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Delator da Schahin diz que diretor da WTorre pediu R$ 18 mi para deixar licitação da Petrobras

Edison Coutinho firmou acordo de delação premiada na Operação Lava Jato

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O mais novo delator da empreiteira Schahin na Operação Lava Jato, o engenheiro Edison Coutinho, declarou durante delação à Procuradoria da República, que o sócio da empreiteira WTorre, Paulo Remy Gillet Neto pediu R$ 18 milhões para tirar a empresa da licitação que concorria com a Schahin nas obras do Centro de Pesquisas e Desenvolvimento Leopoldo Américo Miguez de Mello (Cenpes), no Rio de Janeiro.

O negócio foi assinado em 2008 e após sucessivos aditivos contratuais teve um custo estimado em R$ 1 bilhão. O contrato iniciou previa um gasto de R$ 850 milhões. Durante a reforma os executivos da estatal e das empreitas Carioca Engenharia, Shahin, OAS, Construcap e Construbase foram acusados por corrupção e lavagem de dinheiro, e respondem a uma ação penal na Operação Lava Jato.

Durante depoimento, Coutinho disse ter sido contratado pela Schahin em 2005. Seu acordo foi homologado em 8 de fevereiro. No contrato, o engenheiro terá que pagar multa de R$ 500 mil, em quatro parcelas de, no mínimo R$ 125 mil, sendo a primeira com vencimento para 30 dias após a homologação do acordo. De acordo com Edison Coutinho, seu trabalho consistia em fazer o cadastro da empreita junto à Petrobras, para que a Schahin fizesse parte dos processos de licitação da estatal.

Em trecho da delação, Coutinho afirma ter participado de diversas reuniões. No início, esses encontros aconteciam na sede de um dos Sindicatos, na região central do Rio de Janeiro, depois de um tempo, as reuniões também aconteceram nos escritórios da OAS em São Paulo e no Rio. E explica quais eram os temas debatidos nos encontros: “O objetivo dessas reuniões era especificamente a organização do mercado para a divisão das seguintes obras de edificações na construção civil da Petrobrás: Centro de Pesquisas e Desenvolvimento Leopoldo Américo Miguez de Mello (Cenpes), Centro Integrado de Processamento de Dados (CIPD) e sedes em Vitória/ES e Santos/SP.”

Além de explicar quais temas eram discutidos, Edison Coutinho contou também que representantes de outras empreiteiras também participavam dessas reuniões : “Em uma das reuniões, pelo que se recorda na sede da OAS no Rio de Janeiro, o colaborador lembra de ter sido expressamente afirmado por Agenor Franklin Magalhães Medeiros (OAS) que a proposta que apresentariam seria a vencedora; que, no entanto, quando da abertura das propostas comerciais para a obra do Cenpes, o consórcio foi surpreendido com uma proposta apresentada pela empresa W.Torre cerca de R$ 40 milhões inferiores àquela apresentada pelo Consórcio Novo Cenpes”.

Ainda segundo a delação do engenheiro, o consórcio teria achado as negociações iniciais sem sucesso e estavam ‘dando a obra por perdida’. Porém, uma nova reunião, dias depois, chegou-se a um consenso ‘de que dificilmente a W.Torre teria condições de cumprir o contrato e discutia-se de que forma o Consórcio poderia reverter o resultado da concorrência’.

Coutinho disse que após a reunião foi conversas com o empreiteiro Ricardo Pessoa, da UTC, e durante conversa soube que teria sido escolhido para conversar com Walter Torre, dono da empreiteira WTorre, apesar de a OAS ser a líder do consórcio. E que a questão do Cenpes estava gerando um incômodo dentro da Petrobras. Coutinho teria sido indicado a falar com Carlos Eduardo Veiga, o Dadado, representante do Walter Torre junto à Petrobrás.

Nessa conversa, os integrantes chegaram à conclusão de que, para retirar a WTorre seria necessário realizar um pagamento indevido, inicialmente combinado no valor de R$ 20 milhões, e coube a Coutinho a tarefa de negociar o reajuste para que a WTorre saísse da concorrência, deixando assim o consórcio Cenpes como vencedor da licitação.

“Chegando ao escritório da W.Torre, Carlos Eduardo Veiga, o ‘Dadado’, pediu que o colaborador aguardasse um pouco, pois iria se reunir com pessoa de nome Paulo Remy Gillet Neto, a quem o colaborador até então não conhecia; que cerca de 30 minutos depois, o colaborador foi chamado a uma sala em que estavam Carlos Eduardo Veiga, o ‘Dadado’, e Paulo Remy Gillet Neto”, disse em trecho do depoimento.

“Em seguida, Carlos Eduardo Veiga deixou a sala e ficaram apenas Paulo Remy Gillet Neto e o colaborador; que, nessa reunião, Paulo Remy Gillet Neto disse ao colaborador que era sócio da W.Torre e que a empresa poderia informar à Petrobrás que não teria condições de realizar a obra, desde que, em contrapartida, o consórcio pagasse R$ 18 milhões.”, continuou.

“Como Paulo Remy Gillet Neto insistia no valor de R$ 18 milhões, o colaborador disse que o consórcio aceitaria, desde que a W.Torre, em contrapartida, desistisse também de concorrer no certame do CIPD, apresentando uma proposta de cobertura, o que de fato se concretizou posteriormente”, disse. “Agenor Franklin Magalhães Medeiros, como líder do consórcio, encarregou-se das providências do quanto havia sido acordado.” Encerrou o engenheiro.

Por sua vez, através de nota emitida pela assessoria da empreiteira, a WTorre informou que não iria comentar o caso. 

Confira a nota divulgada pela empresa.

“A WTorre esclarece que não teve participação na obra de expansão do Centro de Pesquisas da Petrobras; que não recebeu ou pagou a agente público ou privado nenhum valor referente a esta ou a qualquer outra obra pública.

O fundador da companhia, Walter Torre Júnior, já prestou depoimento e os devidos esclarecimentos sobre o suposto recebimento de valores para abandonar a licitação de expansão do Centro de Pesquisas e Desenvolvimento da Petrobras e nega, veementemente, que ele, a companhia ou algum de seus colaboradores tenha se beneficiado de pagamento indevido referente a esta ou qualquer outra obra.

Cabe esclarecer também que e que Carlos Eduardo Veiga nunca teve mandato para representar a companhia ou falar em nome de Walter Torre Jr.”