedores, normalizando a entrega dos materiais. “Assim vamos ter mais fôlego para ajustar o que ainda há de déficit no orçamento”, explicou Ferraro. Ele informou que 90% dos atendimentos da instituição são pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

A reitora da Unifesp, Soraya Smaili, disse que pesquisas acadêmicas podem ser prejudicadas caso o hospital venha a diminuir ainda mais os serviços, pois depende dos procedimentos para que as análises sejam feitas. “Vocês viram recentemente os estudos de diagnóstico do Zika, o mapeamento das degenerações produzidas pelo vírus, a linha de atendimento em cardiologia que diminuiu a mortalidade depois de muita pesquisa”, exemplificou. A média de internações é de 2 mil por mês, segundo dados de 2016, com um total de mais de 376 mil atendimentos no pronto-socorro.

Entre as razões citadas pelo hospital para a crise, estão o aumento dos custos com pessoal; a inflação acumulada nos últimos anos; a demanda crescente no pronto-socorro; a falta de reajuste nos contratos do SUS e endividamento bancário devido aos empréstimos para suprir os déficits.

Governos

O Ministério da Saúde informou, em nota, que houve uma reunião no início de abril sobre o tema e que foi solicitado aos gestores da unidade informações sobre a situação financeira e a quantidade de atendimentos realizados. O ministério disse ainda que, a partir dos dados apresentados, serão analisadas soluções conjuntas com as secretarias de Saúde do estado e do município.

Ainda de acordo com órgão, atualmente, o governo federal responde por cerca de 90% da receita do Hospital São Paulo. “Segundo informações da própria unidade, a receita anual é mais de R$ 568 milhões, incluindo folha de pagamento. Esse valor equivale a 40% do total de recursos que é repassado para média e alta complexidade para a cidade de São Paulo”, informou o texto.

O ministério informou também que os repasses para o estado de São Paulo, que faz a transferência ao hospital, têm sido feitos regularmente. “A pasta destina anualmente R$ 8,6 bilhões em recursos por meio do Teto de Média e Alta Complexidade para serviços de urgências e emergências, incluindo cirurgias eletivas. Além deste valor, em 2016, o estado recebeu um acréscimo de R$ 246 milhões”.

A Secretaria Estadual de Saúde informou, em nota, que o Hospital São Paulo é um serviço da rede federal e que, mesmo assim, a pasta auxilia o hospital de forma voluntária. “Desde 2015 a secretaria já repassou à unidade mais de R$ 200 milhões e até o final deste ano ainda serão repassados cerca de R$ 40 milhões”, diz a nota. A secretaria informou também que está buscando auxílio junto ao governo federal para aumentar o valor dos repasses para o Fundo Estadual de Saúde que são destinados ao hospital-escola.